Luzes verdes no túnel

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Levanto-me cansada, com a lua repulsando-me ao chão. Meus olhos doloridos pedem socorro, minha garganta solta um grito por uma atenção.
A luz no fim do túnel torna a rodovia em um corredor. Vejo vários buracos no asfalto, tento medir a profundidade, mas é incalculável à olho nu.
Dando passos lentos e calculados, vou desviando-me dos poços infinitos.
Vou andando em esperança com o brilho da luz. Mas ele não é o único. Atrás das pequenas rochas ao lado da rua deserta há outros pontos de luz verde.
Acelero meus passos. O medo pegou-me pelo frio subindo as costas.
Ao fundo dos ouvidos, ouço um grito de uma crianca: - Corra!
Olho desesperada para atrás e vejo várias pessoas em pé, em cima das pequenas rochas. Com as cabeças baixa e vestindo roupas preta, mas ainda percebo os pontos verdes dos seus olhos.
Esse grito soou como uma sirene de toque de recolher, pois despertou em minhas pernas fraquejadas um aviso para o uso da força final. Rapidamente, centralizo todas as forças nelas, que junto as caretas desmanchadas ao vento, redobro a velocidade de meu corpo.
Saiu em corrida ao túnel, a luz no seu final prende meus olhos. Eu conseguirei.
Mas viro-me para trás quando um som agudo tocou meus ouvidos. Flechas em chamas perfuram o ar. Como estrelas estão a brilhar no céu.
Como o quebrar de uma onda, essas flechas mudam de direção, não mais para o horizonte e sim ao chão.
Pontas afinadas atravessam minhas costas, que começam a derreter pelo fogo que as chamuscam.
Sem mais reações esparramo-me ao asfalto. Como um riacho, meu sangue preto pulava de minha boca.
Pontos verdes se aproximam de mim. Com várias lanças estão a me cercar. Não há como escapar.
Quando rodeavam-me, um que estava na frente dos outros levantou as mãos, e todos paravam. Tirou sua máscara, e o reconheço, meu amigo, E.
Aguachou-se a mim. E com os dois dedos, enterra-os em meus olhos. O grito ensurdece-me.
Com os gestos desesperados vou engatinhando ao chão. Mas tinha esquecido-me dos buracos. Eu caiu em um. Adeus.
A cada segundo sentia algo esguentar-me, não sei o que. Depois de muito tempo, minha pele começa a se desfigurar, a derreter. Uma última gota escapa-se dos olhos furados. E evapou-se no momento em que desmancho-me em lava ardente.

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