capítulo 02

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 – Tu tá tirando uma com a minha cara, Regina! – disse Matheus andando atrás de mim pelo corredor. – Aborto?! Tu pirou é?!

As pessoas começaram a olhar para aquela cena patética que o Matheus estava armando, só porque eu havia dito que iria abortar o filho que eu esperava e que era dele, aff. Quanto drama.

– Nunca estive mais lúcida em toda a minha vida, honey – respondi. Parei e me virei para encará-lo. – Ontem à noite eu fui até a sua casa e exigi que você assumisse seu filho e você disse que não – ele me encarava de braços cruzados. – Pois bem, eu também não quero.

– Como tu tem coragem de falar isso? – Perguntou Matheus me repreendendo. – Como tu acha saudável a ideia de matar uma criança, uma vida, Regina! É uma vida!

Ana e Juliana se aproximaram de Matheus.

– Com tantas mães por aí dando a vida pra ter um filho – disse Ana também me repreendendo – e você aí, cogitando a ideia de fazer um aborto – ela chacoalhou a cabeça em negativa, como se estivesse decepcionada comigo, o que era ridículo porque a gente nem era amigas ou coisa parecida. – Isso é um absurdo, a maternidade é algo lindo, fantástico, divino, revelador...

– Você quer essa criança pra você então? – Perguntei.

– Eu não, Deus me livre, odeio criança! – Rebateu Ana.

– Eu não sei como tem cara que apoia essa babaquice de aborto – retrucou Matheus. Revirei os olhos. – Eu até concordo quando a mina é estuprada, ligado? – continuou ele. – Ninguém tem que carregar uma cria indesejada, mas tu deu pra mim porque quis, Regina! O que tu tá fazendo é muita sacanagem!

– Apoiado! – disse Ana. – Lindíssimo, falou tudo!

Matheus estufou o peito. Olhei ao redor, parecia que todos que estavam escutando aquela conversa, concordavam com ele. Eu não sabia o que era pior naquele momento, o motim que o Matheus estava fazendo contra mim ou o fato dele ter gritado pra todo o colégio que eu tinha dado pra ele. Agora eu ia ser conhecida só como a "mais uma da lista do garanhão". Aff.

Baby – fiz sinal com a mão para ele parar aquele falatório – entenda uma coisa, sem útero sem opinião.

Ele me olhou irritado. A sobrancelha chegou a se unir. Achei que ele fosse até virar o Hulk.

– Sem útero sem opinião? – Rebateu ele – então por que as mulheres opinam sobre estupro? – Perguntou ele me encarando. – Sem pau sem opinião.

Ok, agora era definitivo. Todo mundo no colégio ia ficar sabendo que eu tinha dado pra uma toupeira. Cadê a invasão alienígena quando se precisa de uma? 

– Eu sempre soube que você não era muito inteligente Matheus – disse Valéria – eu só não achava que você fosse tão burro... – ela apareceu do nada e ficou do meu lado. Olhei desconfiada para ela. – Um estudo já comprovou que, em todos os países que descriminalizaram o aborto, as taxas caíram, tanto em relação a abortos quanto em morte de mulheres, que não precisaram mais abortar de forma clandestina e perigosa.

– Estudo, estudo, estudo – retrucou Matheus vermelho de raiva. – Que mané estudo? – Valéria resmungou. – Eu sou a favor da vida!

– Não, Matheus – disse Valéria categoricamente – você  apoia o aborto em caso de estupros, mas é contra se a mulher resolver abortar depois de uma relação casual. Se ela não quis abrir as pernas, ok, aborto liberado. Se ela quis, ah não, cancela o aborto pra ela.

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