Grande falta de sorte

282 19 4
                                    

— Vamos começar a temporada como terminamos a anterior, Lions. Com garra! — gritou o treinador com convicção, enquanto fala e andava olhando para cada um dos seus jogadores, com uma expressão fechada.

Os rapazes continuavam com uma postura firme, sem demonstrar emoções. Qualquer movimento em falso, e poderiam ser o hostilizados pelo treinador. Ou pior, expulsos.

E Ginny tinha total consciência disso. E muito medo também.

Não mova um músculo. Não mova um músculo. Ela repetia para si mesma, tentando acalmar as batidas do seu coração. Aquele era um momento decisivo. Viera para aquela escola, fazer parte daquele time! E se por algum motivo, não conseguisse... Não, era melhor ela nem cogitar essa possibilidade.

O treinador ainda estava andando entre os rapazes, analisando cada um deles minuciosamente. Com curiosidade, Ginny arriscou uma olhada rápida de canto para o técnico e, acabou franzindo o cenho, pois sentiu algo que não esperava: familiaridade. Tendo uma sensação estranha, de como se já tivesse visto aquele homem antes. Aquilo era estranho, porque a aparência dele não poderia ser considerada comum. Alto e muito bonito; seria provavelmente a melhor definição que sua mãe daria ao treinador quando o visse, e Ginny não poderia discordar. Ele tinha os cabelos ondulados de cor negrume, presos por detrás da cabeça, num rabo-de-cavalo estiloso. Os olhos que denotavam seriedade naquele momento, eram de um tom acinzentado incrivelmente atraente, que provocavam um contraste perfeito com o sorriso espontaneamente sedutor e a pele naturalmente bronzeada. Mas, Ginny percebeu que o detalhe mais provocativo no treinador, era a sua voz. Ou mais especificamente a risada irônica, que lembrava muito um latido canino, rouca, suave e grave, tudo ao mesmo tempo. Com aquela voz, aliada a aparência física, ele certamente tinha qualquer mulher que quisesse na palma da mão.

Talvez, fosse por causa disso, que muitas garotas "apaixonadas" estavam olhando para o campo de futebol naquele exato momento com expressões abobalhadas, acompanhando com os olhos cada movimento que o técnico do time masculino fazia, fazendo-o parecer um astro do rock intocável. Mas, para Ginny naquele instante ele assemelhava-se muito mais, com um general-comandante, coordenando seus soldados para à linha de frente na guerra, onde todos seriam abatidos um por um.

E o que era ainda mais estranho e inquietante para Ginny, era que a sua vigilante intuição-feminina — que quase sempre acertava —, dizia que àquele homem tinha alguma ligação com o seu colega de quarto. Pois a expressão de Harry — mesmo estando sério assim como todos os outros —, mostrava-se sutilmente diferente dos demais. Ele demonstrava estar entediado, como se já estivesse escutado aquele discurso diversas vezes na vida. Ginny conhecia aquela expressão, ela expressara a mesma várias vezes com os pais dela. E a comparação, fez com que ela se lembrasse de onde conhecia aquele homem: na foto ao lado da cama dele. O treinador era o mesmo homem da foto que Ginny vira na fotografia do seu colega de quarto.

Que ótimo, Harry não só faz parte do time de futebol, como provavelmente têm alguma ligação de parentesco com o técnico do time. Maldita falta de sorte...

O treinador parou em frente ao rapaz que estava ao lado dela, este que estava tremendo igual a uma vara verdade alguns instantes antes, mas que corajosamente conseguiu se manter firme e encarar o treinador de frente. Analisando o rapaz da cabeça aos pés, o treinador gesticulou negativamente quando olhou para ele com desaprovação, e o mesmo recuou cabisbaixo. E isso fez Ginny sentir-se ainda mais apreensiva.

— Rapazes, a divisão das equipes vai ser bem simples: com ou sem camiseta... — falou ele logo depois, prestes a soar o apito para dar início ao treinamento. E ao ouvir aquilo Ginny arregalou os olhos de modo desesperado, com um embrulho no estômago.

Ela é o CaraOnde histórias criam vida. Descubra agora