Querido Colin,
Sei que estamos longe. Que algo maior do que a distância nos separa. Sei que você não pode ler isso. Mas eu preciso muito te contar o que sinto. O que agora eu sou.
Eu queria tanto que você não fosse apenas um vendaval, algo forte porém não duradouro. Queria estar ao seu lado.
Juro que, no dia em que nos vimos pela primeira vez, não havia imaginado o que você faria comigo. Que me reconstruiria e que me destroçaria. Porque você me ensinou, querido, que a vida não é sempre colorida. Porque no dia do seu enterro, eu me senti morta. Morta por dentro.
E que se dane todas as palavras de consolo. "Meus pêsames". Nada mudaria que eu estava morrendo, que a dor era insuportável. Me disseram "Você tem que superar isso. Não é como se o mundo fosse acabar.". Porém lhe digo, Colin, o mundo acabou para mim. Não havia chão, não havia parede, não havia ânimo e nem vontade de viver. E a única coisa que eu era capaz de pensar era em como eu queria ver seu rosto uma última vez, guardar todas suas expressões, todo seu jeito, todas suas feições. Eu só queria você, mesmo que por uma fração de segundo.
Mas então eu acordei e disse: "Não posso sofrer mais por isso. Preciso seguir em frente; seguir meu caminho.". Oh, Deus! Mal sabia eu que todos os meus caminhos me levariam à você de qualquer maneira. Me levariam ao garoto que conheci na infância. Que foi embora por causa da guerra, que me abandonou e que eu fiz questão de esquecer completamente. E novamente, aqui estou eu, sofrendo pelo mesmo menino que me foi tirado pelo mesmo motivo. Só que agora eu não posso esquecer, não posso deletar. Se o fizer; serei deletada junto.
Costumo dizer que você era como uma flor em mim. Você floresceu, bela e magnífica, para logo ser arrancada pela raiz sem aviso prévio. A flor era, basicamente, a única boa coisa que eu tinha no meu jardim.
Talvez você não entenda. "O que essa jovem incompreendida quer, afinal?". Porque a dor foi tão forte, tão remoedora e devastadora que se eu não escrevesse já teria desaparecido. Sei que é bobo, mas pensei em me matar. Mas você veio na minha mente, me ensinando o motivo pelo qual achava a vida preciosa e que era besteira o que eu estava fazendo. E eu clamava "Mas e se a minha vida for você? Ela já me foi tirada há tempo. Me dê um motivo para continuar!". Mas tudo que eu tinha em resposta era o silêncio. O silêncio de uma pergunta que nunca poderá ser respondida. Porque a única pessoa que deve respondê-la, está morta.
Eu fiz coisas que não deveria. Fiz coisas que não queria fazer. Arruinei minha vida, mas não ligo. Depois de um tempo, a dor faz você esquecer o que é certo e errado. Você apenas se joga e quebra a cabeça.
Eu te agradeço. Agradeço pelos dias maravilhosos que você me deu, pelas paisagens que me mostrou, pelas memórias que me causou. Pelo seu coração dado. Colin, queria muito saber aproveitar tudo isso. Mas quando eu lembro, meu coração se parte mais e meus olhos pedem ajuda de tantas lágrimas. E o pior, tudo isso ninguém sabe. Meus novos colegas - que me consideram amiga - sempre dizem que sou a mais alegre. Ah, como sou uma boa atriz. Porque se eu mostrar minhas cicatrizes ainda não curadas, eles vão me machucar mais. Já não confio mais em ninguém. Já não confio mais em mim. Já não tenho amigos. Prefiro não me apegar à pessoas que podem me perder em breve. Que nunca me terão de verdade.
Mas eu odeio o fato de que tudo isso foi tão curto, tão devastador. Pois eu me considero mais morta do que você. Porque não faria diferença se eu subisse na porcaria de um prédio e me jogasse. "Mas era uma boa menina, não sei o que a levou a fazer isso.". Pois, não. Nada me levou. Tudo me puxou. As vozes na minha cabeça me dizendo o quanto minha vida não tem sentido, o quanto eu sou apenas uma inútil no mundo que lamenta uma morte. Tudo isso me puxou. Colin, eu não te perdi. O mundo inteiro te perdeu. O mundo inteiro perdeu a chance de mudar e seguir em frente. Oh, então teremos que competir com quem está pior nesta situação.
E aquela maldita esperança. Esperança? Ah, sim. Porque eu sempre soube que você não voltaria, mas todo mísero ano, lá estava eu, na entrada da cidade, esperando sua vinda. Mas tudo que me restava era relembrar sua partida.
Te esquecer? Bom, você me pediu isso. Bem, eu também tentei isso. E foi pior. Como esquecer tudo que mais lhe importou em apenas um piscar de olhos? Você está enganado, Colin. Eu te prometi, confesso. Mas de que servem as promessas? Você também me prometeu que voltaria. Parece que nossas promessas não servem de nada.
Você é um veneno. Um veneno tão bom que não posso parar de experimentar cada minuto da minha mísera vida. Um veneno que me mata aos poucos, mas que é tão bom. Porque é tão bom lembrar de você como aquele menino sorridente e feliz. Mas é tão ruim imaginar o quanto deve ter morrido triste e sombrio, de forma tão trágica. E neste dia, o mundo perdeu duas pessoas. Eu me fui com você. Eu sempre te seguirei.
Mas você não estava mais sombrio que eu. Não há mais sol para mim. Não há mais nada. E nem adianta eu tentar imaginar tudo que você me diria; sobre te esquecer, mudar, crescer, recomeçar. No final, sabemos que isso é impossível. Porque você me prende com um laço invisível, e sei que pode senti-lo.
Consegue ver, Colin? Consegue ver que, todas as vezes que eu abro a boca para sorrir, meu olhos suam? Que todas as vezes que tento fazer algo, minha mente volta à você como um disco arranhado?
Talvez ache que eu pense "Era melhor ter vivido sem ele.". Não. Sem você, eu não teria sequer vivido. E eu não me arrependo de cada momento, cada segundo, cada coisa que tivemos juntos. Mesmo que eu sofra muito, tudo relacionado à você é bom. Tão bom à ponto de matar.
"Cuide do seu coração, garota. Guarde ele para alguém que possa te amar!", me dizem. Como posso oferecer algo à alguém se não me resta nada? E como posso amar outro sendo que você foi o único que realmente soube me ensinar o que significa amar?
E todas as manhãs, ao acordar, eu penso em você. E todas as noites, ao dormir, eu penso em você. Porque eu tenho esperança. Esperança de que te verei de novo. Mas não posso esperar sozinha. Você também espera me ver novamente, Colin? Você também sente que iremos nos encontrar? Você também pode sentir isso? Porque eu sei que nos veremos de novo.
De sua amada, Julie.
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Amor meu em dias contados
Short Story"Porém sempre lembre que, de todos, o que mais te amou fui eu." O quanto um dia pode se tornar importante para você? Julie encontra Colin, uma pessoa aparentemente rica em sua humilde rua. Ambos se apaixonam e agora terão que viver uma grande histór...