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A anemia aplástica é um tipo de doença auto imune e idiopática, ou seja, sem causa definida onde a medula óssea deixa de produzir a quantidade adequada de sangue. Produz sintomas como palidez, marcas roxas na pele sem motivo aparente e longas hemorragias mesmo em pequenos cortes, sendo subdividida em anemia moderada ou severa (grave). Quando não é devidamente tratada, pode levar à morte devido a infecções em aproximadamente 10 meses.

Harry poderia ser considerado um anjo.

Ele era definitivamente a pessoa mais doce e positiva que todos poderiam conhecer, tendo em si uma luz única que extravasava à cada respiração dele. Carregava consigo uma alma pura e suave, sendo sempre extremamente gentil e amoroso com todos; certas pessoas chegavam a invejar aquilo. Era dono de uma paciência surreal e um coração tão bom quanto o de um anjo.

Nem mesmo se toda a sua família já não estivesse mais no mundo e ele estivesse basicamente destinado ao mesmo caminho, ele deixaria de sorrir gentilmente para todos e lhes desejar um bom dia animado enquanto caminhava pelo aeroporto. Forte, era o que ele era. Pois a vida, tão cruel como é conhecida, havia lhe dado todas essas tristezas.

Harry perdera sua irmã mais velha semanas atrás. Era a que restava após sua mãe ter morrido também devido ao todo o azar que se alimentava da família. Certo, o garoto não passava seus dias se rastejando e lamentando o quão azarado ele era, mas tinha a consciência de que sim, uma doença relativamente rara e com pouquíssimas chances de ser genética, havia pego sua mãe, irmã e agora ele.

Após perder sua família, fora obrigado à fazer dezenas de exames para descobrir se ele era o próximo azarado que morreria dali à dez meses. Embora soubesse que tinha demasiada chance de estar propício a ficar doente, seu coração se partiu em pedaços com a confirmação. E era aquilo.

Em Holmes Chapel, uma família terminava de deixar de existir devido à anemia aplástica.

Harry teve de segurar a risada quando o médico lhe ofereceu duas opções. "Você quer entrar na lista de espera para a doação de medula e começar o tratamento agora ou esperar uns meses até que a doença realmente comece a se manifestar para então começar?" Ele jurava que não sabia como não riu com aquela pergunta. Se perguntou o quão tolo aquele médico era para questioná-lo sobre aquilo.

Quantas chances ele tinha, afinal? Sua mãe e irmã estavam mortas mesmo após o tratamento e dois anos na lista de espera, por que algum ser superior decidiria que era a ele que lhe daria a chance de sobreviver? Ele não seria tolo.

Entretanto, ainda não era todo negativo. Harry era um anjo, no fim das contas. Toda sua esperança e positividade não haviam sido destruídas por completo, portanto tomou sua decisão. Iria juntar todo o dinheiro que lhe restou e viajaria o mundo, desejando morrer feliz por ao menos ter realizado seu sonho. Havia se inscrito na lista para doação de medula, entretanto começaria seu tratamento apenas quando os sintomas começassem.

E ali estava ele. Os olhos inchados por noites chorando — era forte, entretanto um ser-humano —, contudo um sorriso suave para as pessoas que o olhavam enquanto passavam por si, ele realmente murmurou "bom dia" para todos enquanto caminhava vagarosamente até a fila de embarque para Seattle.

Harry não havia comprado todas as passagens de uma vez, embora tivesse anotado em sua agenda a ordem dos países que visitaria, os hotéis que ficaria e os lugares turísticos que conheceria; o garoto conhecia a si mesmo o suficiente para saber que algum imprevisto poderia acontecer — era seu desastre junto com o seu azar — e ele poderia perder algum voo. E bem, ele tinha dinheiro, mas não tanto para pagar as multas caso perdesse algum voo.

Amsterdam | l. s.Onde histórias criam vida. Descubra agora