Like a river

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Eu não sei onde estamos e também não faço questão de saber. Eu não sei o que está acontecendo com Justin, mas ele está diferente e eu não estou reclamando. Ele que escolheu a casa que estamos nos últimos dois dias, ela parece ser perfeita para o que queríamos, fica em um lugar remoto, uma cidade que parece ser no interior e as pessoas parecem não se importar com nossa presença. Aqui está frio e chovendo, ficamos dentro de casa a maior parte do tempo, a não ser para ir no mercado comprar besteiras.

Nós assistimos filmes, rimos e tivemos conversas idiotas. Nosso quarto tem uma cama gigante e muito confortável, além de uma janela grande o suficiente para ver a paisagem que nos cerca. A casa fica em cima de uma montanha, tem arvores ao redor e mais ao longe, no fim do penhasco, você consegue enxergar o mar e uma praia que tem a aparência solitária e fria.

Tomo um gole do meu chá enquanto repasso em minha mente as memórias dos dias que passaram.

Deitados em nossa cama, enrolados no edredom branco e cinza que combina com o céu lá fora, é assim que estamos há mais de duas horas. Não penso em nada do que passamos como foi o combinado, desde o momento que passamos pela porta dessa casa nós nos tornamos um casal de namorados que está de férias. Foda-se as magoas, nós fingimos que somos um casal perfeito na frente das câmeras, então podemos fingir que somos um casal normal e ter momentos bons enquanto estamos sozinhos também.

Eu o beijo e sorrio, passo a mão pelo seu rosto e memorizo cada detalhe dele. Justin me puxa para cima dele, sento em cima de sua barriga apoiando o peso em minhas pernas. Inclino-me e o beijo mais uma vez, as mãos dele percorrem minhas costas por baixo da camiseta e então eu me afasto quando noto que o clima está ficando mais quente do que deveria.

- O que você quer fazer hoje? - Pergunto - Nós temos o dia inteiro livre.

- Nós temos que levar as crianças para a escola, depois poderíamos voltar aqui para a cama. - Justin diz, decido continuar a sua brincadeira.

- Talvez você tenha que conversar com a professora de Jeff, ela mandou bilhete ontem dizendo que ele está conversando muito em aula. Você sabe, ele puxou ao pai e está sempre aprontando.

Justin ri.

- Ok, eu os largo na escola e falo com a professora. Mas depois é você que os pega, Megan sempre pede para irmos comprar doce depois da escola e eu já estou falindo por causa disso.

- Você não pode fazer todas as vontades da sua filha, Justin. - Faço uma cara de brava o repreendendo.

- Ela tem os seus olhos, e eu não sei dizer não a eles. - Justin diz e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

- Hum....acho que vou ter que te castigar então.

Inclino-me e beijo seu pescoço, depois sua clavícula. Distribuo beijos por todo o seu rosto, até chegar em sua boca, me aproximo dela, quase encostando nossos lábios e sussurro:

- Até você aprender. - Seus lábios estão entreabertos à espera dos meus, eu sorrio e me afasto. Justin abre os olhos quando nota que não vou beija-lo.

Levanto-me da cama e coloco uma calça de moletom e um casaco. Justin se levanta um pouco, apoiando-se nos braços e me encara frustrado.

- Você não pode sair de perto de mim assim do nada, eu quero o meu beijo.

- Vou fazer algo para comermos, você está com fome? - Pergunto mudando de assusto.

Justin não parece querer mudar de assunto, ele se levanta e sorri daquele jeito como se fosse aprontar, eu já sei o que vai acontecer. Eu corro e ele vem atrás de mim, antes de chegar na cozinha Justin me alcança e me beija quebrando barreiras, até ficarmos sem folego.

A chuva ainda cai lá fora e tudo está perdendo a magia. Como um rio, o tempo está correndo rápido demais. Eu me apaixonei de novo nesse final de semana, não preciso de muito tempo com Justin para me apaixonar por ele. Ele é minha fraqueza, meus sentimentos por ele são como uma bala perdida e sempre me atingem mais fortes que um tiro. O que nós temos aqui é muito frágil, com um suspiro tudo vai embora, tudo vai quebrar. Nós estamos fingindo ser algo que não somos. Nós estamos fingindo ter algo que não temos. Não somos livres para decidir o que fazer com esse relacionamento, somos marionetes nas mãos de pessoas poderosas e eles assistem nossas vidas come se fosse um filme.

Até hoje nós fingimos não ter magoas, mas elas ainda estão aqui e agora doem mais. Está na hora de sufocar esse amor até sentir que vou explodir, é mais fácil esconder do que resolver. Sinto Justin se aproximar de mim. Suspiro. Uma última respiração até que as lágrimas comecem a cair.

Ele beija meu ombro, eu largo a xicara de chá na mesa ao meu lado. Viro-me e o beijo, ele retribui na mesma intensidade.

Um beijo de distância de matar a fantasia que estamos vivendo.

Suas mãos percorrem meu corpo e Justin levanta minha camisola, o seu toque em meus seios me traz a realidade e eu me afasto.

- O que foi agora? - Ele pergunta.

- Nada. Só achei que estávamos indo longe demais. - Falo normalmente, pego o meu chá e volto a toma-lo.

- Nós podemos ir longe demais, Norah. Nós somos casados. - Justin diz noto uma pontinha de irritação em sua voz.

- Não vou fazer sexo com você. Não até saber que você não tem nenhuma doença. - Digo e sento-me no sofá.

- Eu não tenho nenhuma doença. - Justin diz.

- Ah é? E como você sabe? Pelo que eu sei você dormiu com muita gente nesses últimos tempos. - Minha voz sai mais acusatória do que planejado, ele estreita os olhos para mim.

Estávamos pisando em ovos e eu acabei de quebra-los.

- Nós estamos indo tão bem, Norah, por favor não traga esse assunto à tona.

Todos os nossos problemas voltam para o início, uma única magoa no passado é o que nos faz estar estagnados no presente. Não é a falta de amor, é a falta de cura. Ele traiu primeiro. Ele que começou.

- Esse assunto é a nossa realidade, para o que nós voltamos amanhã. Não essa fantasia que nós estamos vivendo aqui. - Digo e o encaro, esperando por sua resposta.

Justin se vira de costas e começa a ir em direção as escadas, mas então ele para e diz:

- Você foi embora e se isolou no próprio mundo de eventos e trabalhos, eu me senti sozinho.

- Isso não te dá o direito de ficar com outra pessoa, Justin. - Respondo irritada - Você traiu. Eu sei que errei e odeio ter escolhido o trabalho em vez de nós dois. Mas você entregou o seu beijo para outro alguém, o beijo que era para ser só meu. O seu amor era para ser só meu.

Minha voz sai falhada, a garganta aperta e eu respiro fundo tentando não deixar as lágrimas escorrerem. Ele não se vira, não fala nada, apenas sobe as escadas e eu ouço a porta do quarto bater.

Desabo no sofá e choro. Odeio essa situação, e o pior é que é tão fácil resolve-la.

Nós só precisamos perdoar.

Perdoar.

Como algo tão simples pode ser tão difícil?

Mais tarde subo para o quarto de hospedes e durmo lá, antes de adormecer procuro pelos vídeos do nosso casamento. Assisto várias vezes o momento em que Justin canta para mim "Never be alone". Já estava doendo mesmo, então decidi deixar toda a dor sair e tomar conta de mim.

No outro dia quando acordo a casa já está vazia. Desço as escadas para tomar café e as minhas malas já estão todas prontas a minha espera, o motorista avisa que Justin foi em um voo mais cedo pois ele tem show hoje. Deixo a casa com um sentimento de pesar, já sinto saudade dos dias que passamos aqui.

After YesOnde histórias criam vida. Descubra agora