Machucados psicológicos.

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Sebastian

Acordo na minha cama, levanto assustado ao pensar como cheguei ali. Me lembro de algumas coisa de ontem à noite, mas nada que me faça entender como cheguei até minha casa. Levanto e procuro meu celular, estava em cima da estante. Olho minhas últimas chamadas e vejo Mellory em primeiro. Mas eu não liguei pra ela ontem, penso. Ou será que liguei?. Corro pro quarto e tento encontrar algo que faça eu entender como cheguei em casa sem sofrer algum acidente.

***

Mellory

Acordo e vejo movimento no quarto de Sebastian, ele bagunçava suas roupas e procurava algo. Eu estava tão irritada com ele. Me arrumo e vejo se meus pais já haviam ido trabalhar. Abro a porta e ando em direção a casa de Sebatian. Toco a campainha e ele demora um pouco até abrir. Sua aparência era de quem teve um grande porri. Eu entrei na casa antes mesmo de ser convidade.

- Bom dia pra você também.- ele debocha fechando a porta. Eu o encarava com raiva.- O que foi?- ele diz irritado.

- Você. É. Um. Cretino.- digo batendo nele.

- Ah, só descobriu agora?- ele diz tentando me segurar.- Para, Carson!- ele grita.

- Você jurou!- eu grito.

- Me desculpa.- ele abaixa a cabeça.

- Você podia ter morrido de overdose!- coloco a mão na cabeça.

- Mas não morri.- conclui.

- O que se passa nessa sua cabeça? Sério? Por que continua usando essa merda?- o encaro.

- Você não entenderia.- ele ri e balança a cabeça negativamente.

- Tenta.- eu levanto o braço como se desse chance à ele.- Vai! Tenta!- digo quando percebo que ele só me encara.

- Tá…- ele solta a respiração.- Eu a vejo quando uso.- ele desabafa.

- Clarissa?- pergunto.

- É. Eu consigo vê-la, até ouvir.- ele diz como se fosse algo normal do dia-a-dia.

- Sebastian, não é ela.- aproximo-me.

- Eu sei que não.- ele se vira de costa passando a mão pelo cabelo.- mas se isso é o mais perto que posso chegar dela, eu preciso continuar.

- Não!- exclamo.- Claro que não!- seguro seus braços.- isso te mata, Sebastian. Ela não vai voltar, não adianta usar drogas ou beber até ficar de porri.- o encaro.- Ela se foi e você precisa seguir em frente.

- Não é fácil assim, Mellory.- ele me encara com aqueles olhos esverdeados mais brilhantes que o normal.- não é a sua mãe que morreu.- ele se solta.

- É, Sebastsian. Tem razão, não é. Mas se matar adianta?- encaro.

- Não to me matando.

- Não!- debocho.- Está o que? Brincando de Oija com as drogas?

- Não seja tão ridícula, Mellory.- ele diz com raiva.

- Ridícula? Você quem se droga que nem um louco pra ver sua mãe morta e eu quem sou a ridícula.- dou risada.

- Cala a boca!- ele diz.

- Não, Sebastian. Não calo. Quer saber, espero que morra, que morra de overdose, uma forma linda de lembrarmos de você.- digo irritada.- "olha filho, esse é o amigo do papai, ele se matou usando drogas."- engrosso a voz.- é assim que Jonathan vai falar de você quando tiver filhos, ou melhor…

- Para…

- Vou dizer pros meus filhos que encontrei meu vizinho morto no chão do quarto, ou…

- Chega…

- Presenciei a morte de uma pessoa importante e fiquei calada deixando ele se drogar até espumar pela boca igual um adolescente doente e babaca que não sabe lidar com as bostas de suas emoções…

- CALA A MERDA DESSA SUA BOCA, CARSON.- ele grita e me empurra contra a parede apertando meus braços.

Ele me encara com ódio e esmaga meus braços. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu me assusto com sua reação.

- Sebastian.- sussurro entre as lágrimas.

- O que?- ele grita.

- Você… tá me… machucando.- digo soltando o ar.

Ele me solta e eu deixo com que as lágrimas caíam enquanto olho a marca de sua mão vermelha em meus braços. Seus olhos estão arregalados e sua boca está aberta como se estivesse visto um fantasma.

- Mellory, e-eu…- ele tenta dizer algo.

- Eu preciso ir.- digo indo até a porta.

- Melly, não…- ele segura meu braço, mas logo solta quando me viro assustada de novo.- Desculpa, eu não…

- Tchau, Sebastian.- digo e saio andando.

Entro em casa aos prantos. Subo pro meu quarto e repasso a cena várias e várias vezes, minha costela dói com o choque contra a parede, e, as marcas das mãos de Sebastian provavelmente ficarão roxas. Me olho no espelho. O que está acontecendo? No começo do ano, eu só era um zero a esquerda vivendo minha vida e agora eu saio escondida de casa, volto tarde, levo broncas, durmo em bancos de hospitais e praticamente vivo pra Sebastian, e o pior é, a culpa não é dele, é minha, eu me deixei ir, eu que fico preocupada com as drogas, com as bebidas, com como ele está ou o que ele pensa, eu não posso viver assim, ele é meu pensamento noite e dia.
Seco as lágrimas e procuro um casaco antes que meus pais cheguem pra almoçar e vejam meu braço. Olho pelo vão da cortina, vejo Sebastian surtando em seu quarto, ele parece derrubar tudo que vê pela frente, até seus olhos pararem em mim e eu reparar que eles estavam cheios de lágrimas. Sebastiam chorava. Fecho a cortina e me deixo levar pelo choro, deito na cama e fecho os olhos tentando fazer a dor passar, não a dor da costela, ou dos braços, mas a dor de não saber o que fazer.
Ouço a porta abrir e me recomponho. Está na hora de botar a máscara de felicidade, Melly, penso.

Não me deixe irOnde histórias criam vida. Descubra agora