Atmosfera de desespero

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Camila estava pálida. Eu estava sem reação. Francesca estava em choque.

As duas ainda estavam na mesma posição, Cabello segurava os dois pulsos da filha com as mãos tremendo e respirando apressadamente, ela estava aterrorizada. Despertei e tive consciência de que eu precisava fazer algo, porque Camila estava fora de si, nervosa e desesperada demais para fazer alguma coisa. Respirei fundo e corri me aproximando as duas. A cubana me olhou, seus olhos estavam suplicantes, desesperados; os lábios estavam entreabertos e ela estava com a respiração completamente descompassada; e, sobre as bochechas, rolavam lágrimas silenciosas.

Olhei então para o rosto de Francesca, tentando me preparar antes de olhar para as mãozinhas. Ela tinha os olhos azuis avermelhados como se quisesse chorar, mas sem lágrimas, focados em suas mãos e os lábios tremiam segurando o choro. Ela com certeza não estava sentindo dor, mas estava assustada com o que via e com o choro da mãe. Desci os olhos lentamente e encontrei suas palmas queimadas. Bolhas haviam se formado e estourado quando a pele, que ficou grudada na assadeira, descolou. Era uma cena de assustar qualquer pessoa. Era uma queimadura grave e profunda. Mesmo com o meu escaço conhecimento era possível ver que, pelo menos, a primeira e a segunda camada de pele haviam sido arruinadas.

Camila pareceu despertar e largou os pulsos da menina e saiu correndo, provavelmente em busca de documentos e chaves. No mesmo instante em que a mãe saiu Francesca começou a respirar rapidamente soluçando. A peguei no colo e corri com ela até a cozinha colocando suas mãos embaixo da água fria da pia. Eu sabia que ela não estava sentindo dor, mas aquele era o processo certo a ser feito até para que a ferida não acabasse se agravando e porque era sempre bom que estivesse limpa.

— Tudo bem, gatinha, não foi nada, tá? — Eu disse sorrindo e tentando passar tranquilidade para ela, que já tinha a respiração um pouco mais controlada e estava sentada na bancada com as mãos ainda em baixo da água. — Nós vamos para o hospital e o médico vai dar um jeito nisso daí!

Fran apenas assentiu com um movimento de cabeça e eu a peguei no colo, desligando o torneira e a levando para o lado de fora de casa quando Camila nos chamou. A loirinha entrou no carro repousando as mãos sobre o próprio colo com as palmas viradas para cima, assim como eu a instruí. Peguei as chaves com Camila e ela foi para o banco do carona sem reclamar, sabia que estava nervosa demais para dirigir. Cabello foi o caminho inteiro com a cabeça apoiada sobre uma das mãos que tampava o seu rosto batendo um dos pés sem parar.

O horário não era o melhor para se dirigir em São Paulo. Final de tarde, hora  em que quase todas as pessoas que trabalham durante o dia estão voltando para as suas casas. Demorou para chegarmos, e muito. E a cada vez que precisávamos parar, ou em um semáforo ou por conta do engarrafamento, era uma bufada que Camila dava.

Até que finalmente chegamos.

Todos no hospital já pareciam super habituados a presença delas duas ali; elas nem precisaram fazer um cadastro ou dizer seus nomes na recepção pois o recepcionista só de olhar já sabia quem elas eram e entregou os crachás de "Paciente", "Acompanhante" e "Visitante" para nós três.

Fomos andando por um corredor até o elevador e subimos até o sexto andar. A cubana andava rápido guiando Francesca com as mãos em seus ombros. Logo adentramos uma sala onde eu pude reconhecer a mesma médica que nos atendeu no último incidente.

— Oi Amanda! — Camila disse e a médica loira olhou para nós com um sorriso que se desfez assim que bateu os olhos não mãos de Francesca.

— Oi! — Ela disse tentando manter o máximo de cordialidade possível diante da situação. — Vamos ver o que aconteceu aí, mini Barbie! — Ela disse sorrindo, pegando Fran e a colocando sentada sobre a cama hospitalar. Delicadamente ela segurou os pulsos da menor analisando o estrago feito pelas queimaduras. — Vou mandar chamar a plástica, tá bom? — Ela se dirigia a Francesca sempre sorrindo e a menina retribuía levemente, parecia confiar na médica, que era a mesma de quando estivemos aqui quando foram atacadas pelo rottweiler .

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