"Eu encontrei alguém real em uma loja de empanadas enquanto procurava uma inspiração. Ela não era lá uma inspiração tão legal e, para falar a verdade, ainda não é.
Ela estava lá, invisível, se fazendo ser vista. Uma voz suave ressoou por todo o lugar com uma fala agressiva; aquela mulher estava zangada em nosso primeiro encontro, comia sentada na mesa ao lado sem que ao menos eu a tivesse notado antes. Mas, bastou um incidente na cozinha do local para a fazer esbravejar no seu lugar e revirar os olhos reclamando com um sotaque espanhol carregado. Era estranho, não deveria lhe fazer diferença alguma o alto barulho que veio da cozinha, mas ela não se mediu, apenas demonstrou sua indignação com o indiferente.
Ela parecia ser daquelas que são ranzinzas e não pensam duas vezes antes de achar defeito em qualquer coisa.
Bastou uns dias para que eu a encontrasse novamente, dessa vez em um restaurante de classe enquanto desfrutava de um jantar com a minha irmã. Novamente não se preocupou com quem a olhava, nem se preocupou com os meus olhares repreensíveis na segunda vez que a encontrei, apenas fez o que achava que deveria fazer. Foi sutilmente grossa. O garçom, que estava parado na sua frente, a encarava assustado, receoso, culpado, e contudo ela se mantinha firme fazendo suas reclamações o encarando firmemente, os olhos dela era tão invasivos que eu me sentia diminuído juntamente ao garçom, por mais que ela nem se quer tivesse me notado. As palavras embaladas pelo sotaque espanhol carregado saíam deslizando pela boca dela, de forma tão sutil que alguém que olhasse de longe não saberia a dimensão da bronca que o rapaz levava.
Indignei-me, sem razão aparente alguma. Não me dizia respeito nada sobre aquela desconhecia cujo tive a sorte de encontrar duas vezes enquanto saía para comer com minha irmã. Nada obstante, ao parar para refletir no caminho da minha casa, eu percebi o que me indignava. Era a forma como ela era completamente real; ela estava ali, viva em todos os aspectos, apenas sendo. Sendo quem ela deveria ser. Nas duas vezes em que a encontrei ela estava sozinha enquanto todas as outras pessoas estavam acompanhadas, e ela não parecia nem um pouco desconfortável com aquilo; nas duas vezes em que a encontrei ela falou exatamente tudo o que queria falar, sem medir palavras, sem pensar duas vezes.
Eu não sei muita coisa sobre ela, sei tão pouco que nem, ao menos, sei seu nome. Mas sei que tem cabelos longos e encaracolados caídos sobre os ombros e indo até o meio das costas, pele morena, sotaque espanhol, olhos penetrantes; sei que, mesmo sem muito saber, posso vê-la por completo, posso vê-la real.
Ah, e também sei que ela não é mexicana."
A editora do Jornal me encarou após ler todo o documento que eu tinha lhe entregue. Os óculos pendiam na ponta do nariz e seus olhos azuis penetravam minha pele.
— Gosta de crônicas, senhorita Jauregui? — Perguntou erguendo uma sobrancelha. - Pensei que sua área fosse ser algo mais político ou criminal dentro do jornal... Estou surpreendida!
— Espero que positivamente. — Lhe respondi. — Bom, como a senhora não havia me dado uma coluna ou algo do tipo eu resolvi escrever essa crônica. — Respirei fundo extremamente nervosa.
— Interessante. — Ela me olhou e sorriu. — Confesso que sou uma admiradora nata de crônicas e essa chamou minha atenção. Gostaria de uma continuação, você pretende seguir com ela ou trocar em cada edição?
— Pretendo continuar sim, senhora. — Disse, mesmo que no fundo não houvesse a mínima intenção de continuar com aquilo. Havia sido apenas um acaso, mas se a editora chefe havia se interessado e queria uma continuação não era eu quem iria acabar com a sua expectativa.
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Lista de desaparecidos
FanfictionMuitas mulheres no mundo são incompletas, mas Lauren Jauregui era uma mulher completamente vazia. Uma jornalista que acaba de conseguir um emprego em um dos melhores jornais do estado e precisa se inspirar. Nada melhor do que comida para isso! Cam...