Capítulo 12

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Espantada, observo a porta escancarada por John à alguns instante atrás e logo depois os meninos no fundo da sala, que agora se preparam silenciosamente para o lanche assim como os demais, e continuam com a mesma expressão de antes, um misto de surpresa e indignação que só aumentam o meu sentimento de culpa e...

Não! Não e não. Ele mereceu, óbvio que mereceu, e não será alguns pares de olhos censuráveis e nem aquele rostinho amargurado que não abandona a minha mente que me farão mudar de ideia. John Berryann é um pé no saco e procurou por isso, então não há razões para me sentir culpada. Não mesmo.

Ou, pelo menos, é nisso que eu quero acreditar.

O sinal do intervalo finalmente toca e eu dispenso os alunos para que desçam, acabando com o clima tenso que se formou graças à discussão que tive com ele, embora o grupinho do fundo ainda lance suas faíscas sobre mim.

Sozinha, deixo um profundo suspiro escapar e sento em minha cadeira, olhando automaticamente para o céu nublado através das vidraças. Outro suspiro vem.

Ok, talvez eu tenha realmente exagerado. Apesar de todos estarem acostumados com a nossa habitual mania de debater sobre tudo, foi bastante antiético da minha parte ter dito tudo aquilo em frente a classe, e tenho plena consciência de que hoje a situação passou dos limites. John sair daquela maneira inesperada e visivelmente furioso, sem ao menos soltar uma de suas afrontas, é a prova disso.

Mas, céus, ele é tão estressante! Como não vou explodir com aquela criatura?! Primeiro se mete na minha vida, depois me beija e, pra finalizar, testa a minha paciência com uma brincadeira sem graça só porque foi rejeitado na biblioteca.

O que eu deveria pensar de um comportamento assim? Huh? Para mim, está muito claro que é um garoto mimado e que só faz esse tipo de coisa para chamar atenção quando não consegue o que deseja. Sim! Ele é um filhinho de papai mimado e que esbanja o dinheiro que tem com seus caprichos idiotas. Ele é um idiota!

Guardo os materiais dentro das pastas e saio da sala, em direção a sala dos professores, para, ao menos, conseguir tomar uma xícara de café, já que perdi metade do intervalo divagando sobre aquele garoto.

Desço as escadas à passos vagarosos e caminho pelos corredores silenciosos, ouvindo ao longe as vozes dos alunos, até chegar ao meu destino.

Entro, cumprimento a todos e meu olhar recai sobre Jackson, que conversa animadamente com a professora de filosofia e o professor de química. Respiro fundo.

Assim como tive que encarar Berryann, tenho que fazer o mesmo com o meu colega de trabalho, ainda que as coisas entre nós sejam um pouco mais complicadas - se bem que eu nem tenho mais certeza do que é pior.

Me aproximo de onde estão para colocar as pastas sobre a mesa e seus olhos logo estão em mim, seguidos por seu inconfundível sorriso gentil. Mas, ao invés de sentir-me reconfortada com seu gesto, o turbilhão que teima em revirar meus sentimentos só aumenta.

– Pensei que tinha faltado. – ele diz.

– Digo o mesmo. Não te vi quando cheguei e você é sempre um dos primeiros à chegar.

– Meu carro enguiçou no meio do caminho, tive que esperar o guincho. Por isso atrasei. Era falta de óleo. Eu sempre esqueço de trocar. – dá de ombros.

Jackson entrega-me um copo com café. Sorrio e aceito de bom grado.

– Obrigada.

Ele apenas meneia a cabeça e senta ao meu lado.

– Demorou para descer.

- Estava ajeitando alguns papéis - minto e dou um gole na bebida.

Enquanto bebo o café que serviu, ouço-o falar sobre qualquer coisa, sem de fato prestar a devida atenção e tudo porquê o semblante repleto de ódio e amargura daquele garoto não sai da porcaria dos meus pensamentos, por mais esforço que eu faça.

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