Espera

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O grupo aguardava Caluto finalmente trazer a notícia de que estavam liberados para partir.

Lúcia sem poder levantar ainda, relia o bilhete buscando alguma pista sobre o novo destino, estava curiosa sobre o povo de Luthiron, mas assim como o de Niedra e o de Venília, o bilhete de Alvarin era igualmente um mistério.

Luthiron se aproximou com os olhos fixos no papel e Lúcia sentiu o rosto afoguear por ser flagrada em seu auge de curiosidade.

Preparou uma boa desculpa, se ele perguntasse o que ela estava procurando, alegaria que estava buscando pistas do que precisaria fazer, o que era mentira já que na verdade ela tentava encontrar qualquer informação sobre a raça de seu amigo.

Ele ficou em silêncio a olhando por um momento, estava se divertindo ao vê-la sem graça. Lúcia apertou os lábios e esperou, mas ele continuou calado e ela guardou o bilhete no bolso, agradecida por ele poupá-la dessa vez.

No entanto sentiu uma ligeira decepção, ela queria uma desculpa para comentar sobre o novo destino, também queria fazer perguntas sobre o povo de Luthiron e ainda aproveitar o momento para finalmente elaborar planos e rotas para quando partissem.

Desde que saíram da cabana e receberam o primeiro bilhete, foi assim, sempre quando um novo destino era determinado pelo Oráculo todos elaboravam planos e falavam do assunto, mas dessa vez parecia que todos estavam mais preocupados com a reclusão imposta pelas fadas de Venília do que com o planejamento para a viagem.

Pensar nisso, na falta de uma data certa para partir fez com que Lúcia expirasse o ar com desânimo e focasse na entrada da caverna, realmente Caluto estava demorando, e ela tinha que concordar com o que Ádino tinha comentado pouco antes quando estavam debatendo sobre isso, que essa demora só queria dizer uma coisa, eles teriam que amargar uma espera incerta.

— Daqui a pouco ela está por aí. — Luthiron falou como se adivinhasse todos os pensamentos de Lúcia.

Ela olhou para ele e torceu a boca. — Tomara que sim, mas estou ansiosa, quero ver o itinerário, saber os planos Luthiron. É horrível essa inércia.

— Então acho que a hora chegou. — Luthiron indicou a porta com o olhar.

Lúcia voltou os olhos para a entrada da caverna e ficou aliviada ao ver Caluto se aproximando, ela segurava um rolo de papel e assim que chegou na entrada da caverna olhou para todos com expectativa como se estivesse indecisa sobre o que fazer.

Foi automático todos irem ao seu encontro. Mas Lúcia não podia levantar, ainda estava enfraquecida e Luthiron deitou atrás dela.

— Vamos, menina, se apoie em mim. Pare de olhar ansiosa para eles. Pode apostar que eles virão até aqui para incluí-la na conversa.

Lúcia assentiu e obedientemente deitou na barriga de Luthiron. Ele tinha acabado de se banhar e seus pelos estavam sedosos do jeito que ela gostava. Acabou se dando conta que logo, assim como Jahil e Caluto ele estaria liberto, que voltaria a sua antiga forma e ela não sentiria mais a textura de seu pelo, ele deixaria a forma animal.

— Você está sorrindo. — Luthiron a avaliou com desconfiança e divertimento. — Está com os olhos parados como se sentisse saudade de algo.

Lúcia olhou para ele, incerta se falava o que estava pensando. Encontrou os olhos azuis leitosos e expressivos. Olhos que diziam mais do que qualquer coisa.

Refletiu sobre esse olhar. Essa seria a única parte do corpo de Luthiron que não mudaria. E ela ficou contente em pelo menos saber como eram seus olhos na forma antiga.

Crônicas Helenísticas. AlvarinOnde histórias criam vida. Descubra agora