Trinta minutos se tinham passado desde o começo da exanimação feita pela doutora Jamelia. Esta finalizou com o seu sorriso acolhedor e garantiu-me que todos os meus sinais vitais estavam em ordem. James acabou por chamar Clara que apareceu poucos minutos depois com a minha Monstrinha. O entusiasmo em me ver era visível nos olhos de ambas e nos abraços calorosos que me deram. Enquanto Clara, mesmo com a garantia da Doutora, demonstrava a sua preocupação com o meu estado, Charlotte limitava-se a manter-me informada das maravilhosas férias que teve em Londres. E todas as suas aventuras me fizeram perceber que eu tinha, de facto, perdido dois meses da minha vida, deitada numa maca, a reviver o mesmo pesadelo vezes sem conta. As possíveis consequências dos meus atos, atingiam-me pouco a pouco. O que tinha acontecido no tempo que estive fora?
James já tinha deixado o hospital há algum tempo. Ele achava que estava a interromper o momento de família que estava a ter com Clara e Charlotte, mas prometeu voltar no dia seguinte para ver como eu estava. Ryan acaba por aparecer passadas algumas horas. Parece que ele estava incontactável quando Clara o tentou avisar do meu retorno. Não posso explicar por palavras o que senti quando vi os seus olhos azuis-esverdeados reluzirem sobre a minha figura. Ele rapidamente corre na minha direção, envolvendo todo o meu corpo com os seus braços longos e depositando beijos sobre todo o meu rosto, terminando nos meus lábios. Os lábios que James tinha previamente tocado. E nesse mesmo instante eu senti-me suja, impura, indigna do amor de Ryan. Apesar da escolha não ter sido propriamente minha, os pensamentos impuros foram. A voz de Ryan traz-me de volta à realidade.
- Meu amor, eu não acredito que acordaste! Eu senti tantas saudades tuas! Como te sentes? Tens alguma dor? Precisas de alguma coisa? - ele bombardeia pergunta atrás de pergunta enquanto me sufocava com os seus braços apertados em volta da minha caixa torácica.
- Ryan, por muito que ame ter-te nos meus braços, estás a sufocar-me. - falo com certa dificuldade em respirar, sendo libertada de imediato. Gargalhei com o seu embaraço marcados nas suas maçãs do rosto avermelhadas. - Eu estou bem agora. Eu sabia que estavas ocupado no momento e não tem problema. O que interessa é que estás aqui! - finalizo com um pequeno beijo sereno depositado nos seus lábios. As suas mãos quentes acolheram as minhas maçãs do rosto. Entre suspiros de alívio, Ryan profere um "eu amo-te", recebendo a minha resposta de volta.
Por momentos, saboreamos a eletricidade transmitida entre os nossos corpos, juntamente com o silêncio que reinava no quarto. Clara e Charlotte tinham ido agarrar algo para comer, dando-nos a privacidade que precisávamos. E depois de todos os momentos de ternura, Ryan informou-me de tudo o que eu perdi em tempo de coma. Parece que o acidente não foi grave para o condutor do camião que eu fui contra. Contudo, o camião necessitou de reparos que ficaram por cinco mil libras. Eu sendo a culpada do acidente (e o seguro não querendo assumir os cargos) tenho a obrigação de pagar os prejuízos. E devido à minha condução descuidada, o juiz decidiu suspender a minha carta de condução por 12 meses. Mas Ryan, sendo o bom advogado que é (dotes que requiriu de seu pai, Jonathan), conseguiu reduzir a suspensão para 8 meses. Não me posso queixar, eu mereci e sabia o que me esperava.
- Parece que agora terás que me deixar no trabalho todos os dias durante 8 meses. - murmurei, sorrindo. Obtive uma gargalhada por parte de Ryan.
- Realmente, será uma chatice ter dez minutos extra com a mulher da minha vida pelas manhãs. - Ryan diz, com o seu tom sarcástico. Ambos gargalhámos dos nossos disparates.
A tarde foi bem passada. Ryan teve que voltar para o escritório pois tinha uma reunião com um dos seus clientes. Por isso tive a oportunidade de conversar um pouco mais com Clara e Charlotte.
- Como vão as coisas na escola? - questiono Charlotte.
As expressões faciais de Charlotte rapidamente mudaram a sua trajetória. As suas maçãs do rosto, anteriormente rosadas, perdem a sua cor após a minha questão pairar no ar. Os seus olhos brilhantes, congelam num tom cinza e os seus músculos faciais ficam tensos. Pude concluir que o assunto a incomodava através da minha pequena análise.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Suites&Ties[EM PAUSA]
RomanceMary Anna é uma rapariga de 19 anos que perdeu o seu pai recentemente e foi abandonada pela mãe alguns anos atrás. Ficou completamente sozinha a sustentar a casa e a irmã. O que Mary não sabe, é que a sua vida irá mudar drasticamente apenas conhece...