Capítulo 53

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HAYLEY BLAKE

Uma semana após nossa chegada em Nova Orlẽans, finalmente reuni a coragem necessária para enfrentar o que eu fugia há anos, pisar no meu antigo lar, nas terras onde eu vivi durante toda minha infância, o lugar onde vi meus pais vivos pela última vez antes de serem mortos a sangue frio diante dos meus olhos.

Por insistência de Isaac, nos estabelecemos na residência do Supremo localizada no French Quarter, Clary não reclamou da água quente do chuveiro ou do conforto das camas dos quartos. Entretanto, todos os dias, eu passava algumas horas no Bayou, conversando com os lobos, mesmo sabendo que eles não podiam responder em voz alta, mas era agradável estar entre família novamente.

O aperto no meu peito se intensificou quando meus olhos vagaram sem foco no território vazio e solitário que um dia foi o lar de uma poderosa e forte família, um povo unido que foi despedaçado. Eu quase podia ouvir as risadas das crianças correndo pelo vento entre as árvores, o cheiro natural da vida selvagem ali, tudo me lembrava do meu passado que se perdeu no escuro.

Pisei na terra úmida, caminhando sobre o chão coberto de folhas e galhos secos. O frio matinal arrepiou minha pele, a luz do sol não alcançava aquela parte da floresta, nenhum som ou vida era detectado pelos meus sentidos. Tomei a trilha à esquerda que eu sabia que me levaria ao centro do território, a antiga casa dos Alfas da matilha, minha antiga casa.

Um suspiro trêmulo deixou meus lábios quando parei diante da velha construção de dois andares envelhecida devido ao tempo, aos pedaços, a lembrança de uma família que viveu feliz ali até sermos separados pela crueldade e vingança. Me abaixei diante da casa e peguei uma boneca velha jogada no chão, meus olhos arderam em lágrimas que eu não lutei para impedir de escorrer pelo meu rosto.

Apertei os lábios, sufocando um choro, mas foi em vão, as lágrimas desceram com intensidade, lavando as feridas que eu carregava na alma, cada machucada causado pela dor da perda dos meus pais, a perseguição, as traições e a rebelião. 

Como se fosse um presente dos céus, a luz do sol atingiu diretamente meu rosto, aquecendo-me como um beijo carinhoso que minha mãe costumava me dar todas às noites ao me colocar na cama. Ao fechar os olhos, eu podia jurar vê-la correndo pelos corredores da casa atrás de mim, o sorriso orgulhoso de papai ao nos ver, a risada alegre de Aiden.

Um cheiro familiar chamou minha atenção. Abri os olhos ao passar o dorso da mão pela minha bochecha molhada e olhei para trás, o sol agora iluminava uma parte da clareira, no local exato onde meu irmão me observava com os olhos brilhantes.

-Aiden?

-Ei, Bella?

Minha garganta fechou ao ouvir Aiden me chamar pelo apelido carinhoso que me deu na infância. Desde a rebelião, eu jamais o ouvira citar aquele nome novamente. Me coloquei de pé e praticamente corri até ele, me jogando nos braços do meu irmão, soluçando em seu ombro. Aiden me apertou com força, soltando um profundo suspiro ao acariciar meus cabelos. Quando consegui me acalmar, engoli uma lufada de ar, buscando manter o controle.

-O que está fazendo aqui?-ele me perguntou, secando meu rosto carinhosamente.

-Eu precisava fazer o que não tive a oportunidade há doze anos atrás, dizer adeus aos nossos pais.

A garganta de Aiden se moveu, ele segurou minha mão, enlaçando nossos dedos num aperto firme.

-Vamos fazer isso juntos.

Aiden ficou ao meu lado quando olhamos uma última vez para nossa casa, aquele não era já mais nosso lar, um dia foi, mas não mais. Para podermos finalmente seguir em frente e se desprender do passado, precisávamos daquela despedida que demorou mais de uma década para enfim acontecer.

Sangue Puro: A última Labonair ( Livro 1) - FINALIZADOOnde histórias criam vida. Descubra agora