#4 - Aspectos da vida cotidiana

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Jin não estava preocupado com a parte prática da coisa. Nesse ponto, tudo estava a seu favor. A localização da república, o cursinho, que era o melhor e mais caro da cidade, a quantidade de dinheiro por mês, seus horários que lhe davam brechas para fazer coisas além de estudar. Na verdade, o único ponto contra em toda a história era ele mesmo. 

Enquanto caminhava para o curso, ainda com o sorriso de Namjoon perambulado pela mente, Seokjin se perguntou o que havia de errado com ele. Onde algo deu errado, onde fora planejado ou traumatizado na infância para estragar todo seu ser daquela forma? Que tipo de brincadeira era aquela, que tinha de ser capaz de decepcionar os pais de todas as formas possíveis?

Como diria aos pais que queria cursar artes visuais e não direito, engenharia ou medicina? Como diria que não gostava de esportes e nem daquele programa de humor imbecil que sempre viam juntos aos domingos? Como diria que sua cor favorita é rosa, que adorava cozinhar? Como diria a eles que era gay?

Engoliu em seco com força. Nem se quisessem seus pais conseguiriam montar uma criatura tão decepcionante. Poderiam lidar com tudo, menos com o último fator. Gay. Isso mancharia os Kim para sempre. O que seus colegas de apartamento diriam se soubessem? O que Namjoon diria se soubesse? Jin já sabia que tinha uma tendência a se afeiçoar mais por seu dongsaeng do que pelos outros dois. Soube na hora que o viu. "Deus me ajude para que eu não me apaixone por aquelas convinhas" pensou. "Ele com certeza gosta de garotas. A última coisa que preciso é de um coração partido".

Seokjin jogou os cabelos castanho-claros para trás, então seguiu uma pequena multidão pela avenida. Atravessou a rua quando o sinal de pedestres ficou verde. E ali estava ele, em frente ao prédio do cursinho. Deu um pequeno sorriso para si mesmo, tentando se convencer de que fizera a coisa certa indo até ali. Entrou.

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Mesmo não tendo dito uma palavra sequer a seu Hyung, Namjoon se lembrou da voz dele perguntando "está tudo bem?" e adoraria se desmanchar em lágrimas naquele momento, respondendo um não bem alto. Acabara de escutar o gerente da livraria que tanto gostara dizer:

-Você não é adequado para a vaga.

Porque ele não era adequado? Preenchia todos os requisitos. Ser estudante das mediações, ter disponibilidade na parte da tarde, falar inglês. A forma como o gerente o olhava, impaciente e com descaso, lhe dizia muita coisa. Sua cor de pele, suas roupas simples, seu sotaque de interior. Por isso não era adequado.

Juntou toda sua coragem para responder:

-o senhor está sendo preconceituoso - afirmou, em inglês, sorrindo para o homem e erguendo o queixo, mesmo estando completamente destruído internamente - mas agradeço seu tempo. Have a nice day.

Pegou seu currículo da mão do gerente, fez uma reverência e saiu da loja. Parou do lado de fora, sentindo-se humilhado e com raiva. Passou as mãos nos cabelos, bufando.

-Ei, moço! - chamou alguém, saindo da livraria atrás dele.

Namjoon se virou, deparando-se com uma garota baixinha, de franja comprida, quase alcançando os olhos, e jardineira jeans.

-Você está procurando emprego, não está? - perguntou ela, os olhinhos brilhando enquanto encaravam Namjoon. - Eu posso te ajudar! Vem comigo!

Ele piscou várias vezes, perdido. Ela deu dois passos, se preparando para atravessar a rua, mas quando viu que ele não a seguia, voltou.

-Desculpa, eu te assustei né?

Namjoon balançou a cabeça positivamente, encarando-a num misto de medo e agradecimento. A garota riu de si mesma, jogando o corpo para trás e se auto repreendeu.

Longe de casa {NamJin}Where stories live. Discover now