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Estava me sentindo uma fugitiva, uma rebelde. A adrenalina correndo pelo meu corpo; me arrepiando toda. Deviam ser umas quatro horas da manhã e o sol ainda não havia dado nenhum sinal. Quando Colin trouxe sua moto, imaginei que seria uma coisa totalmente maluca. Mas parece que estou gostando dessas maluquices.

Talvez tenha protestado bastante ao subir na moto. Mas agora, com o vento batendo nos meus cabelos e me segurando nele, sinto como se nada fosse melhor. É como se Colin pudesse me proteger de tudo.

- Para aonde vamos dessa vez? - pergunto, mesmo com o vento vindo na direção contrária; fazendo com que minha voz saísse mais baixa que o normal.

- Acho que você ainda não percebeu que eu nunca direi - ele me diz, sorrindo.

Estávamos indo rápido demais. Era perigoso e era maravilhoso. As árvores iam se movimentando em sincronia conosco.

Ao chegar no lugar, percebo que não é tão diferente assim. É apenas uma praia.

- Sei que deve estar pensando no quão normal é uma praia - ele para e olha nos meus olhos. - Mas nada que um pouco de maluquice não faça por esse lugar, não é mesmo? - ele termina piscando para mim e eu desvio o olhar, envergonhada.

Sentamos na beira da praia. Estava frio, então me encolhi toda enquanto abraçava minhas pernas. Colin se levantou e tirou sua jaqueta preta para colocar nas minhas costas.

- Por que precisávamos vir tão cedo?

- Queria lhe mostrar a minha razão para continuar - ele diz, olhando para o céu.

- Continuar o quê?

- A vida. O sol me faz pensar bastante, sabe? Pensar no como ele não fica entre nós o tempo todo. Ele sabe que precisamos da noite e nos permite tê-la. Mas sempre volta, como se não houvesse acontecido nada, como se ele sempre estivesse aqui. E ainda vem deslumbrante - ele faz uma pausa e olha para mim. O encaro de volta - Para muitos um sol; para mim uma história de superação.

Olho confusa para ele. O sol nem é uma pessoa para ele pensar desse jeito.

- Sei que é estranho para você. Mas pense comigo, você não acha que existem várias maneira de olhar a mesma coisa? Interpretação não é algo padronizado. Se você enxerga que nem os outros, isso já é uma escolha sua. Se ao menos tentasse ver as coisas de outro jeito, criar histórias e morais para elas, você me entenderia melhor.

Aperto os olhos enquanto olho o nascer do sol. Ponho minhas mãos perto dele e faço uma análise rápida.

- Quando olho para o sol; me sinto alegre. Acho que é devido à ele sempre viver em batalha com a noite e mesmo assim vencer. Mas se olharmos por outro lado, nenhum perde. Há um equilíbrio. Isso mostra o quanto sempre tentar vencer é inútil porque, no final, todos estaremos fazendo algo de contribuição mesmo que seja mais ou menos. Do mesmo jeito que precisamos do sol e da lua apesar de passarmos mais tempo com o sol. Vencendo ou perdendo, isso não nos faz diferentes, apenas mais reconhecidos. E quem disse que reconhecimento é tudo?

Colin me olha, orgulhoso. Retribuo o olhar com um sorriso sincero. E então, sem perceber, já estava com a minha boca na dele. Confesso que, se pudesse parar aquele momento e pegar uma câmera, o faria. Foi lindo como o nascer do sol. Um espetáculo.

Me afasto devagar dele.

- Isso foi tão errado - digo, olhando nos seus olhos e procurando alguma emoção. Mas ele estava tão confuso quanto eu. Mesmo assim, sabia que se preocupou em ter ido longe demais e cedo demais. - Eu gostei - digo, rindo.

- Não há errado ou certo aqui, pequena Julie. É simplesmente o que quisermos.

- Sempre será o que quisermos.

Amor meu em dias contadosOnde histórias criam vida. Descubra agora