Ouça Jessica

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— Oi. — Eu disse me levantando.

Camila manteve os olhos intensos em mim, respirando profundamente algumas vezes antes de abrir os lábios em busca de palavras. Mas ela nada disse. Abriu os lábios três vezes seguidas, mas as palavras não vinham.

— Oi! — Respondeu por fim.

— Camila, por favor eu poss... — Comecei, mas ela me interrompeu.

— Tudo bem, entra! — Ela disse antes de começar a andar em direção à casa.

Nós entramos e ela trancou a porta. O ambiente estava um pouco escuro, Francesca não havia acendido todas as luzes, apenas as que ela precisava para chegar em seu quarto. Eu fiquei ao lado da porta observando os movimentos da mulher a minha frente, mas ela nem sequer me olhou. Apenas foi acendendo as luzes e colocou sua bolsa ao lado das chaves em cima de uma mesinha de canto em sua sala.

— Mamá? — A voz de Francesca soou lá de dentro.

Camila seguiu em direção aos corredores sem me dizer uma palavra. Se a intenção dela era me dar um gelo, estava conseguindo. Respirei fundo ali, em pé, ao lado da porta. estava molhada da chuva então não me arrisquei a dar mais nenhum passo. Não estava encharcada o suficiente para sair molhando a casa dela, pois a chuva estava fina, mas mesmo assim estava molhada e a roupa estava gelada. 

Minutos mais tarde ela voltou e trazia nas mãos uma toalha grossa e macia; ela veio até mim e passou ela por meus ombros.

— Vê se consegue se secar um pouco! — Ela disse e se virou novamente indo até onde eu sabia que era sua cozinha. Alguns minutos depois um menininha adoravelmente fofa com pijama de fadinha apareceu pulando em um pé só. Ela me encontrou com os olhos e eu sorri, mas não fui retribuída. Francesca apenas foi apoiando o pé de leve no chão até se sentar no sofá e pegar um livro na mesinha de centro. Essas mulheres da família Cabello são duras na queda.

— Francesca? Vai querer a carne mesmo? — Ouvi a voz de Cabello soar da cozinha.

— Sí, mamá! — Ela respondeu.

Eu estava me sentindo uma intrusa, era péssimo ser ignorada. Estava prestes a abrir a porta e ir embora quando Camila apareceu no batente entre a sala e a cozinha e me pediu com um gesto de mãos para ir até lá. Ela estava cozinhando alguma coisa e fazia aquilo tudo com tanta naturalidade que dava até gosto de ver.

— Você pode se sentar aí que eu estou colocando o jantar! — Ela disse baixo sem me olhar.

Sentei-me e continuei a assistindo. A forma como ela se movia fazia parecer fácil; como uma bailarina dançando em um palco, parece até que é comum dançar na ponta dos dedos dos pés e saltar como se a gravidade nem a afetasse.

Eu estava enrolada na toalha que ela havia me dado, mas, mesmo assim a roupa gelada me deixava com frio.

— Fran, venga! — Cabello chamou e a menina apareceu segundos depois se sentando à mesa enfrente ao prato que sua mãe havia colocado.

— Qué és eso? — Perguntou apontando para um purê.

— Purê de couve-flor! — Camila respondeu enquanto continuava se movimentando com um prato em mãos, até que o colocou em minha frente.

— Eu agradeço, mas não quero! — Falei.

— Estamos jantando então você também irá jantar. — Respondeu desviando o olhar, virando-se, pegando o prato e sentando de frente para mim e ao lado de sua filha.

— Mamá, eu já disse que amo sua carne? — A menina disse animada dando uns saltinhos na cadeira.

— Já disse, sí, cariño! — Sorriu pra a menor.

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