Rotina

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Pela manhã acordou sem conseguir raciocinar, produzia movimentos automatizados, como memória muscular. Acordar, levantar, tomar, sair. Sentiu-se quase um macaco, isso se esses primatas não fossem tão evoluídos e inteligentes assim, infelizmente são e, por isso, resolveu desistir de tal comparação.

Tentou comparar seu martírio matutino em algo então fantasioso; um zumbi! Zumbis são criaturas imaginárias, andam por aí sem ter nada para fazer, comem quando, o que e quem querem... Pensando bem, zumbis também são muito inteligentes, e ele não ia se atrever a comparar sua pequena batalha diária com um ser tão livre e tão dotado de atributos.

O caminho para o trabalho era penoso. Sempre é! Condução já lotada às 5h45 da manhã, às 6h10 já dentro do metrô, observa o tal, cheio de pessoas desconhecidas, pálidas, sonolentas, exatamente como ele.

O cronograma é sempre o mesmo: acordar assustado com o despertador, levantar e tomar um banho rápido e um café da manhã apressado - preto e com duas bolachas - sair correndo para não perder a condução, enfrentar uma hora e meia de metrô, tudo para chegar às 08h00 em ponto no serviço e ficar encaixotado em um pequeno escritório de uma repartição. Hoje, porém chegaria atrasado, o metrô ficou parado 15 minutos entre as estações Santa Cruz e Vila Mariana, pensou que fosse algo sério, trágico, mas não, foi só mais alguém que se jogou no trilho, o segundo essa semana, caiu, morreu.



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