8° capítulo

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Abri os olhos e encarei um homem alto e negro usando um jaleco branco. Ele parecia não dormir fazia dias. Olhei ao redor e logo percebi que estava num quarto de hospital. Pelos sofás de couro, televisão de plasma na parede, grandes janelas de vidro cobertas por longas cortinas caras, logo percebi que estava em algum quarto particular. Miguel me veio automaticamente a cabeça.

– Olá – disse o homem, que logo deduzi ser o médico. Ele levantou a pálpebra esquerda do meu olho e acendeu uma lanterninha, em seguida fez o mesmo com o olho direito. – Você lembra como se chama? – Perguntou ele calmamente.

– Valéria – respondi. Minha cabeça latejava.

– Você lembra o que aconteceu? – Perguntou ele.

Suspirei.

– Sim – respondi. – Eu caí no chão e bati com a cabeça... – a cena do cinema foi voltando a minha mente lentamente.

– Você vai ficar em observação por mais algumas horas e depois eu posso te dar alta, tudo bem? – Perguntou ele.

Encarei ele desconfiada.

– Posso saber quem está pagando por tudo isso aqui? – Perguntei apontando o dedo pelo quarto.

O médico deu risada.

– Miguel Alencar é um nome familiar para você? – Perguntou ele e eu também dei risada. Fiz um gesto positivo com a cabeça e relaxei.

– Ele está aqui? – Perguntei. – Posso falar com ele?

O médico fez um gesto positivo e então saiu do quarto. Nem meio minuto depois, Miguel entrou no quarto afobado.

– Val? – Disse ele vindo direto ao meu lado. – Você está bem? Eu fiquei tão preocupado, não sabia o que fazer, então te trouxe pra cá e...

Eu o interrompi.

Hey, calma – disse eu tentando o tranquilizar. – Estou bem. O médico disse que vou ter alta em algumas horas. – Eu peguei em sua mão. – Obrigada por ter me trazido pra cá, eu certamente teria morrido se tivesse ido para um hospital público – ele sorriu.

– Eu amo você, Val – disse ele. – Eu jamais te levaria para um hospital público – aquilo me fez sorrir, eu sabia que estaria segura com Miguel.

Ele então me olhou sério.

– Se a Regina está achando que isso vai ficar desse jeito – disse Miguel – não vai, a gente vai dar uma lição naquele idiota...

– Não pense nisso agora – disse eu. – A Regina vai ter o que merece na hora certa – era obvio que eu não ia deixar aquela história passar batida, mas cada coisa em seu devido tempo.

Um silêncio estranho se formou entre nós dois. Notei que Miguel queria dizer algo, mas não sabia como porque ele sempre fazia aquela expressão de constipado quando queria dizer algo e não sabia como.

– O que foi? – Perguntei. Miguel engoliu a saliva da boca e coçou o queixo.

– O Matheus está aí – disse ele. – Ele quer te ver... – ele fez uma pausa. – Por que você não me disse que ele te roubou um beijo e que foi por isso que vocês não eram mais amigos?

Eu não estava querendo lidar com aquilo naquele momento.

– Posso falar com ele? – perguntei.

Miguel ficou me encarando por alguns segundos e depois, ao se dar por vencido, se levantou e saiu. No mesmo instante, Matheus entrou lentamente no quarto. Ele usava um jeans com um corte legal, uma camiseta preta de marca, tênis e um boné virado para trás. Ele veio até mim e engoliu em seco.

– Tu bem? – Perguntou ele. – O Miguel me contou o que aconteceu no cinema, nós não vamos deixar a Regina impune, não pira quanto a isso...

– Eu não estou preocupada com isso – o interrompi. Ele parou de falar no mesmo instante e continuo me encarando com a guarda baixa. – O que você quer Matheus?

Ele não respondeu, apenas olhou para os próprios pés.

– Eu sei que tu acha que eu não presto – disse ele depois de eu achar que ele não falaria mais nada. – Eu fico com várias mina e não consigo namorar nenhuma delas sério, mesmo que elas assumam o que sintam por mim.

Eu realmente não estava com vontade de ouvir os dramas bobos e amorosos de Matheus, mas mesmo assim não o interrompi.

– Eu nunca consegui me declarar para a única garota por quem eu realmente me apaixonei – disse ele agora me encarando. – Eu não sei lidar com a rejeição. Eu e meus irmãos fomos rejeitados de muitas formas, desde quando éramos crianças... – ele parou de falar por um momento, então percebi que aquilo estava sendo difícil para ele.

– Aonde você quer chegar com toda essa história, Matheus? – Perguntei.

– Eu fiquei  puto  quando você começou a namorar o Carlos – continuou ele. – Eu sentia ciúmes de você e inveja dele. Foi por isso que, quando ele começou a te trair, eu te contei. E foi por isso que eu bati nele no dia em que vocês terminaram – ele continuava parado no mesmo lugar. – Doía muito te ver magoada e sofrendo por um cara que nunca te mereceu... – ele me olhou fundo nos olhos. – Eu sou completamente louco por você, Valéria. Tanto que às vezes chega a doer.

Fiquei em silêncio. Mesmo esperando que Matheus fosse falar tudo aquilo, eu não estava preparada para ouvir.

– Fala alguma coisa Valéria – disse ele sem graça.

– Que bosta – foi tudo o que me veio à cabeça.

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