Essa foi a noite mais difícil da minha vida. Não consegui dormir direito, não consegui pensar. Eu estava apenas existindo. Queria sair para outros lugares mas não posso. O pedido é claro. Só saiam em extrema urgência.
Eu não tinha o que fazer ontem. Então bebi. Bebi muito. Todas as garrafas que tinha em casa. Tentei fugir, tentei esquecer, mas no final ele sempre voltava para mim. O pensamento sempre martelava naquela mesma e repetitiva coisa; ele. Ligava para seu número com um pingo de esperança de que ele atenderia. E quem disse que esperança é bom? Ela me quebrou ao meio. Me fazia pensar que tudo era apenas um pesadelo e que, no final, acordaria aos braços dele e com palavras de consolo. Mas não. Nada disso aconteceu. Nada disso acontece.
Acordo com um toque do meu celular. Consegui dormir graças às bebidas. Nunca fui fã delas mas eu estava fora de mim. Porque não existe Julie sem Colin e nem Colin sem Julie. São apenas duas pessoas que não conseguem ver o sentido da vida. Depois que você ganha o melhor, é impossível aceitar o pior.
Atendo o telefone, protestando. Não queria que me incomodassem. Não em um momento como esse. Era a mãe do Colin.
- Querida, preciso que você venha. É urgente.
Não sei o que pensar. Eram notícias? A guerra piorara? Melhorara? Acabara? Não sei dizer. Mas peguei meu casaco e fui rápido para lá. A rua estava totalmente diferente. Totalmente deserta e destruída. Dava para ver alguns lugares despencando devido aos ataques. Já outros, intactos. Totalmente estranho e horrível. Meu coração se apertou ao imaginar Colin no meio disto.
Bato na porta. Me lembro das expressões tristes, do choro. Não aguentei. Sabia o que tinha acontecido. Era o Colin.
Meus pais estavam lá, consolando uma velha família amiga. A irmã do Colin chorava aos prantos, mas não que ela entendesse muito bem o que aconteceu. E, ao lado dela, uma moça. Uma moça muito bonita.
- Oi. Sou Polly - ela diz se aproximando. - Sinto muito pela perda. Colin me pediu para lhe entregar isso.
Seguro o papel, tremendo.
Sei que são muitas palavras para se dizer e muitas coisas para esclarecer. Apenas vá à pedra perto da praia que eu te mostrei naquele dia. Encontrará suas respostas.
Não consegui chorar. Corro em direção à pedra e Peace me segue no caminho.
Havia algo escrito. Um texto, no centro. Era do Colin.
Droga. Sou péssimo em despedidas. Sou péssimo com dor. Só queria poder ter mais tempo com você. Desde o dia em que te vi naquela rua, sabia que não seria nosso único encontro. Sabia que viria mais. Mas também sabia que teria que te abandonar. Não consegui fugir e nem sequer escapar da minha realidade. Porque, se ao menos tentasse, eu estaria fugindo de você. Porque você é minha realidade. E agora tudo que eu penso é em como meus últimos dias foram os melhores. Preferi viver eles com você do que viver para sempre sem ti. Você transformou a minha vida. Você me fez acreditar de novo, ter esperança de novo. E eu sei que não vou voltar. Estou destinado à morrer como meu irmão, como um herói. E que suas últimas lágrimas sejam de alegria. Alegria ao lembrar dos meus sorrisos, dos meus sonhos. Porque eu sempre estarei vivo. Sempre estarei vivo em você, no seu coração e nas suas lembranças. E isso não é um adeus. Pelo contrário, é um jeito de começar de novo. Ver diferente. Antes de partir lembrarei dos seus olhos, o de como eram lindos. O de como tudo seu era magnífico. Não chore, pequena Julie. Seu choro parte meu coração e me destroça. Sempre tentamos proteger a melhor coisa em nós. Então eu sempre vou te proteger. Sempre vou te acompanhar. Porque seremos sempre Julie e Colin, Colin e Julie, nem que seja só por uma fração de tempo. As pessoas dariam tudo para viver muito. Mal sabem elas que, o que vivemos, é um motivo melhor para se dar tudo. Se entregar. E eu quero fazer parte das suas memórias boas. Que você lembre daquele rapaz que a fez sorrir de verdade no meio de uma floresta. Que a fez se sentir viva. E que, infelizmente, a fez chorar. Ah, se eu tivesse escolha! Estaria agora ao seu lado, sem te largar por um segundo, como medo de te perder apenas se desviar o olhar. Mas o contrário que aconteceu. Você me perdeu. Você está me perdendo. E, por favor, se eu for um fardo muito grande, me deixe para trás e siga sua vida. E saiba que, de tudo que me restou, lhe dou meu coração. Mas fique com o seu, para que dê a outro que te ame. Porém, sempre lembre que, de todos, o que mais te amou fui eu. "Acho que tem certas pessoas que devem ficar juntas para sempre. E acho que somos uma dessas pessoas" - do seu melhor amigo de infância e seu grande amor: Colin.
Agora tudo estava claro. Este era Colin. Ele já tinha me visto antes. Ele era o meu amigo de infância que se foi. Meu maior motivo para odiar a guerra. A única pessoa que ligou para mim de verdade. E eu a tive de volta e não aproveitei como deveria. Não fiz tudo que queria.
Depois de ler o texto, me jogo no chão e choro. Choro segurando o colar que ele me deu. Peace tenta me animar e eu o abraço. Então sim, ele havia partido. Era o fim. Só isso. Uma verdadeira história de amor que se acabou pelo sentimento contrário; a guerra; o ódio. Eu amava Colin. E ele me amava. Me amava tanto que queria que eu seguisse com minha vida. Mas como conseguiria eu, seguir em frente, se o que prende está ligado ao passado?
Pois agora, o que eu tinha de mais precioso foi substituído por dor e ódio. E eu odiei essa substituição. Porque, no final, a pessoa ruim e rancorosa seria eu. Mas quem liga? Quem se importa com os sentimentos dos outros? Dane-se a garota que perdeu o amor da vida dela. Tão nova, mas já deveria ter aprendido que o amor não é verdadeiro quando são apenas jovens.
Mas quem disse que o amor é sinônimo de felicidade?
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Amor meu em dias contados
Historia Corta"Porém sempre lembre que, de todos, o que mais te amou fui eu." O quanto um dia pode se tornar importante para você? Julie encontra Colin, uma pessoa aparentemente rica em sua humilde rua. Ambos se apaixonam e agora terão que viver uma grande histór...