Mais uma vez, meus olhos a seguem pelo corredor.
Sua postura impessoal e seus passos firmes sobre os saltos agarram a minha atenção com tanta força que, ainda que eu mantenha a indiferença como tenho feito à dias, me vejo preso a sua figura da mesma forma como um dependente se vê preso ao motivo do seu vicio.
Duas semanas.
Há quase duas semanas que estamos nisso. Sem olhares, sem sorrisos provocativos ou nossos pequenos conflitos de ego dentro da sala de aula.
Assim como fizemos antes de nos deixarmos levar e acabarmos na minha cama, estamos mutuamente ignorando um ao outro e agindo como se nada tivesse acontecido, com a exceção de que não estamos fazendo isso por conta do nosso acordo. Muito pelo contrário. Agora é por teimosia. Simples e pura.
Não que isso seja uma novidade. Na verdade, eu deveria estar acostumado. Ou melhor, não dar a mínima. Afinal, combinamos que seria apenas sexo e nada além disso.
Se fico ou não com outras garotas, não é algo que realmente lhe diga respeito, pois como eu disse, ela não pode se intrometer na minha vida e o mesmo vale para mim.
Somos somente duas pessoas que querem saciar o desejo entre quatro paredes e ponto. Fora delas, a situação é completamente diferente.
Bem, ao menos a minha intenção era acreditar nessa ideia, mas não é o que está acontecendo. Ainda que eu lute contra, a cada dia que passa sinto-me mais e mais incomodado, e nem sei o porquê.
Desde aquele dia, quando fui flagrado aos beijos com outra, as coisas andam muito estranhas dentro da minha cabeça. Para ser sincero, antes disso. Aquela mesma sensação estranha de tempos atrás vem me corroendo de novo e parece ter ficado muito mais forte depois que finalmente consegui tê-la em meus braços.
No inicio, eu pensei em dar-lhe uma explicação. Afinal de contas, fiz o que fiz por ter ficado com raiva e para mostrar que poderia muito bem estar com outras pessoas, que uma noite não significava absolutamente nada.
Mas entrar no seu joguinho do silêncio foi mais fácil do que passar por cima do meu orgulho. Só o que eu não imaginava era que aguentar seu descaso se tornaria tão difícil. E tão angustiante.
Quando a vejo nos corredores ou entrar na classe e fingir que eu sequer existo, que sou apenas mais um entre seus alunos, um embrulho incomum me acerta o estômago. O que só piora quando ela está com o babaca do professor de matemática, distribuindo os sorrisos e olhares cheios de significado que antes eram para mim.
Me deixa louco!
– Se a sua intenção é disfarçar, desculpe dizer, mas você não está conseguindo.
Saio dos devaneios e dou de cara com Jimmy, que se põe ao meu lado.
– Já está na hora de voltar? – desconverso.
– Não, ainda falta alguns minutos.
Solto um suspiro e consinto. Pego o celular no bolso da calça para me distrair, mas, inconscientemente, meu olhar acaba recaindo sobre a conversa alheia perto das escadas. Mais um suspiro escapa, junto com uma risada sem humor.
– Ficará nessa até quando? – pergunta – Já perdi as contas de quantas vezes te peguei olhando para ela, e pior, querendo arrancar a cabeça do professor Jackson sempre que os encontra juntos. Tipo, como nesse exato momento.
Respiro fundo e me apoio no batente da janela, desviando a atenção para qualquer coisa que não seja aqueles dois e o amigo enxerido ao meu lado.
– Não sei do que está falando. – digo.
– Ah, por favor. Não se faça de besta! Está tão na cara que até o mais idiota pode ver.
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Irresistível
RomansaClara é uma brasileira que está trabalhando em Londres como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 18 anos, que ainda por cima é se...