First step again

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Três meses inteiros vivendo praticamente vinte e quatro horas dentro de um hospital pode destruir totalmente com as costas de uma pessoa, sou a prova viva disso. Além de mim, apenas Scooter faz companhia para Justin nos últimos dias, mas ele tem sua esposa e seus filhos então a maior parte dos turnos são meus.

Pattie e Jeremy também ajudam nessa nova rotina, mas eles têm seus próprios afazeres, e como decidimos não voltar para Nova York e ficar em Londres, isso dificulta bastante a logística. Porém as coisas estão prestes a mudar, depois de três cirurgias bem complicadas e muitas seções de fisioterapia, Justin finalmente vai receber alta no fim desta semana.

Receber alta significa que vamos voltar para casa, iniciar uma rotina totalmente diferente dessa que vivemos agora. Nossa casa em Nova York é feita para duas pessoas que vivem separadas, distantes de baixo do mesmo teto, e agora nós não queremos mais viver assim. Então nos últimos dias eu estive preparando um portfólio de ideias do que podemos fazer para começarmos uma nova etapa em nossa vida.

Aperto a pasta em minhas mãos e abro a porta do quarto, o encontro olhando pela janela e por um segundo fico grata por vê-lo em pé, praticamente recuperado. A incerteza que nos rondou nesses últimos meses foi angustiante, ver Justin com dor e não poder fazer nada foi uma das piores coisas que já vivenciei.

- Bom dia. - Digo assim que entro.

Largo a minha pasta em cima da mesa e vou até ele, passo meus braços por sua cintura o abraçando por trás. Justin coloca sua mão em cima da minha fazendo carinho.

- Bom dia. - Ele responde.

Justin se vira de frente para mim e beija minha testa, eu sorrio com o gesto.

Uma coisa que decidimos nesses últimos meses é que não teríamos nada romântico em nossa relação até deixarmos de passar todas as horas do dia em um hospital, mas nós ainda nos tratamos com carinho.

O "sem lado romântico" quer dizer sem beijos, caricias em lugares íntimos, abraços apertados demais, ou flertes. Nós nos tratamos como melhores amigos de longa data, o problema é que em nossa lista não colocamos nada sobre olhares, olhares como este que está acontecendo agora.

- Sexta-feira vou receber alta. - Ele diz - Não vou mais passar meus dias neste hospital.

Sorrio entendendo o que ele quer dizer. Nós não exatamente tocamos no assunto até agora, para falar a verdade não tivemos tempo de nos preocuparmos com isso.

(É mentira, eu penso nesse assunto a maior parte do meu tempo.)

- Eu sei. E é por isso que nós precisamos conversar. - O puxo pela mão até a mesa, fazendo sinal para que ele se sente em uma das cadeiras.

Abro a pasta e puxo de dentro dela os papéis que Ronie me deu em nossa última reunião. Segundo ela nós precisamos organizar nossa situação, e como quando fui procurar por ela pela primeira vez meu foco era acabar com todos os contratos criados por Jack, isso incluía o meu casamento. Então eu coloco os documentos do divórcio em cima da mesa, na frente de Justin.

Ele os pega e começa a ler, cruzo as mãos em cima da mesa. Estou apreensiva com a sua resposta, nem mesmo eu sei como lidar com estes papéis e o que eles significam.

- Você quer o divórcio? - Ele pergunta com as sobrancelhas levantadas, seu olhar de interrogação deixa claro que não está entendendo nada.

Explico para ele o que Ronie já havia me falado, que podemos ou não assinar. Que o nosso casamento também era um contrato de Jack, e que assim como os outros, Ronie também conseguiu um jeito de acabarmos com ele se quiséssemos.

- Dessa vez a escolha é totalmente nossa. - Digo.

- Eu não quero me separar de você. - Justin diz convicto.

Remexo-me na cadeira, acho que está na hora de colocarmos as cartas na mesa.

- Você já pensou como vai ser nossa vida a partir de agora? Por que nós não vivemos como um casal faz muito tempo e agora nós temos que voltar para casa, e eu não sei como agir. Não sei se sou sua amiga ou sua esposa.

Justin me olha, batuca os dedos na mesa enquanto pensa.

- Nós vamos fazer o seguinte, sábado de noite, depois de chegarmos em nossa casa em Nova York, nós iremos em um encontro.

- Um encontro?

- Sim, Norah, um encontro. Nós vamos começar devagar, do início. Antes de ser seu esposo eu quero namorar você e conhecer essa nova versão da Norah, assim como você vai conhecer essa nova versão do Justin. E então nós vamos descobrir se funcionamos ou não.

Inclino a cabeça para o lado e dou um sorrisinho, esse é um bom primeiro passo.

- Não é como se fossemos morar juntos, aquele apartamento é enorme. - Ele continua dando força a ideia.

- Ok. - Concordo - Vou pedir para que preparem o apartamento para a nossa chegada. Você quer que eu reserve algo para o encontro?

- Não, pode deixar comigo. - Justin abre um sorriso galanteador e eu sei que já perdi nesse jogo.

- Tudo bem. Só nada em público, pode ser? Ainda não quero aparecer. - Peço a ele.

- Sem público, apenas nós dois. - Ele confirma.

Sorrio em agradecimento e junto minhas coisas, me despeço dele e deixo o hospital pela mesma porta dos fundos de sempre, exatamente como nos três últimos meses.

Desaparecer da mídia foi uma escolha unanime de todos, qualquer um que conhecesse a realidade que Justin estava vivendo, sabia que ele precisava de um tempo afastado de tudo para poder se recuperar. Os últimos shows da turnê foram cancelados, alegamos que ele precisava de uma pausa e ninguém nunca soube do verdadeiro motivo para isso. Justin quebrou seu contrato e desapontou muita gente, mas preferiu sua sanidade intacta do que se deixar levar pela ganância. E isso é outra coisa que mudou totalmente, agora cuidar da mente tem a mesma importância de que cuidar do físico. Ir à um psicólogo faz parte dos nossos dias, e não abrimos mais mão disso.

O único problema de desaparecer é que uma hora você tem que voltar, e eu não tenho coragem para isso. Assim como Justin, eu também desapareci. Parei de ir em eventos e foquei totalmente meu trabalho em criar coleções, coisa que sempre foi minha paixão. Porém as marcas começaram a cobrar, e inclusive perdi alguns contratos por causa disso, mas ainda não me sinto preparada para voltar para aquele mundo de flashs que me cegou a tão pouco tempo atrás.

Bem, mas esse não é um problema para ser resolvido agora.

Coloco meus óculos de sol e sorrio para o segurança que me acompanha no dia a dia, peço para irmos para o meu escritório provisório aqui em Londres.

O meu "problema" de agora é me preparar para o encontro de sábado. Já faz oque, quatro ou cinco anos que não vou a um encontro de verdade? Eu acho que é isso sim, se não mais tempo.

Essa vai ser uma experiência interessante.

After YesOnde histórias criam vida. Descubra agora