A imperatriz das fadas

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Assim que passaram pela parte da floresta onde podia transitar livremente, encontraram um tipo diferente de árvores, os troncos mais robustos e os galhos entrelaçados um no outro formando uma barreira natural. Pareciam realmente árvores hostis. A floresta parecia querer expulsá-los. Ádino olhou de torto para Caluto.

— Elas não vão mesmo nos deixar passar?

Caluto olhou para todos com verdadeiro alívio estampado no rosto. — Nesse ponto vamos adiantar um pouco. Tivemos ajuda na diplomacia com as árvores. Nossa passagem foi assegurada.

— Isso é... Bom? — Balmac olhou curioso para as árvores que apesar de estarem com seus galhos perigosamente apontados para o grupo não davam mostras de que iam atacar como antes, apenas dançavam em ritmo da brisa.

Agora satisfeita por saber que logo estariam em marcha para Alvarin Lúcia começou a olhar tudo com renovado interesse. As árvores eram dispostas pelas cores de seus troncos. Quanto mais avançavam mais organizada parecia a paisagem e mais ordenadas se tornavam as árvores, não demorou muito e uma miscigenação de nuances se enfileiravam simetricamente até perder de vista.

— São os clãs. — Caluto falou baixo. — Cada fileira é cuidada por fadas da cor do tronco. E o mais engraçado é que são as fadas que enchem os troncos com plantações.

— Não são aquelas flores parasitas? — Linade perguntou e Caluto balançou a cabeça.

— Nosso alimento é cultivado nos troncos, as árvores ajudam o processo e recebem nutrientes também. É uma troca.

— E o solo? — Jahil perguntou.

— Não somos tradicionais Jahil. Nem mesmo nosso alimento é igual, pelo menos não aqui, para os que ficam. O solo pertence as árvores e ao que elas ajudam a guardar, por isso que a árvore madrinha é tão sagrada a nós, o solo é dela, enquanto que os troncos das árvores é nosso campo de plantio. Pode parecer estranho a vocês, mas aqui, deixamos a natureza seguir seu curso, sem caças, pelo menos não agora que estamos libertos e também sem cultivar diretamente o solo, por isso, nós e as árvores de Venília temos tanta sintonia e respeito, elas se alimentam do solo enquanto emprestam seus nutrientes e tronco para cultivarmos o que precisamos.

O grupo ficou em silêncio entendendo o que Caluto queria dizer. Ela teria que comer o que todos comeriam na viagem, mas em Venília sua raça seguiria os costumes da época de paz.

Lúcia começava a ficar ansiosa. Um quarto e hora já tinha passado e ela não via o fim da floresta. A rocha que sustentava o reino acima das nuvens tinha proporções dantescas quando vista lá debaixo, mas não mostrava de forma alguma o tamanho real do reino.

— Que lugar grande. — Acabou murmurando em voz alta e Caluto sorriu.

— Assombroso, não é? Imagine uma mesa com um suporte no centro para sustentar o tampo. Assim é Venília. Estamos no tampo que é bem mais largo que o suporte.

Lúcia assentiu ainda mais fascinada. Agora com a passagem livre não demoraram nada a atravessar a floresta e logo à frente, as árvores começaram a espaçar, ela já via o monte, e após uma dezena de passos e algumas curvas a árvore madrinha surgiu em toda sua glória.

— Magnífica não é Lúcia? — Caluto sussurrou com a voz carregada de respeito.

— Sim... E ela está ainda mais bonita.

— E muito mais forte. Por isso podermos ir, ela dará conta de cuidar de meu povo, e eles darão conta de cuidar da magia que nos foi confiado. Esse foi um dos motivos de a imperatriz não nos deixado partir antes, precisávamos recuperar a força dela para restaurar a magia.

O grupo seguia calado ouvindo a conversa, Lúcia sabia que Caluto conversava com ela e explicava as coisas para o grupo ouvisse.

Era sua maneira de se desculpar.

O murmúrio ansioso a frente deixou o grupo ainda mais nervoso e Caluto deu uma risadinha. — Nosso povo não é o que pode dizer, comportados.

Linade, Balmac e Jahil trocaram um olhar desconfiado. Ádino e Luthiron pareciam constrangidos e Jiron não desceu perto do grupo, se manteve a uma distância segura.

Quando venceram a última árvore a multidão os recebeu com gritos, palmas e assobios.

Uma mesa farta e longa estava arrumada na mesma estrada que eles lutaram dias antes.

Lúcia não conseguia parar quieta com os olhos. Asas de todos os tamanhos e cores pululavam no céu, a iridescência das cores fazia o lusco fusco entrar em contraste com o céu alaranjado pelo pôr do sol.

Logo ia escurecer e Lúcia queria ver como o céu ficaria lindo com tanto brilho.

Em meio a balbúrdia das fadas saiu da casa uma pequena fada rodeada por outra muito maiores, Lúcia a reconheceu na hora, era a fada que estava no casulo dentro do tronco da árvore. Soube que aquela era a nova Imperatriz.

Seu tamanho era menor que os outros, porém seu brilho era muito mais intenso. Os cabelos verde-claros davam uma nuance esverdeada as asas cintilantes.

Ela os encarou com seus olhos esmeralda por um tempo considerável. Recebeu do grupo uma vênia respeitosa e para surpresa deles a imperatriz também se curvou com humildade e os outros fizeram o mesmo.

— Não mereço que se curvem a mim quando devo a vocês a liberdade de meu povo. — Quando voltou a olhar para eles seu rosto mostrava a solenidade necessária à sua posição, mas seus olhos possuíam uma sinceridade tão pura que deixou Lúcia emocionada em saber que tinha conseguido salvá-la daquela sombra, era como se aquela fada tivesse sido concebida justamente para estar ali, naquele momento.

— Agradeço pelo que fizeram a nós. — A imperatriz continuou. — E agradeço ainda mais pela paciência em aguardar o tempo necessário para reestabelecer a ordem. Sei que se sentem injustiçados, mas aqui em Venília a vida pulsa de tal maneira que está sendo trabalhoso a nós reorganizar tudo, no entanto era extremamente necessário já que uma vida pulsando com força reflete na saúde da terra de toda Heleno.

Lúcia lançou um rápido olhar para Luthiron, mas ele balançou a cabeça mostrando que não tinha compreendido o que ela tinha dito. A fadinha continuou a falar.

— Nossa função nos exigiu que priorizássemos a segurança de nosso legado, porém como pedido de desculpas aos heróis que nos libertaram. Oferecemos o que de melhor há no reino. Se mais tempo tivesse transcorrido até esse momento, eu lhes garantiria sabores ainda melhores, porém o tempo urge e compreendemos a pressa de vocês por isso, nossa mesa, apesar de sortida ainda é humilde.

Lúcia e os outros trocaram um olhar ainda mais constrangido, tinham reclamado do tratamento das fadas todo o tempo que foram mantidos confinados na caverna e agora se sentiam mal por isso.

— Não precisa agradecer, só queremos partir. — Balmac falou sem nem mesmo piscar, Lúcia sentiu vontade de arrancar um tufo de pelos de suas costas, aquela não era hora de falar em partir.

Caio, Varmos e Balin por outro lado, ficaram atrás do grupo e seus rostos mantinham um tom rosado por cima do esverdeado, estavam constrangidos, com certeza incomodados porque, por causa do tamanho, eram os mais fáceis para as fadas assediarem com seus acenos e palavras simpáticas de agradecimento.

A imperatriz das fadas sorriu e anunciou. — Levará apenas algum tempo e logo poderão seguir seu destino.

Isso fez morrer os sorrisos e resignados a boa maneira exigida por Linade com um olhar ameaçador, eles assentiram e obedientes acompanharam as fadas que praticamente os escoltaram até a mesa cheia de bebidas coloridas e petiscos de encher os olhos.

Agora a balburdia não era mais contida. Risadas, músicas, dança, cumprimentos e agradecimentos se seguiam até a noite cair. O grupo, apesar de mostrar simpatia a cada fada que se aproximava, trocavam olhares ansiosos mal se aguentando de ansiedade de finalmente seguir viagem.

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(Pequena Maratona, pois precisarei ficar ausente, então, como é um capítulo por semana, vou adiantar alguns capítulos para que não me cobrem depois. Mas vejam, estou adiantando os caps, então tenham paciência se aqui ficar um tempinho sem postagem, o que duvido que seja tanto visto que fico muito ansiosa para postar, mas é que preciso de um tempinho para resolver uma coisas)

Crônicas Helenísticas. AlvarinOnde histórias criam vida. Descubra agora