O mais difícil da vida não é viver e sim, saber quem de fato te quer bem de verdade. Sabe aquele enjoo que você tem quando está em num barco em alto mar? Pois é. Pensa isso. Agora multiplique essa sensação por dez. Era isso que eu sentia quando abri os olhos depois de ter dito... am... que eu disse mesmo? Ah sim! Depois de eu ter dito "Tempus". Ao meu redor, tudo parecia normal exceto pelo fato de que ninguém se movia. Nem mesmo as partículas de poeira saíam do lugar. Nada. Mexi meus dedos, um pouco doloridos, e conferi se tudo estava em ordem comigo mesmo.
- Confere. Você não morreu.
Resolvi me levantar e dar alguns passos no meio do tempo parado pra ver o que eu podia e o que eu não podia fazer: me arrependi. Quando estava mais ou menos no meio do corredor da minha fileira de carteiras, uma dor insuportável começou a esfaquear minha cabeça. Pareciam literalmente facas perfurando meu crânio de forma que era quase impossível simplesmente piscar os olhos. Recostei-me na carteira que a menina de laço tinha deixado ao se levantar para sair de perto de Felipe e Caio, na esperança de que a tortura passasse. Se isso resolveu infelizmente não pude responder por que quando dei um simples flash nas minhas pálpebras, eu já havia voltado pra minha carteira e feito os trabalhos que os irresponsáveis dos meus amigos não tinham se lembrado de realizar.
- O que? Mas não tem nenhum segundo que eu...
- Não é assim que funciona garoto. - A voz do "homem sombra" agora estava dentro da minha cabeça me atordoando em combo com a dor infernal.
- Ah! Que beleza. Como se não bastasse essa tortura agora você tá aí dentro também?
- Para de reclamar. Aliás, é isso mesmo. Cale essa bendita boca! - imediatamente eu já não falava. Era constrangedor. Eu estava recebendo ordens de uma simples sombra. Uma SIMPLES SOMBRA!
- Se você puder parar de me menosprezar também, eu vou agradecer muito sabia?
- Me deixe falar que eu não digo suas verdades espertão. - provoquei-o nos pensamentos.
- Tá bom, tá bom. Mas, pensa pra soltar as palavras, certo?
- Isso é estranho. Muito estranho. Em todos os ângulos. Na verdade, o que é que tá acontecendo?
- É difícil te explicar... Mas pense em mim não como uma reles sombra como você vive imaginando, e sim, como uma força antiga, viva entre aspas, e... Sem um modo físico de se expressar...
- Opa, opa, opa. O que você quer dizer com esse "sem um modo físico de se expressar"? - agora, sinceramente, eu estava nervoso.
- Calma. É basicamente... Como se eu não pudesse aparecer pras outras pessoas. Aquela imagem que você vê, de mim em um terno, bem, aquilo é só pra você. Pra que eu consiga falar e interagir com o mundo normal eu preciso de um hospedeiro... Tipo isso.
- Tá dizendo que você... Me possuiu? - já me levantei da mesa como se aquela criatura tivesse até ofendido minha mãe.
- Não. E só pra te falar, tudo ao seu redor é instável beleza? Continua estressado desse jeito e daqui a pouco você vai quebrar linhas temporais desse povo todo aqui na sala. Escuta. Possuir é uma palavra muito forte, mas isso de fato pode acontecer. Essa dor que você está sentindo é a do seu cérebro, alma e consciência resistindo ao poder da pedra e à minha presença encrustada nela. Se abusar muito da força dela, eu posso acabar tomando conta do seu lado e aí sim teremos um problema.
- Problema? Como assim?
- Digamos que eu assumo o controle. E eu não sei lidar muito bem com o poder, no sentido literal da frase. Enfim... Só se lembre de usar esse artefato quando realmente precisar.
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Tempus - A Criação
Narrativa generaleMiguel é um jovem de 18 anos que subitamente descobre inúmeros segredos a respeito do passado da humanidade e dos primórdios do mundo e do universo, que por sua vez, o fazem repensar diversos fatores relacionados ao início de tudo: até que ponto o q...