PRÓLOGO

6.2K 424 32
                                    

Eu tinha quinze anos quando descobri que sentia atração por Danilo, o irmão mais velho da Mariana, uma das minhas melhores amigas de infância. A atração rapidamente se transformou em paixonite de adolescente e isso era uma droga, pois Danilo e eu nos detestávamos. Não fazia sentido, mas eu sentia o que não devia sentir.

A situação se tornou ridícula ao ponto de que em todas as vezes que eu o via as minhas mãos suavam, a minha barriga doía, o meu coração acelerava e eu tinha vontade de vomitar corroída pelo nervosismo. Eu tentava me repreender: "Fala sério, Alice! É só o Danilo! Um dos garotos mais babacas que você já conheceu na vida e que implica contigo sempre que pode!". Mas continuava com ânsia de vômito e taquicardia.

Embora eu considerasse aquela confusão emocional inacreditável, ao mesmo tempo tinha que ser justa: o rapaz era muito lindo e popular na escola, atraindo a atenção das meninas e a inveja dos meninos, que se contentavam em disputar uma vaga de amigo. Seus cabelos eram lisos e louros naturais com corte de cantor de banda de rock dos anos 80. O seu par de olhos verdes ofuscava qualquer coisa que estivesse perto dele. Sendo mais velho que eu três anos, na época ele tinha dezoito e um corpo que, embora esguio, era muito másculo e já me provocava pensamentos inapropriados.

Danilo era bastante alto naquele tempo e minha cabeça nem chegava aos seus ombros, o que me rendia uma infinidade de apelidos sobre isso. O seu favorito era "Mônica" – baixinha, gorducha e dentuça. Era o meu retrato na época, mas acrescida de aparelho ortodôntico e franja esquisita cobrindo os olhos. Nem preciso dizer que os garotos mal me olhavam... A menos que fosse para me pedir cola na hora da prova.

Então, no último ano escolar de Danilo, o episódio da tinta aconteceu. Ele derramou um balde de tinta vermelha sobre a minha cabeça, me fazendo protagonizar "Carie, A Estranha" na frente de colegas e familiares durante a festinha de natal. A ausência de punição, porque Danilo era considerado um dos melhores alunos da escola e estava no ano do vestibular, me deixou furiosa e me fez romper a amizade com Mariana, que além de minha amiga, também era minha vizinha.

Por mais algumas semanas fatídicas fui obrigada a encarar Danilo no condomínio em que morávamos, até que ele foi aprovado no vestibular para o curso de Medicina Veterinária na Universidade de São Paulo e foi embora. Reatei os laços com Mariana e sua família, mas deixei claro que Danilo havia morrido em vida para mim.

Quando Mariana e eu já éramos universitárias quase formadas, tive notícias de que Danilo havia começado a pós-graduação na mesma universidade que estudava em São Paulo. Após a conclusão da pós, ele permaneceu morando por lá. Nós não tínhamos contato de forma alguma e por anos nunca nos vimos nem por acaso. Eu o evitava e todos compreendiam o meu desafeto sem criticar.

Um dia, ouvi sem querer uma conversa da mãe de Mariana com ela sobre a possibilidade de Danilo voltar a morar em Teresina. Tive insônia e rezei para que os nossos caminhos não se cruzassem novamente, mas no fundo desejava que isso acontecesse. Não éramos mais crianças e nem adolescentes. Eu já tinha 26 anos e era dona do meu nariz; ele tinha quase 30, e presumi que fosse um homem maduro.

Após muita reflexão, cheguei à conclusão de que o passado estava no passado. Aquela era uma oportunidade para perdoar alguém que me fez mal e seguir em frente sem o ressentimento cultivado por anos. Como psicóloga, eu mais do que nunca sabia que era hora de sublimar aquilo. Então, com ou sem a possibilidade de nos tornarmos "amigos", sobre uma coisa eu estava decidida caso Danilo retornasse: a sua presença em minha vida não iria me afetar em nada. Em nada.

O IRMÃO DA MINHA AMIGA (VOL. 1 - SÉRIE OS IRMÃOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora