Um ambiente inflacionário costuma trazer perdas razoáveis para a sociedade. A mais clara delas é a concentração de renda. Com a inflação em alta, o segmento rico da população tem acesso melhor e mais amplo a fundos indexados, podendo assim se proteger, e as vezes ganhar, da alta de preços. Já o segmento pobre dificilmente tem como proteger seus rendimentos da inflação. Em resumo, a inflação acaba por transferir renda dos mais pobres para os mais ricos, piorando assim a concentração de renda no país. Esse fato é amplamente conhecido, e a evidência empírica sobre ele abundante.
A piora na concentração de renda não é o único malefício da inflação, podemos citar ao menos dois outros problemas associados a ela. O primeiro refere-se à incerteza. Na ausência de inflação, uma empresa sabe (ou tem um razoável grau de certeza) sobre seus custos e faturamento futuros. A empresa sabe quanto pagará pelos materiais que precisa comprar, sabe quanto pagará aos empregados e sabe também por quanto poderá vender seu produto. Caso a empresa necessite de dinheiro para novos investimentos, ela pode então calcular seu lucro esperado para os próximos anos. De posse dessas informações, ela pode ir ao setor financeiro e captar recursos (empréstimos) para sua expansão. De maneira semelhante, os bancos (ou outros financiadores/credores) também serão capazes de avaliar (com razoável grau de certeza) em quais projetos estão dispostos a arriscar seu capital. Contudo, tudo isso muda de figura num ambiente inflacionário. Com a inflação em alta – e com as pessoas e empresas acreditando que a inflação será ainda mais alta no futuro –, o grau de incerteza sobre a economia aumenta. O empresário passa a ter dificuldades em calcular seus custos/receitas futuros, pois ele não tem informação sobre o preço que terá de pagar a seus fornecedores, e tem dificuldade em calcular por quanto será capaz de vender seu produto no futuro. Assim, o planejamento futuro da empresa torna-se mais difícil. Além disso, os investidores passam a investir mais seu dinheiro em fundos indexados (títulos do governo por exemplo) e menos na expansão das empresas. Em outras palavras, o aumento de incerteza que acompanha a inflação diminui o nível de investimento das empresas. Muitos empresários passam a investir menos na expansão da empresa e mais em títulos do governo. Movimento semelhante ocorre entre os trabalhadores, que preferem aplicar seu dinheiro na segurança de um ativo indexado do que arriscá-lo na abertura/ampliação de novos negócios. Esse parágrafo tentou evidenciar os efeitos maléficos do aumento da incerteza sobre as empresas, mas a mesma racionale pode ser aplicada ao cidadão comum. O aumento da inflação afeta o cidadão comum tornando este mais inseguro quanto ao nível de gastos que irá efetivar, e dificultando não só sua decisão de quanto gastar, mas sobretudo em quais mercadorias gastar. Afinal, com o aumento acelerado dos preços é difícil ao cidadão comum saber quais produtos estão aumentando de preço mais rapidamente do que os outros. Em termos técnicos, o individuo tem dificuldade de realizar o que esta acontecendo com os preços relativos das mercadorias.
Outro problema que pode ser associado a inflação refere-se aos custos de transação (custos associados a compra ou venda de mercadorias). Quando a inflação está baixa, compras com o cartão de crédito ou a prazo são extremamente simples. Contudo, num ambiente inflacionário esse tipo de transação torna-se pouco comum. Afinal, as empresas não aceitam ter que esperar mais de uma semana para receber o dinheiro pois temem a desvalorização do mesmo. Assim, a maior parte das transações devem ser efetivadas com pagamento à vista, ou relegadas a prazo em troca de juros extremamente altos (para compensar o risco de desvalorização). Em casos extremos de hiperinflação até o dinheiro perde o sentido, com as pessoas passando a fazer negócios apenas com ativos reais (ouro, gado, imóveis, etc.) ou com moedas estrangeiras confiáveis (como o dólar por exemplo).
Mas se os custos associados a inflação são tão altos, então por que algumas pessoas defendem a ocorrência de inflação? Essa é uma pergunta importante, e especialistas têm debatido essa questão por um bom tempo. Ocorre que algumas pessoas acreditam numa relação negativa entre inflação e desemprego. Em palavras mais simples, é possível que quando a inflação aumente o desemprego caia. De maneira similar, também é possível que uma queda na inflação aumente o nível de desemprego da economia. Essa relação é conhecida em economia como curva de Phillips.

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Fatores Determinantes da Riqueza de uma Nação (2007)
Non-Fiction*** Este livro foi escrito em 2007 *** Em junho de 2018 foi disponibilizado aqui*** Por que alguns países são tão ricos enquanto outros são tão pobres? Economistas, filósofos, cientistas e políticos têm se debatido sobre essa questão com afinco, mas...