Capítulo 76

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JACKSON LABONAIR

No exato momento que passei pela porta quebrada do chalé, eu soube que ela havia partido.

Nada me preparou para o desespero que me tomou ao visualizar a sala da cabana manchada de sangue, os móveis quebrados, em pedaços. Tão fragmentados quanto o choro desesperado da raposa sobre o chão manchado, ela emitia gemidos de dor e perda que ecoavam pelo espaço destruído. O cheiro doce da minha parceira começava a se dissipar pelo ar, sendo lentamente substituído pelo odor repulsivo da magia negra que pairava como uma nuvem de desespero e morte.

O corpo de Madison repousava sobre o sofá, ela estava viva, fraca, mas seu coração batia lentamente, um sinal de vida da bruxinha.

Eu não consegui encontrar palavras na minha garganta. Cada tentativa de falar resultava apenas em um nó apertando mais fundo. Sacudi a cabeça, me negando a aceitar a ausência de Hayley. Meus pés, movidos por um impulso automático, me levaram até o quarto que dormimos juntos nos últimos meses. O lugar onde nossas filhas foram geradas com segurança e amor. Mas só encontrei lençóis sujos de sangue e vazio. Um silêncio ensurdecedor tomou minha mente ao caminhar lentamente em direção à sala, onde Clary me esperava.

-Onde ela está?-mal reconheci minha própria voz ao perguntar. Ela soava rouca, quase irreconhecível, como se tivesse sido arrancada à força das profundezas do meu ser.

Clary fungou, esfregando o punho fechado no rosto, tentando conter as lágrimas que ameaçavam transbordar novamente.

-Eu sinto muito.

Trinquei os dentes, a raiva e a dor se misturando em uma tempestade de emoções insuportáveis.

-Onde está minha parceira? Onde está Hayley?

Clary ergueu o rosto vermelho pelo choro, os olhos inchados e os lábios trêmulos ao sussurrar:

-Ela se foi.

Uma dor profunda penetrou meu peito de forma avassaladora. Neguei veemente, recusando-me a aceitar aquelas palavras.

-Você está mentindo. Hayley não abandonaria as filhas, ela não me deixaria.

Clary se engasgou com o próprio choro, sua voz se quebrando em meio às lágrimas.

-Ela não teve escolha, Jackson. Hayley aceitou a unificação de Kisa para nos salvar.

A compreensão veio como um golpe físico, derrubando qualquer esperança que ainda restava. A unificação de Kisa era um sacrifício supremo, uma fusão de alma e corpo com uma entidade poderosa e antiga. Hayley havia feito isso para nos proteger, para garantir a segurança de nossas filhas e a nossa própria. A dor se transformou em um buraco negro, consumindo tudo em seu caminho, deixando apenas um vazio insuportável.

-Não, não pode ser...-minha voz era apenas um sussurro, uma sombra do que um dia fui.

Meu próprio corpo falhou. Eu desabei de joelhos no chão, uma dor rasgando meu coração com o fato de que eu havia perdido minha parceira, a luz da minha vida, minha predestinada pela Lua. O impacto contra o solo enviou ondas de choque de dor pelas minhas pernas, mas era nada comparado ao tormento que assolava meu espírito.

Clary correu em minha direção, seus passos desesperados ecoando no espaço vazio ao nosso redor. Ela se ajoelhou ao meu lado, seus braços imediatamente me envolvendo em um abraço apertado. Seu calor era reconfortante, uma tentativa desesperada de me oferecer algum consolo em meio à minha angústia insuportável. Mas nada poderia preencher o vazio que Hayley deixara. Nada poderia apagar a dor da perda que agora definia minha existência.

-Eu sinto muito, eu sinto muito-ela sussurrava repetidamente, sua voz embargada pela emoção, tentando alcançar a minha dor com palavras que mal podiam tocar a superfície do meu sofrimento.

Sangue Puro: A última Labonair ( Livro 1) - FINALIZADOOnde histórias criam vida. Descubra agora