Não me deixe ir

6 anos outra vez?

Sebastian Hastings era o dono da voz rouca e firme na qual se alterava com a minha persistência.

- Hastings...- digo me reerguendo e vendo que o mesmo estava mais surpreso quanto eu.

- Carson.- ele diz e abre um meio sorriso surpreso.

- Me desculpe...- digo firmando meus olhos para entender a confusão em seu rosto.

- Está tudo bem. Até mais.- Sebastian diz e sai sem ao menos esperar minha resposta ou algo do tipo.

Fico parada por alguns segundos perto de um beco do qual Sebastian saíra sem entender o que acabara de acontecer, fixo meus olhos no chão e algo branco havia sujado o meio fio, provavelmente do saquinho, olho para dentro daquela pequena rua escura e me deparo com dois caras, ambos olhavam para os lados, um entregou algo e outro pareceu lhe retribuir, e claro que eu sabia o que era, aquilo nas mãos de Hastings eram drogas.
Volto por onde vim na vontade de sumir daquele lugar.
Enquanto volto para casa, meus pensamentos vão até Sebastian, será que realmente eram drogas? Ou talvez eu estivesse ligando os pontos errados? Ah! a quem eu quero enganar, sua expressão de surpresa ao me ver não eram por conta da minha beleza, mas por que? Ele sempre tivera tudo...
O ponteiro do relógio marcava exatas nove horas da noite assim que cheguei em casa. Subi para meu quarto na intenção de tentar fazer a lição de amanhã, coloco algo pra ouvir enquanto resolvo esse monstro de número.
Meu quarto recebe uma nova iluminação fraca quando o vizinho ao lado acende sua luz, giro a cadeira até a janela e abro uma fresta da cortina pra que eu possa ver quem é, e mais uma vez apenas suas costas são visíveis, ele anda de um lado para o outro, parece nervoso, pelo visto é com alguém na outra linha, a pessoa então arremessa o celular na cama e se senta na mesma, agora sim consigo o ver por todo. "Vira, vira, vira", eu pensava comigo mesmo, o tal vizinho parece tão tenso quanto eu numa apresentação de trabalho, ele passa suas mãos várias e várias vezes pelo cabelo e é só então que ele se vira um pouco, aquela tatuagem, aquela grande, negra e perfeita na lateral de seu pescoço, ele então olha em direção a minha janela, provavelmente sabendo que estava sendo observado, fecho a fresta com tudo e me encosto na lateral da cortina, meu coração parece querer sair do peito. Sebastian Hastings é o vizinho da casa ao lado. Ouço apenas o barulho de suas cortinas se fechando com força. Tento voltar aos livros e exercícios, eu juro que tento não criar paranóias sobre Sebastian, mas parece impossível. Desisto então dos livros e me jogo na cama, enquanto Ansel Elgort toca na playlist do meu celular, eu imagino quem seja o tão famoso Sebastian Hastings, por que as drogas? O nervosismo? Entre nós, Sebastian parecia ser alguém tão leve, mas vendo ele nessa noite, seu semblante era de alguém cansado, mas cansado do que?

***

Arremesso meu braço em direção ao despertador fazendo cair e desligar, viro-me novamente para dar mais uma cochilada de 5 minutos, mas então olho para o meu celular e eu já estava bem atrasada, dou um pulo da cama e vou para o banheiro, saio vestindo a calça, pego a mochila e o celular e desço correndo, meus pais estão sentados na mesa tomando café, eles murmuram um 'bom dia', apenas sorrio e pego uma maçã.

- Não vai tomar café, querida?- minha mãe diz tirando o jornal de sua frente.

- Super atrasada, mãe!- digo e deposito um beijo no topo de sua cabeça.

Saio em disparada e jogo tudo no carro, adentro o mesmo e voo em direção ao colégio, ao chegar estaciono e vejo Judd e Callie encostado em seus carros conversando, Callie acena para mim e eu caminho até eles sem pressa. Como sempre, Callie me recebe com o sorriso no rosto e a alegria plena sete horas da manhã, Judd apenas se joga em cima de mim quando eu encosto em seu carro, Callie começa a falar euforica sobre como foi o domingo dela e Judd começa a irrita-lá, do outro lado da rua, vejo Jonathan e os garotos do Blackbirds, a alguns metros Sebastian caminha em direção à eles, assim que cumprimenta Jonathan, ele percebe que está sendo observado novamente por alguém, como noite passada, ele então se vira para encostar no carro e apenas me encara de volta, eu sinto a pele do meu rosto queimar e uma onda de eletricidade subir sobre minhas mãos, era inacreditável como Sebastian conseguia ser lindo até de manhã, seu cabelo estava meio bagunçado, mas isso não o tornava feio, seu olhar sobre mim era como de repreensão, ele provavelmente estava com medo que abrisse minha boca sobre a noite de ontem, e talvez aquele olhar no qual dizia "acho bom a mocinha ficar quietinha" era pra me intimidar.
Sou tirada daquela situação constrangedora por Callie me puxando.

- Você não vem? A primeira aula é de Matemática.- ela diz e olha na direção na qual eu olhava encarando Sebastian junto à mim.

- Sim, vamos.- tento disfarçar desviando meu olhar. Callie joga seus braços pelo meus ombros e sai tagarelando do estacionamento enquanto me empurrava para dentro.

Às três primeiras aulas foram mais chatas do que se possa imaginar, o sinal do intervalo toca tinindo, como se fosse dentro do meu ouvido, eu e Callie saímos ao encontro de Judd no refeitório, ele estava numa mesa, no canto daquele enorme lugar.

- Meninas!- ele exclama e abre os braços.

- Judd.- falamos em uníssono.

- É o seguinte, filme às 16h lá em casa!- ele diz enquanto morde uma maçã.

- Stevie vai estar?- Callie pergunta e ele afirma com a cabeça.- É a sua chance de conquistar aquele boy, Melly!- ela diz enquanto toma seu toddy.

- Vocês são bem engraçados hein...- eles riem.

Algo me incomoda, não sei o que é, mas é como se meu corpo pegasse fogo, eu olho por todo o refeitório e meus olhos são obrigados a parar quando vejo Sebastian me encarando do outro lado daquele refeitório, ele estava junto com os Blackbirds, aliás ele era um deles. Todos conversavam eufóricos, enquanto Sebastian estava sentado despojadamente e sério, se seus olhos fossem uma arma, eu estaria morta, o olhar dele é tão penetrante que meu corpo parece receber uma carga elétrica imensa, ele batuca os dedos na mesa enquanto brinca de quem olha mais e então Jonathan toca em seu ombro e ele é obrigado a desviar o olhar.

- O que acontece?- Callie diz baixo me tirando daquele transe.