Como se estivessem conectados, em total sincronia ambos giraram os registros e deixaram a água quente tomar conta dos corpos inquietos; nervosos. O perfume emanado daqueles banheiros tão distantes e tão pertos ao mesmo tempo, era um misto de shampoos e sabonetes, mas se a ansiedade tivesse cheiro, seria esta a fragrância predominante em meio a todo aquele vapor e espuma. O reboliço no peito em dose dupla parecia que aumentava conforme o horário marcado se tornava cada vez mais perto.
Vinte...
Dez...
Cinco minutos.
Por que a hora voava daquele jeito?
— Me empresta o carregador, o meu sumiu. — Bruno, como de costume, invadiu o quarto do irmão sem sequer pedir licença. — Oxi, vai sair? Terá que ir de Uber. Pega dinheiro na minha carteira porque vou usar o carro hoje.
Felipe continuou a afivelar o cinto; estava ansioso demais para dar atenção ao irmão. Apesar de as brigas corriqueiras e estresses com a rapaz que finalmente saiu da adolescência rebelde, Bruno sempre acabava paparicando o caçula... e oferecendo dinheiro.
— Valeu, mas um... amigo vem me buscar — disse baixo junto a dois jatos de perfume, concluindo de vez a produção.
"Você veio e mexeu comigo, depois disse que era apenas... um amigo. Quem você quer enganar?", a música soou da televisão ligada no quarto, na qual transmitia os instantes finais da novela adolescente. "Você pode até tentar, mas isso não tem jeito. Quem vai acreditar? Difícil convencer...", por fim ele mesmo resolveu desligar a TV inconveniente.
E fofoqueira!
Já com o carregador branco em mãos pego de sobre a cômoda, o rapaz interrompeu o trajeto para analisar Felipe de baixo a cima. Embora soubesse da orientação sexual do irmão, vê-lo sendo apanhado em casa por um homem era novo para ele — só não sabia se Felipe tinha vergonha de levar seus amigos em casa ou os amigos que evitavam tais situações. Mas, o que intensificou tudo, foi o fato daquela saída estar sendo justamente no Dia dos Namorados, "será um relacionamento sério?".
— Ok, então. — Prosseguiu sem mais palavras, porém, tornou a se virar, já sob o batente da porta. — Eu conheço o cara?
O riso nasal de Felipe surgiu de imediato. Aquele tipo de cena era bem comum, afinal, Renata, a qual era considerada uma irmã pelos dois, tinha seus momentos de alvo da preocupação enciumada de Bruno.
— Ninguém conhece ninguém nesta vida — filosofou, sendo acompanhado pela buzina vinda de fora. E, sem disfarçar a curiosidade, Bruno rapidamente correu até a porta de entrada. — Oh, doido, o que você vai fazer?
A corrida à porta não foi longa. Segundos mais tarde Bruno já girava a maçaneta, puxando-a sem nenhuma cerimônia e encontrando após se pôs no corredor externo daquela pequena casa, um rapaz sobre a moto azul através das grades do portão negro. Rapaz o qual não tardou a notar sua presença, removendo finalmente o capacete. Ato que fez Bruno julgar ter a mesma idade do sujeito.
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A Seta [COMPLETO]
RomanceAVISO: esta história foi adaptada para duas versões: gay e lésbica. Há a sinalização no título de todos os capítulos, basta ler a versão que lhe agradar mais. Respeitar as leis de trânsito é a obrigação de qualquer cidadão sensato, caso este não que...