O Passeio no Bosque

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- A levarei à um lugar especial, Luce. Foi nele que passei alguns dos meus momentos de tristeza e solidão. Antes de te encontrar, é claro.

- Você é tão jovem, mas ás vezes age como quem já sofreu por uma vida inteira. Como quem sofreu por amor uma vida inteira.

Daniel continua em silêncio guardando toda sua angustia para o momento em que mais uma vez perderia seu amor. É assim a séculos. É assim a cada dezessete anos. Várias corpos para ela, mas a mesma alma que Daniel sempre amara e também a mesma morte com a qual ele luta sem conhecer sequer uma arma.

Daniel segura sua mão e a guia entre as árvores.

- Venha! É por aqui.

Luce tenta não pensar em como aquele rapaz - que ela conheceu um dia após seu aniversário de 17 anos - consegue causar arrepios por todo seu corpo com apenas um toque inocente. Assim que olhou em seu olhos foi como se sua alma ansiasse por ele desde o momento em que veio ao mundo.

Ela sorri, mas lembra que ele mudou de assunto - mais uma vez - ao perceber o quão profundo foi seu comentário. Ela ainda não entendera por que seus olhos dizem que a amam tanto e em tão pouco tempo mas mesmo assim ele não a deixa chegar perto. Não compartilha sua vida ou quaisquer dos pensamento que ele esconde em seus olhos.

Lucinda se pergunta se é realmente possível que alguém tão jovem como ele tenha em si feridas tão amargas quanto as que aparenta carregar.

- Você é tão cheio de mistérios... E é muito bom em não revela-los também.

- Não para você. Apenas desejo que tenha paciência. Acredite em mim, eu adoraria compartilhar tudo que há em minha alma com você.

- E você pode, Daniel. Eu sinto o mesmo por você e...

- Shhhhh!

Daniel para em sua frente e põe, carinhosamente, dois dedos em seus lábios para que ela faça silêncio. Como são suaves os lábios de sua amada. Cada célula de seu corpo reage com frenesi o fazendo esquecer o quão perigosa é sua aproximação.

Lucinda e Daniel, não se sabe como, estão agora a um passo um do outro. Respirações intercaladas. Arrepios atrasados se espalham pelos corpos de ambos. E então... Flashes violentos de fragmentos de memória perpassam ao redor de Daniel. Gritos, morte, dor, sofrimento, angustia e solidão apagaram o brilho de sua iris. Junta a eles a primeira das sombras desde que a encontrou nessa vida. Em seu olhar o desejo se torna dor. Eis ai o anúncio de que sua amada partiria, outra vez, em breve.

Lucinda se assusta com maneira brusca com a qual Daniel se afastou. Seus olhos, agora tristes, encaram os próprios pés.

- Me desculpe. Eu não deveria me aproximar assim.

- Por que não? Não a nada de errado se ambos queremos.

- Tudo é mais complicado do que lhe parece.

- Não há nada de complicado em um beijo... Lucinda levanta o rosto para encara-lo.

- A não ser que sejas comprometido com outra.

Por um instante Daniel se pergunta como ela chegou a essa conclusão. Ela não sabe que ele a ama? E todas ás vezes que ele a perdeu? O sofrimento que ele continua a sentir sempre que a vê partir. As respostas eram muito simples. Ela desconhece a imensidão desse amor e não faz a miníma ideia de quantas vezes seu coração foi esmagado com sua partida.

- Não, eu jamais faria isso com você.

Ela permanece calada. Não sabe mais o que dizer ou fazer. O rubor em seu rosto exalta seu constrangimento e ao senti-lo aumentar volta a abaixar a cabeça.

Don't Let Me FallOnde histórias criam vida. Descubra agora