Com o coração acelerado de ansiedade Lúcia ameaçou levantar para ir até Luthiron, mas ele piscou nervosamente e antes que ela pudesse fazer qualquer coisa ele partiu a galope e sumiu na escuridão.
Lúcia sentiu tristeza por vê-lo fugir dessa maneira, fosse o que fosse que o estava deixando angustiado era grave, ela sentia que era grave.
— Não fique assim, menina. — Ádino descansou a imensa palma em seu ombro. — Ele está em conflito, e está quase desesperado, não o julgue, tente entendê-lo. Esse é um momento delicado, ele precisa de sua compreensão.
Lúcia sorriu fracamente, se sentiu culpada por mostrar tanta ansiedade sobre o que Luthiron estava escondendo, mas Ádino tinha razão, ela ia agir naturalmente. Não podia ficar mostrando a Luthiron que estava curiosa, tinha que dar tempo a ele e entender que se para ela estava difícil vê-lo daquela forma, então para ele que não conseguia esconder sua angústia estava sendo muito pior.
Deitou ao lado de Ádino e fechou os olhos. Por um bom tempo ficou ouvindo a canção que Varmo tocava, seu sono foi embalado por música e pela imagem do olhar triste de Luthiron.
***
A lua mal tinha ido embora e todos estavam acordados e mesmo sem falarem sobre a viagem começaram a arrumar o resto das coisas sem emendar qualquer conversa, estavam desesperançados de que realmente o dia de partir tinha chegado e isso era claro no semblante de cada um.
Pouco tempo depois comiam em volta da fogueira olhando ansiosos para a entrada da caverna esperando Caluto aparecer.
Os resmungos estavam começando quando uma hora tinha passado e nada de notícias. Linade e Balmac já estavam trocando suas farpas sobre a caçada do dia anterior. Nenhum dos dois admitia que estavam desanimados demais até para tentar caçar algo melhor do que alguns magros roedores.
Jahil penteava a barba com a espinha de um dos peixes que eles tinham comido no café da manhã.
— Vai ficar cheirando peixe. — Observou Balmac que tinha se afastado de Linade e deitou ao lado deles de maneira emburrada perto da fogueira.
Jahil continuou seu movimento constante o encarando com os olhos afiados. — Pois é, e você está cheirando a cachorro quando se mija de medo. Sempre se urina todo quando confronta Linade.
Jiron e Ádino começaram a tossir para disfarçar a risada, Linade fingiu que não ouviu e Luthiron e Lúcia riram baixinho.
Balmac manifestou sua indignação — Vou te mostrar quem é o cachorro!
Apesar da ameaça ele não fez menção de levantar, mas ficou ainda mais enfezado rosnando enquanto olhava feio para Jahil que riu ainda mais largamente por vê-lo sem resposta.
Mas mesmo com um momento ou outro de descontração, o desânimo de todos já era visível e logo até o lobo se aquietou e como ninguém se deu ao trabalho de alimentar a conversa o silêncio imperou por algum tempo.
Lúcia estranhou o comportamento de todos, em uma conversa muda eles passaram a trocar olhares e fazer gestos como se tivessem decidido qual deles começaria, logo, como se a decisão silenciosa tivesse sido tomada eles apontaram para o grande Ogro.
Ádino fungou para eles não ficando contente em ser o escolhido e depois de se espreguiçar e enrola uma boa quantia ele se aproximou de Luthiron de maneira cautelosa. — Será que vamos conseguir chegar sem problemas a Alvarin, meu amigo?
Ninguém ainda tinha arriscado perguntar sobre isso, mas Luthiron que estava com um humor melhor do que a noite anterior pareceu mais que disposto a responder. — Bom, não temos muito o que fazer senão traçar a nossa rota.
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Crônicas Helenísticas. Alvarin
FantasyDesde que partiu da cabana Lúcia sofreu todo tipo de provação, dor e angústia. Mas libertar Luthiron não será como imaginou, aliás ela não imaginava que quando fez aquela promessa de que não importa o que acontecesse, daria tudo de si para libertar...