The Video

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— É essa a sua decisão final? — Arthur respirava fundo, passando a mão entre os fios de cabelo preto.

— Eu... não sei, é algo que eu gosto, mas é tão complicado. Preciso me sustentar, pai. — Ele me encarou, se aproximando e sentando ao meu lado no sofá.

— Filha, existem outras coisas que você pode fazer que envolvam o que você gosta, não precisa ser necessariamente competições. — Me abraçou, apoiando seu queixo no topo da minha cabeça. — E, Liv, sabe que não me importo em sustentar você.

Observei seu semblante triste, era sempre assim quando se tratava de competições.

Aquele dia.

Aquele dia havia sido um pesadelo em minha vida, era algo traumatizante para mim também. Mas, apesar de tudo, surfar em geral era algo que eu amava fazer, o surfe faz parte de mim.

Entretanto, eu nasci para competir. Nasci para sentir a adrenalina correndo pelo meu corpo enquanto eu deslizava com a prancha por cima d'água.

Mas depois do acidente, ninguém parecia lembrar disso.

— Quero ser independente, Arthur. Quero ganhar meu próprio dinheiro, conseguir me sustentar sozinha. — Suspirei, sentindo meu corpo cansado pesar. — Agradeço por tudo que fez por mim, mas está na hora da sua garotinha ter sua independência.

Ele se aproximou, me envolvendo em seus enormes braços.

Arthur era um pai protetor, cuidava de mim até demais, nunca reclamei disso. Seu cuidado sempre foi algo pelo qual fui grata desde pequena. Arthur não supria a falta que uma mãe fazia, mas se esforçou ao máximo para dar todo o amor do mundo a Blake e eu.

Eu sei, Lively, e entendo, mas é a única coisa que eu posso fazer no momento. Mal paro em casa, e essa é a forma em que me sinto perto, de alguma forma. — Suspirou. — Daqui á alguns meses você fará dezoito anos e irá morar com sua avó, e... eu não sei quando irei te ver novamente filha.

Seus olhos começaram a marejar, e senti meu corpo enfraquecer. Eu havia esquecido desse assunto.

— Meu amor, não se sinta na obrigação de conseguir um trabalho, apenas, me deixe fazer isso enquanto posso.

Seus olhos marejaram, comigo o abraçando, concordando, mesmo sendo contra, eu entendia seu lado.

Minha avó, mãe de Sarah, havia feito um acordo com meu pai após a morte de mamãe, que ele teria de cumprir. Quando eu fizesse dezoito anos iria morar com ela, que precisava de cuidados, afinal sua idade era avançada, e não conseguia mais vir do havaí para cá todos os anos, então pediu para que meu pai concedesse á ela alguns anos perto de mim, que Arthur relutou em aceitar.

Eu amava meus avós, sentia um carinho enorme poe eles, e a conexão que tínhamos era surreal.

Era como se eu a visse neles.

— Serão apenas alguns anos, passará tão rápido que nem irão sentir minha falta. — Deu uma risada baixa, negando minhas palavras.

— Você fará mais falta do que imagina, minha princesa, pode ter certeza disso. — Sorriu fraco. — Agora se levante e trate de ir trocar de roupa, teremos um dia só para nós hoje.

Concordei, subindo as escadas. Tínhamos esse tipo de programa sempre que Blake não estava, não que ele estivesse sendo excluído, saíamos em família também, mas papai gostava de ter um tempo a sós com cada um.

Abri a primeira gaveta da cômoda, tirando uma calça jeans bem clarinha desbotada, indo até as portas do guarda roupa, pegando uma regata preta lisa, vestindo tudo em seguida, pois já estava tomada banho. Procurei meu tênis preto, que por acaso estava sujo, calçando e parando na frente da cômoda novamente, abri a caixinha que tinha em cima da mesma, retirando minhas duas pulseiras pratas dali, pegando alguns anéis junto. Passei o perfume, descendo as escadas já pronta, dando de cara com meu pai parado na ponta da escada, segurando a risada.

Surf BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora