After Yes

Aparências

Não ficamos mais muito tempo no baile, fomos embora logo que saímos da cabine de fotos e Justin ligou para o motorista vir nos buscar. Eu estou me sentindo confusa, aos poucos as palavras de Jack foram voltando e se juntaram com o beijo, formando uma tempestade de sentimentos diferentes. Quando chegamos em casa vou direto para o meu quarto.

Não consigo acreditar que todo o meu trabalho é resumido em um casamento de merda. Não acredito que todo o talento de Justin é resumido a um casamento de merda. E que estamos presos a ele por um contrato com pessoas que não se importam com nosso bem-estar, é realmente como dizem: entrar para a indústria é como assinar um contrato com o próprio diabo. Me sinto impotente e roubada, queria poder fugir de todo esse mundo de aparências.

Olho no espelho e noto o quanto estou linda, cabelo perfeito, maquiagem perfeita, vestido de marca, joias caríssimas, mas me sinto uma palhaça toda montada assim. Eu amava tanto isso no início, amava os eventos e o tapete vermelho, mas agora eu me sinto em um circo. Tudo o que vivemos na frente das câmeras é armado e comprado, nada é real. Incluindo meu relacionamento.

Hoje foi a prova de que ainda amo Justin, mas nós não conseguimos mais viver juntos. Não quando tudo o que fizemos é controlado e calculado. Eu nem sei mais pelo que brigamos, sempre penso que o motivo foi a traição e em parte é, mas nós estamos tão acostumados a levar até as pequenas coisas para a briga que nem notamos mais quando passamos de uma conversa normal, parece que fazemos isso por diversão. Esquecemos como é sentir algo pelo outro a não ser ódio. Magoar e gritar virou nosso novo meio de comunicação. Dou risada sozinha, isso ao menos faz sentido?

Do nada o pensamento de como seria nossa vida sem ninguém nos gerenciando me acerta em cheio. Será que estaríamos juntos de verdade se fossemos um casal normal? Será que ainda teríamos respeito um pelo outro? Será que ainda conseguiríamos amar?

Tenho que parar de tirar a maquiagem quando não consigo mais segurar as lágrimas, elas vêm como um furacão e me detonam por dentro. Fico alguns minutos sentada no chão do quarto enquanto me acalmo, depois coloco uma roupa confortável e termino de tirar os restos de rímel e batom que sobraram.

Sinto-me tremula, as mãos suadas e geladas. No estômago uma ardência silenciosa o coroe. Quero fugir, mas não posso fugir de mim. Saio do quarto indo até a cozinha, talvez uma água gelada acalme o desconforto dentro de mim.

Trombo com Justin assim que entro na sala, ele agarra meus braços e sorri, mas o sorriso logo some quando seu olhar encontra meu rosto. Levanto o dedo indicador como se tivesse o repreendendo, não tenho forças mentais para isso agora. Ele me encara preocupado, sua boca se abre prestes a falar algo.

- Não me pergunte se estou bem. Apenas estou sem maquiagem. - O interrompo. A última coisa que preciso agora é da piedade de Justin.

Tento desviar dele e continuar até a cozinha, mas ele me puxa para a sua frente novamente.

- Não. Eu já vi você sem maquiagem muitas vezes, tem algo a mais que isso. - Não olho em seus olhos, mas mesmo assim me sinto nua diante dele.

Justin é a única pessoa que realmente me conhece, ele foi o meu primeiro e único homem. Muito além de sexo, eu me entreguei totalmente a ele. Corpo e alma. Já tinha namorado outros caras antes de encontra-lo, mas era tudo tão superficial até ele chegar em minha vida, era apenas carne com carne. Ele conquistou minha confiança e eu a dele, derramei nele todos os meus segredos. Justin me contou seus sonhos mais profundos, o principal deles eu o ajudei a realizar. É por isso que estamos aqui hoje, juntos.

Juntos, mas tão separados e distantes.

Mesmo assim ele ainda é quem mais me conhece, um olhar é o suficiente para saber que tem algo errado. Seria inútil eu tentar esconder isso.