" Faça a escolha que fará você
Minha irmã tinha seis anos quando ganhou a sua boneca dos sonhos, com cabelos loiros e cacheados, corpo de espuma, olhos azuis cintilantes, vestido violeta, e, se apertássemos a barrida dela, ela dizia algumas frases bobas.
Nossa, como minha irmã amava aquela boneca!
Ela a levou para a escola todos os dias, passou maquiagem em seu rosto de plástico, a levou para a igreja, para o parque, para a praça e para qualquer outro lugar que tenha ido. Até para o banho. E não demorou muito para a minha irmã descobrir que a tal boneca Pimpininha, como ela a chamava, não falaria mais porque ela havia a enfiado debaixo do chuveiro. Jess, minha irmã, segurou a boneca, sentada no chão no banheiro com os lábios entreabertos e os olhos esbugalhados.
— Pimpininha? — Ela chamou pela boneca enquanto eu as olhava da porta. Ela realmente tinha esperanças que a boneca voltasse a falar e respondesse. — Você se afogou? — Perguntou.
Foi um dia difícil. Uma semana difícil. Estava frio, a boneca nunca secava e minha irmã andava a arrastando para lá e para cá, às vezes chorando, às vezes não, esperando que a boneca "ressuscitasse". Até que um dia minha mãe resolveu dar um basta e disse que Pimpininha havia morrido. Jess surtou e caiu em uma tristeza profunda por dias, quase um mês.
Lembro-me de pensar, naquela época, enquanto ainda também era uma criança, com os meus sete anos, do que a boneca haveria "morrido".
Afinal, ela morreu por amor ou pelo extremo descaso?Eu, uma menina, não conseguia entender se a Pimpininha havia morrido porque Jess a amava demais e necessitava estar com a boneca em todos os momentos, até no banho; ou se a boneca havia morrido porque Jess não se importava o suficiente para conseguir se afastar por alguns minutos ao invés de se arriscar a perdê-la de vez.
Hoje, adulta, eu ainda não tenho essa resposta. Hoje, eu ainda me pergunto, seria melhor aproveitar tudo isso ao máximo ou ser extremamente cuidadosa e acabar perdendo grande parte do que eu poderia viver? É melhor viver ao lado de Pimpininha intensamente ou é melhor me afastar para não perdê-la de vez?
Eu passei os meus últimos dias ao lado de alguém que está de mãos dadas com a vida de um lado e com a morte do outro, em uma batalha onde quem puxar mais forte a ganha, e nós, que estamos assistindo, não temos ideia do que pode acontecer. Ela é nova, poderia ter uma vida inteira pela frente, mas talvez não tenha, e isso me assusta.
É Jess, a minha irmã, e para ela, talvez tenha sido melhor curtir Pimpininha ao máximo, talvez tenha sido melhor viver tudo intensamente como ela viveu porque não se sabe por quanto tempo mais ela estará aqui.
Mas esse é o tipo de coisa que não dá para se saber, não se sabe quando tudo acaba, não se sabe quando a linha reta chega até nós, não se sabe quando o nosso coração simplesmente para de bater.
O que nos resta, no final, o que me resta no final, é fazer uma escolha e arcar com as consequências. Viver intensamente ou me privar para que dure mais?
Eu ainda não sei o que escolher.
E você? Já sabe?"
A luz do sol nascente adentrava pela janela deixando a sala preenchida pela cor alaranjada, o dia estava extremamente bonito e eu terminava de revisar a crônica que havia acabado de escrever. A minha noite passada foi tranquila, depois de passar a tarde com Camila e Francesca eu voltei para casa e tomei um banho para relaxar, relaxei tanto que acabei dormindo antes das sete da noite, o que me fez acordar antes das quatro da madrugada. Quando acordei, de imediato me lembrei da história de Jéssica e da boneca que tinha total semelhança com o que eu passo no momento, então, depois de um banho, comecei a escrever.
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Lista de desaparecidos
FanfictionMuitas mulheres no mundo são incompletas, mas Lauren Jauregui era uma mulher completamente vazia. Uma jornalista que acaba de conseguir um emprego em um dos melhores jornais do estado e precisa se inspirar. Nada melhor do que comida para isso! Cam...