#1 - Partidas e chegadas

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Por que mesmo estou saindo de Gwacheon? Se perguntou Seokjin, enquanto colocava sua bagagem - uma mala preta reluzente e grande - no espaço acima de sua cabeça. Abaixou os braços e viu os pais e a irmã mais nova. Três pares de olhos transbordando expectativa. Ele engoliu em seco e sentiu um leve tremor se espalhar pelo corpo. Por que sempre expectativa? Não podia ser algo menos pesado como medo, dúvida ou ceticismo? "Eu sei que você não consegue, perceba isso também e volte para casa". Ele poderia lidar com isso. Adoraria lidar com isso, na verdade. Voltar para casa apenas como visita para dizer que se formara e conseguira um ótimo emprego, que não dependeria dos pais nunca mais. Entretanto, o que tinha era expectativa.

Mãe: meu filho vai entrar para a melhor universidade do país. Pai: vai ser doutor em algo importante, independente do que, mas algo importante. Irmã: meu irmão vai ser uma das personalidades mais influentes da Coreia e vai estar na lista dos cem mais bonitos da Ásia.

Sorriu para a família e acenou, tomando seu lugar na janela do trem. Um barulho soou pela estação, avisando da partida. Ele acenou novamente quando o trem começou a se mover. Viu a irmã esticar a mão e em seus lábios se formar a palavra "oppa". Na boca da mãe foi "eu te amo". O pai apenas maneou a cabeça, com um sorriso.

Por que estou saindo de Gwacheon? Se perguntou novamente. Sob os olhos da família, estava indo construir um futuro melhor. Para acrescentar algum outro feito honroso à família Kim. Para ser um exemplo para a irmã mais nova, para usar o máximo de sua capacidade intelectual. Agora, sozinho no trem para Seul, ele se permitia responder aquela pergunta de forma verdadeira. Estava fugindo. Porque não podia lidar com a expectativa, porque não podia ser quem era de verdade porque todas as escolhas não eram de fato suas. Por isso estava saindo de Gwacheon. Para descobrir a si mesmo.

Suspirou uma vez; duas. Tentou segurar o choro por um tempo, depois deixou que ele escorresse pelo seu rosto feito tempestade. Era um choro cheio de alívio, mas havia medo também. Estaria sozinho dali para frente. E o medo de permanecer sozinho o apavorou. Sentiu-se desamparado. Ninguém se sentou ao seu lado durante a viagem. Ficou observando o lugar vazio, os olhos marejados. Desejou ardentemente ter alguém para conversar. Talvez fosse a hora de começar a se acostumar com a sua própria companhia. Ou seria se acostumar com a solidão?

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Namjoon se perguntou o que ela diria agora, se estivesse viva. Ficaria agarrada ao seu pescoço, falando sem parar sobre coisas que ele deveria trazer de Seul? Estaria brava com ele por estar indo embora sem levá-la? Lembrou-se da sua voz infantil chamando-o de oppa, aquele sorriso cheio de bochechas com covinhas fundas, exatamente como as dele. Sentia tanta saudade dela. Olhou para cima, sentindo o coração pesar uma tonelada.

-Eu não vou mais - disse, olhando para a mãe, em desespero. A senhora pequena e enrugada, de expressão doce, segurou o rosto do filho entre as mãos. Seu menino havia se tornado um homem rápido demais. Perdera o pai cedo, aos doze anos, e pouco depois, a irmã mais nova, razão de sua existência. É claro que estaria perdido e confuso, e claro que desejaria permanecer onde as coisas eram familiares; apesar das ausências. Desejava que ainda fosse aquele garotinho feliz e desengonçado, para que ela pudesse colocá-lo no colo e cuidar de todos os machucados. Mas ele havia se tornado grande.

-Não há nada aqui para você - falou a mãe, observando o filho. Ele soluçou e começou a chorar, encarando os olhos pretos da mãe. - Você é maior que Ilsan.

-Mas a senhora...

-Eu vou ficar bem - sussurrou ela - e sua irmã estará com você, onde quer que vá. Sabe que ela o amava mais do que qualquer coisa no mundo, não sabe? - Nessa hora Namjoon chorava como uma criança, e todo seu corpo tremia. A única coisa que o mantinha de pé eram as mãos quentes da mãe em suas bochechas. - Independente do que acontecer lá (referindo-se a Seul), sua família tem orgulho de você.

Ele acenou com a cabeça, passando as mãos no rosto, tentando se livrar das lágrimas e da coriza. Abraçou a mãe com força. Nunca sabia quando seria a última vez, e ele mais do que ninguém sabia da verdade disso. Ela parecia tão frágil entre seus ombros, tão pequena. A irmã teria sido assim também?

-Agora vá - mandou a senhora. E Namjoon foi. Entrou no trem apenas com a mochila nas costas, andando devagar por não conseguir enxergar nem um palmo a frente devido ao choro recente. Acenou para uma mãe sorridente, rezou pela irmã que partira. Se acalmou com o som do trem em movimento. Olhou para o lado para constatar que estava sozinho e suspirou. Queria ter alguém para conversar. Alguém que falasse muito e o fizesse rir, se distrair e parar de pensar compulsivamente. Ninguém veio, e acabou adormecendo de cansaço pouco depois, abraçado à mochila.

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Os dois trens chegaram à Seul às 14h de um domingo quente.

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O garoto de Ilsan saiu do trem meio cambaleante. O corpo estava dolorido da viagem, e pela posição ruim em que dormira; a boca seca e o cabelo oleoso grudando na cabeça. Viu seu reflexo no trem e quis se enfiar no primeiro buraco que encontrasse. Estava com os olhos ridiculamente inchados. Sentiu-se no fundamental, quando assistira Rei Leão pela primeira vez e chorara tanto que ficara todo vermelho. Uma bela primeira impressão para a cidade grande, pensou e desviou o olhar de si mesmo.

Namjoon ficou parado por um tempo, apertando com força as alças da mochila. A estação parecia um labirinto. E, mesmo sendo domingo, estava cheia. Pessoas por todos os lados, porque tantas pessoas? Sentiu-se pequeno e não-parte daquele lugar. Acabara de chegar e queria voltar para casa. Lembrou-se das palavras da mãe: não há nada aqui para você. Mas será que Seul era mesmo a resposta? Ele era mesmo grande demais para Ilsan ou apenas estava sonhando alto demais?

Sentiu-se tonto. Sento-se num dos bancos da estação e tomou seu tempo antes de continuar. Não tinha certeza se era a verdade, mas disse para si mesmo eu consigo e foi até o balcão de informações.

-Onde pego um ônibus para o centro?

Em uma plataforma próxima, o garoto de Gwacheon arrastava sua mala sem dificuldade com uma das mãos, com a outra levava o espetinho de o-deng à boca. Seokjin sentia um frio na barriga positivo. Já estivera em Seul com a família diversas vezes. Não era um completo estranho na cidade, apesar da perspectiva de agora ser totalmente nova. Pegou o elevador para o andar de cima, acabou de comer o o-deng. Observou a cidade com satisfação. Quero desbravar isso tudo, pensou, e abriu um sorriso enorme. A sensação de liberdade lhe escorria pelos dedos. Tinha possibilidades infinitas, tinha tempo, teria a ele mesmo.

Chamou um táxi para terminar de chegar à sua nova casa: uma república no centro universitário da cidade, onde se localizavam as maiores instituições do país. Num raio incrivelmente pequeno de seis quilômetros. 

***

Oi amorinhas, felizes? 

Estou num processo de reescrever a história. Desculpa, eu sei que isso é muito chato. Mas vai valer a pena viu? 

Deem apoio a fic por favor! 

Beijinhos de luz, 

Tia Carol 

Longe de casa {NamJin}Where stories live. Discover now