capítulo 03

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Eu estava sentada de frente para a mesa do diretor com as pernas cruzadas. Ele me encarava desconfortavelmente. Ficamos meio minuto sem falar nada, apenas um olhando para a cara do outro que nem dois idiotas, aff.

            – E então? – Eu perguntei. – Será que eu posso saber os motivos de eu estar aqui tão cedo?

            Ele engoliu a saliva da boca e tirou o óculos do rosto num movimento bem lento.

            – Regina – ele começou – chegou aos meus ouvidos uma história absurda de que você estaria grávida e pensando em abortar... – continuei o encarando sem expressão alguma. – Não podemos deixar que uma coisa dessas aconteça...

            – Hum? – continuei o encarando extremamente entediada. Pelo menos eu ia perder o início da aula de matemática. Eu odiava matemática. E odiava ainda mais aquela professora ridícula, com aquele nariz torto, cabelo desidratado e que vinha dar aula com o suéter da avó. Credo.

            – É obrigação do colégio dar suporte aos alunos – disse ele categoricamente – principalmente em relação a atitudes tão severas como esta, que está pensando em tomar.

Se mais alguém vier com esse papo de suporte pro meu lado, eu juro, eu não sei o que eu sou capaz de fazer.

            – Eu não acho que abortar seja uma atitude tão severa – disse eu calmamente. – Todo mundo aborta no Brasil, é uma prática bem popular, na verdade.

            – Muitas mulheres morrem fazendo aborto em clínicas clandestinas – rebateu o diretor, seu olhar era sério, mas continuava patético.

Eu não sei de onde foi que ele tirou a ideia de que eu iria em uma clínica clandestina, mas ok. Homem não é conhecido por ser o ser mais inteligente ?

            – É que no caso, eu vou pagar um lugar bem bacana pra fazer meu aborto – disse eu. – Sério, eu tava olhando umas clínicas gringas, tem uma que tem uma recepção tão chique, que parece que você se hospedando no Palace Hotel. Você já se hospedou no Palace Hotel, diretor?

– Não... – ele respondeu com uma expressão de confuso no rosto.

– É claro que não – eu disse serenamente. – É preciso ter dinheiro pra se hospedar lá. É preciso ter dinheiro para fazer um aborto bem feito. Porque dinheiro é sempre a resposta diretor, sempre foi.

            – Eu não posso acreditar que você está falando sério sobre abortar, Regina – disse ele seriamente.

            – Estou. Por que?

            – Porque é errado! – disse ele exaltado. Fiquei olhando para ele de forma bem blasé. Ele tentou tomar a compostura. – Desculpe. É que abortar vai contra os princípios das coisas que eu acredito...

            – Interessante – disse eu. – Vai contra aos princípios das coisas que o senhor acredita, não aos que eu acredito. Inclusive, o que eu acredito nem entrou em pauta nessa conversa.

            – Regina... – ele tentou falar, mas eu não deixei.

            – Sabe o que é engraçado? – eu o interrompi, irritada. – Acho lindo o fato do senhor ter mencionado que é dever do colégio dar suporte ao aluno, mas isso nunca aconteceu aqui!

            – Mas do que você está falando?! – Ele perguntou irritado. – O colégio Elite sempre deu suporte aos seus alunos... – uma veia surgiu em sua testa, a gata tava exaltada.

complicados e perfeitinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora