Reflexo

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É quase madrugada de sábado e eu estou sozinha em uma casa enorme, já olhei dois filmes no Netflix. Poderia colocar uma roupa, me arrumar toda e ir para as baladas como Justin fez, mas meu ânimo para isso é zero. Sempre gostei de sair para festas quando era solteira, mas quando você é casada e metade do mundo está te observando, isso meio que perde a graça. Justin sempre dá um jeito de esconder suas saídas, mas isso quer dizer gastar muito dinheiro para tapar furos e eu não estou disposta a isso.

Vou até a cozinha pegar uma água e algo para comer, olho no relógio da parede e são quatro horas da manhã. Quando estou voltando para o quarto, antes de chegar nas escadas, vejo pelas grandes janelas Justin chegando em casa. Ele não está sozinho, uma menina quase da minha idade o acompanha. Ela é alta e esbelta, seu cabelo preto é bem curtinho. Eles caminham lentamente até a porta, Justin está mais sendo carregado por ela do que andando sozinho. Ao chegar na porta, a menina pega a chave que estava na mão dele e os dois começam uma luta com a fechadura. Fico alguns minutos só observando aquela cena patética, até quando eles começam a rir igual dois retardados e eu decido ir ajuda-los.

Abro a porta e os dois quase caem em cima de mim, a menina se endireita rapidamente ao me ver.

- Pode deixar que eu cuido dele. - Digo passando o braço ao redor de Justin, sinto o cheiro de álcool impregnado em sua roupa quando seu corpo se choca contra o meu. A menina não parece tão bêbada como minutos atrás, ela me encara assustada. - Como vocês chegaram até aqui?

- Eu dirigi, não estou tão bêbada quanto ele. - Ela responde piscando rápido, os cílios postiços longos demais devem estar a incomodando.

- Tudo bem. Você tem como voltar para casa? - Ela balança a cabeça negando.

Acompanho Justin até o sofá e o deixo sentado ali, ele parece estar perdido em seu próprio universo. Vou até minha bolsa e procuro pela minha carteira, pego um valor que a meu ver resolveria o problema de como ela sairia dali.

- E agora? - Estendo o valor em sua direção, ela não hesita em pega-lo.

- Sim. Obrigada.

A garota vai embora sem muitos rodeios, fico aliviada ter sido fácil de lidar com ela. Viro-me e encaro meu marido no sofá, ele está dormindo completamente jogado. Eu poderia deixa-lo ali e fingir que nem tinha visto nada, mas nunca conseguiria fazer isso. Justin e eu poderíamos não nos dar tão bem - nada bem - mas ele ainda é o Justin, o cara com quem a três anos atrás eu não hesitei em dizer sim no altar. Nosso casamento não está sendo como imaginei, agora eu o amo de uma forma diferente, talvez em uma quantidade diferente do que antes, mas pouco o suficiente para ainda me importar com ele.

- Justin. Justin, acorda. - Digo dando tapinhas leves em sua bochecha, mas ele só resmunga. Começo a puxa-lo pelo braço até conseguir colocá-lo de pé. Mesmo não sendo tão pequena, ele ainda é maior que eu. Meio acordado e meio dormindo, conseguimos subir as escadas e eu o levo até seu quarto.

Tiro seu casaco e depois a camiseta, nesse ponto ele já está acordado e parece um pouco enjoado. Ele me olha atento quando começo a desabotoar sua calça.

- Ei! Eu sou casado, sabia? - Olho para ele e tenho vontade de rir, como se eu fosse a única mulher que abrisse suas calças.

- Sei sim. Vem, vamos tomar banho. - O puxo para o banheiro.

- Eu não quero tomar banho. - Ele resmunga.

- Você está fedendo, precisa tomar banho.

- Não quero. - Ele puxa sua mão da minha e para antes da porta do banheiro, cruzando os braços. Viro-me para Justin e também cruzo os braços imitando sua infantilidade, depois de alguns segundos vou para trás dele e o empurro, mas ele tranca os pés no chão.

After YesOnde histórias criam vida. Descubra agora