5. Empreendedorismo

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Um argumento comumente usado para explicar o crescimento de um país reside em sua capacidade empreendedora. Em outras palavras, países com uma dinâmica de empreendimento mais acentuada teriam necessariamente que gerar mais negócios e mais empregos, por conseqüência deveriam ser mais ricos.

A racionale do argumento faz sentido, de nada adianta um país ter abundância de capital ou de trabalho se não existem empreendedores para criar novos negócios e novos mercados. A função básica do empreendedor é justamente juntar e combinar os fatores de produção com o fim de produzir algum bem ou serviço (seja ele pré-existente ou não). Dessa maneira, fica evidente que um maior número de empreendedores implica necessariamente num volume maior de negócios. Acreditando que um volume maior de negócios tem o potencial de gerar mais riqueza, chegamos à conclusão de que mais empreendedores implicam numa riqueza maior para a economia.

Contudo, existem pelo menos três lacunas ao argumento acima. Primeiro, um maior número de empreendedores não está necessariamente associado a um volume maior de negócios. Por exemplo, Henry Ford e Bill Gates são exemplos de que um único, mas extremamente arguto, empreendedor pode gerar mais negócios do que mil mal preparados empreendedores. Claro que se pode argumentar que empreendedores do nível de Ford e Gates são a exceção e não a regra. Mesmo assim, é difícil não reconhecer a diferença no volume de negócios gerado por uma gráfica caseira e uma editora. Em outras palavras, a disponibilidade de capital faz com que alguns empreendedores gerem um volume de negócios muito maior do que outros que não possuem um volume adequado de capital a sua disposição. Mas isso nos leva a admitir a possibilidade de que poucos, mas bem preparados, empreendedores podem gerar um volume de negócios muito maior do que muitos, mas mal preparados, empreendedores. Em outras palavras, a afirmativa de que uma economia com mais empreendedores do que outra deva necessariamente gerar um volume maior de negócios não pode ser aceita sem fortes contestações. Claro que com isso não estamos sugerindo que menos empreendedores seja preferível a mais empreendedores. Pelo contrario, mais empreendedores significa mais competição o que parece ser extremamente saudável para uma economia. Estamos apenas afirmando que um país com maior número de empreendedores do que outro não necessariamente terá um volume maior de negócios.

Segundo, não é tão claro que um volume maior de negócios tenha capacidade de produzir mais riqueza num país. Por exemplo, podemos entender traficantes e ladrões como sendo empreendedores de uma atividade ilícita. Mas quando tais tipos de empreendedores aumentam seus negócios, não é claro que a riqueza de um país como um todo aumenta. Pelo contrário, a atividade deles põe em risco uma série de outras atividades legais o que pode levar a uma redução da riqueza, e a uma piora no bem estar da sociedade. Outro exemplo é o caso dos camelos. Um aumento no número (ou no volume de negócios) destes pode perfeitamente levar ao fechamento de algumas lojas legais que – pelo fato de terem que pagar impostos e obedecerem à legislação – possuem um custo mais alto e não podem competir em preço com os camelos.

Terceiro, podemos considerar um vendedor de balas como um empreendedor? Tudo nos leva a crer que sim. Mas é difícil assumir que vendedores de bala em semáforos tenham identificado essa alternativa como uma possibilidade real de enriquecimento. Parece mais provável que eles tenham optado por esse caminho muito mais por necessidade do que pela visualização de uma oportunidade. Evidentemente, podemos argumentar que a necessidade é a "mãe" de todos os empreendedores. Afinal, sem ela parece razoável assumir que poucas pessoas arriscariam em negócios inovadores. Assim, sempre podemos argumentar que pouco importa se o motivador do empreendedor é a necessidade ou é a visualização de uma oportunidade de enriquecimento. O que conta é que a pessoa opte por ser um empreendedor, pouco importando o motivo principal que originou sua escolha. Apesar de estarmos inclinados a aceitar tal argumento, parece ao menos sensato dividir os empreendedores entre aqueles que escolhem o empreendedorismo por necessidade e aqueles que efetivamente vislumbram oportunidades de enriquecimento.

Fatores Determinantes da Riqueza de uma Nação (2007)Onde histórias criam vida. Descubra agora