Cotidiano no interior

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O pequeno homenzinho de aproximadamente 7 anos, brincava no fundo do quintal, matando formigas queimadas com as lentes dos óculos fundo de garrafa
do avô. Essa era uma brincadeira comum às crianças do interior, que vivem numa época aquém dos jogos e brinquedos eletrônicos. Não fazia aquilo por maldade, nem tampouco malcriação, aquela era só mais uma brincadeira inocente para as crianças daquela idade e região.

O calor era algo quase insuportável, por isso, estava sem camisa; usava uma pequena bermuda suja de barro e chinelos de dedo que já estavam amarrados com um prego por ter arrebatado. Suava, mas nem se importava, estava acostumado com aquela vida, era a única que ele, ou qualquer outro morador da região conhecia.

A vida ali era simples, típica de lugares como aquele, poucos recursos, pouca coisa para passar o tempo, por isso todos se conheciam no pequeno vilarejo com pouco
mais de 200 habitantes. Os pais, tios, avós, vizinhos, todos que ele conhecia trabalhavam nas mesmas coisas. A maioria tinha suaprópria horta, seus próprios porcos e galinhas, para consumo próprio, mas a pesca era sem dúvida a maior fonte de renda da região.

Era quase meio dia, hora em que o pai e os irmãos costumavam voltar da pesca, na pequena voadeira* da família. O garoto, que brincava no giral, ouviu um barulho alto, um grito quase de terror, rumores de desespero, viu sua mãe correndo em direção ao rio, viu seu pai e seus três irmãos vindo ao encontro de sua mãe, todos chorando, e viu sua irmã no colo do pai, desmaiada, banhada em sangue, tinha sido escalpelada pelo eixo do motor do barco do pai.

* * *

*Voadeira: Embarcação longa e estreita, que possui motor, tipicamente usada em regiões ribeirinhas.

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