O salão da caverna tinha um quinto do tamanho da outra que eles estavam. A parede a frente ostentava uma abertura oval que emitia um brilho opaco de laranja. Era um portal e antes que qualquer um perguntasse as fadas avisaram que os zargons os aguardavam no corredor.
Lúcia se lembrava perfeitamente da imensa escada que tiveram que subir para chegar a Venília. Ficou feliz em saber que não teriam que descer tantos degraus. O portal os levaria direto para o corredor que, ela se lembrava, era também muito comprido e abafado.
Como foi pedido pelas fadas, os Ogros foram os primeiros a adentrar o portal. Quando Lúcia e os outros foram entrar um garoto fada do tamanho de Lúcia a parou. — Quero agradecer pelo que fez, por demonstrar respeito a nossa árvore.
Lúcia reconheceu sua voz, era Ádipo, o pequeno pássaro petulante que os tinha guiado para a entrada da árvore, a única maneira de entrar em Venília. Lúcia assentiu sem saber o que responder, não conseguia mais arrumar palavras para responder tantos agradecimentos.
Por fim quando entraram encontraram uma multidão de lobos os esperando, Caio, Varmo e Balin estavam muito próximos conversando baixo e Lúcia deduziu que já faziam planos para o caminho que tomariam já que tinham decidido se separar do grupo para seguir o próprio caminho até os navios.
Assim que a porta mágica para Venília se fechou, as asas das fadas e até mesmo de Caluto começaram a brilhar tenuemente.
Lúcia já tinha se perguntado várias vezes como eles iriam iluminar o caminho sem deixar cheiro de fumaça como pista e ficou encantada ao ver as variadas asas iridescentes fazendo um tipo colorido e opaco de iluminação.
Ádipo se aproximou e quando falou sua voz fez eco pelo corredor. — As fadas usaram uma saída parecida para chegar a Graldijak, porém essa que estamos seguindo os levará diretamente a estrada, assim não precisarão retornar para a pequena vila.
Para eles era uma ótima notícia, mesmo que reduzisse em apenas um dia o tempo de viagem ainda assim já compensava um pouco o tempo que tiveram que esperar na caverna.
— Pensei que elas usariam magia para chegar até lá. — Comentou Luthiron em voz baixa.
Ele negou com a cabeça e deixou um sorriso que mostrava que sabia mais do que dizia e Lúcia analisou Ádipo com mais atenção, seu corpo era esguio, os cabelos presos ao alto de maneira rigorosa dava a ele um ar feroz, os cabelos eram azuis e os olhos ametistas, o rosto era bonito, porém com traços fortes e proeminentes, não possuía a leveza dos traços de Caluto.
Lúcia tinha percebido que os machos além de poucos tinham os traços mais marcantes e angulosos que as fêmeas, possuíam uma beleza diferente delas. Sem perceber que estava sendo analisado com curiosidade Ádipo finalmente respondeu.
— Elas preservaram as forças para conseguir manter a névoa do sono o maior tempo que conseguirem, assim quando a magia acabar não haverá sequer sinal dos navios, o que será bom, pois de início os seguidores irão atrás dos navios pensando que vocês estarão lá.
A notícia animou o grupo ainda mais, no fim, o rancor de terem sido mantidos presos agora estava sendo explicado. As fadas estavam fazendo sua parte para enviar o grupo em segurança para o novo destino. Eram mesmo honrados os feéricos.
Todos ficaram em silêncio quando o caminho ficou íngreme e inclinado, quanto mais desciam pelo túnel mais tinham a sensação que estavam perto dos seguidores. E isso os deixava ansiosos.
Cada degrau tinha uma altura considerável, somente Jahil estava sofrendo com suas pernas curtas, ainda assim ele não reclamava, ao contrário, para ele que estava acostumado a andar por túneis e por lugares apertados aquela caminhada parecia mais tranquila, ele parecia saber de antemão onde estavam, pois ficava sussurrando que estavam quase lá.
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Crônicas Helenísticas. Alvarin
FantastikDesde que partiu da cabana Lúcia sofreu todo tipo de provação, dor e angústia. Mas libertar Luthiron não será como imaginou, aliás ela não imaginava que quando fez aquela promessa de que não importa o que acontecesse, daria tudo de si para libertar...