Skullrion

Capítulo 1 - Skullrion

"Às vezes eu chego a pensar que não existe solução. Que os seres humanos estão fadados ao fracasso e ao egocentrismo absoluto. Poxa! Por quê? Porque não pode simplesmente acreditar e ponto final? Não estou fazendo sentido, disso eu sei... Vou colocar as ideias no lugar.

O homem desde o momento que nasce tem um sentimento firme de que existe algo maior que ele, e que esse algo merece adoração. Então o homem não sabe o que fazer e cria deuses. Depois luta em favor desses deuses que ele mesmo criou e por fim ninguém se percebe certo. Cria deuses, com o propósito de aliviar seu sentimento. Depois sente ódio desse caminho e decide não crer mais em Deuses. Controvérsia em tudo, mas isto é raça humana. Quando percebem que deuses são algo negativo, decidem mudar de ideia. Agora ele é seu próprio deus e ponto. E os que se negam e acreditam que existe um deus, são racionalmente tolos. Eu sei que é estranho eu dizer isso tudo. Mas entenda o dilema... Estou apresentando como o ser humano e suas divindades são complexas e confusas.

Porém ambos os lados, os que creem em Deus e os que não creem, não descobriram a cura para a alma... Prefiro chamar de alma, aquilo que nós sabemos que temos. Sentimentos, lembranças que formam os fundamentos de nosso ser. Esses fundamentos podem ser danificados e causar psicopatias e frivolidade. Pra mim a "alma" precisa ser curada. Mas ninguém cura a alma. Curam doenças, curam até problemas cerebrais, mas não curam problemas da alma! Os que creem em Deus, dizem que Deus cura a alma. E os ateus, curam a alma através da lógica. Que merda de respostas são essas? Cura pra alma de acordo com os maiores pensadores do mundo é o amor. E então chego na linha de raciocínio que quero.

Os que creem em Deus dizem amar. Mas todos os que matei, não provaram amor algum. Será que este que peguei irá ser diferente? Ateus que sequestrei morreram sem dúvidas de que não fariam aquilo que pedi. Mas quando eu golpeava com a faca na jugular, normalmente choravam e clamavam por misericórdia, enquanto afogando em seu próprio sangue. E quase todos clamaram por Deus. Que Deus é esse que a pouco nem acreditavam? Por isso decidi pegar os que creem, por que eles tem uma motivação. Mas falhei miseravelmente, continuam morrendo.

Este que vou tirar do porta malas do carro parece ser bom. Tem família, dois filhos, esposa e um cachorro. Mora em um bairro bom, e frequenta a igreja do Pastor Jeferson, três vezes por semana. É até um pouco gordinho. Provavelmente se alimenta com abundância. Vida boa. Calvo, caucasiano de meia idade e estatura mediana. Cabelos das laterais que despontam fios brancos, rosto redondo e rechonchudo. É até difícil de arrastar até aqui.

Depois de arrastá-lo ainda inconsciente da beira da estrada até esse poço, fica difícil acreditar que ele vai morrer. Espero realmente que ele me dê uma resposta satisfatória. A maioria que pergunto sempre erra, e então sou obrigado a degolar a vítima, já que arma de fogo é mais rastreável pela polícia.

Ele está acordando. Nessa escuridão da madrugada, em uma usina de cana desativada a anos, no meio do nada. Ele vai ter muito medo. O cenário é fantasmagórico, até eu tenho certo receio de olha-lo. Um silo envelhecido fica a nossa frente, rodeado de árvores silvestres que invadiram a região. Do outro lado, não muito longe, o galpão de onde separavam a cana e preparavam o mosto. O telhado cheio de buracos, e o portão trancado com um cadeado velho deixando tudo mais abandonado. O mato estava a maior parte, na altura da cintura, somente a trilha comum de acesso que tinha grama baixa. A relva estava um pouco molhada devido à chuva de ontem. E o céu não se via uma estrela. Apenas as nuvens alaranjadas e o frio do outono calando. O senhor que havia capturado iria ter calafrios ao ver a minha figura parada frente a ele. Máscara escura de borracha, com o desenho de uma boca costurada, sorrindo. Os olhos com óculos de aviação, bochechas cheias de orifícios, como a máscara do Jason, o cara da sexta feira treze, e um nariz comprido esticado, como se fosse um galho. Por último espinhos por todo o topo da cabeça da máscara. Bem horripilante. Enfim, luvas pretas, coturno, blusas de manga comprida e uma pistola 380 por garantia. Acho que estou bem sinistro.