Capítulo 7

33 6 0
                                    

     Eu estou tentando não pensar muito nele, ignorar a reação frustante do meu corpo mas ele está sendo pior do que eu havia imaginado.

     — Não preciso te dizer as consequências, eu quero que você me largue, não te dei o direito de me tocar.

     Finalmente eu pude contemplar o Daniel que conheço. O sorriso malicioso surgiu em seus lábios e a postura dele mudou totalmente, está mostrando as garras.

     — Esqueçam meninos. Ela está determinada, não adianta bancar o bonzinho.

     Ele falou enquanto ainda olhava nos meus olhos. Puxei o meu braço com força mas ele não largou, apenas segurou mais forte, me dando medo.

     — Eu te disse cara.

     Mateus falou dando dois tapinhas no ombro dele e saindo após virar para a Madu e dar uma piscadela.

     — Se resolvam logo, isso nem tem graça... As pessoas não lembram da aposta, então podem fingir que nunca aconteceu e se ignorarem.

     Felipe sugeriu com descaso. O meu braço vai ficar rocho se ele continuar apertando.

     — Você pode largar a Ellen por favor?

     Madu pediu entre dentes.

     — É, larga o osso Dan.

     Essa voz eu reconheço. Flora Muniz, a libertinagem em pessoa. Irmã do Murilo e a outra beldade louca pelo Daniel. Agora sim, o circo está completo.

     Daniel soltou e me puxou para um abraço, Madu teve a mesma reação que eu mas Felipe agiu como se já esperasse por isso.

     — Me larga menino... O que você...

     Comecei a me contorcer e tentar sair dos braços dele mas, infelizmente, eu falhei.

     — O que você quer Flora?

     Daniel perguntou sorrindo com suas adoráveis covinhas. O que ela fez para ter ele na palma das mãos?

     — Estão procurando vocês para assinar as atas.

     — Ah, droga. Me esqueci desse detalhe, faz o seguinte, eu vou conversar com a Ellen e vocês vão indo na frente.

     — Acho melhor você vir com a gente Dan.

     — Vazem daqui.

     Ele disse ocilando mais uma vez sua feição. Como ele consegue mudar de postura tão fácil? Nunca fiquei tanto tempo abraçada a ele, o seu corpo definido e o cheiro único que ele exala é indiscutívelmente bom e alucinante.

     — ... Ellen.

     Despertei dos meus devaneios e agora só estávamos os dois no refeitório.

     — O-oi.

     O que está acontecendo comigo? Pensei que ele fosse me largar mas apenas deixou o abraço frouxo o suficiente para que eu olhasse em seus olhos, duas esmeraldas enfeitiçantes.

     — Vou te beijar.

     Oi? A frase dita com a voz rouca do Daniel me levou ao êxtase, o meu corpo reagiu positivamente mas a minha razão dizia "não". Ele foi aos poucos aproximando nossos lábios mas com muito esforço consegui resistir aos meus anseios carnais e dizer:

     — Não.

     Por mais trêmula e fraca que a palavra tenha saído da minha boca eu me senti vitoriosa. Daniel jogou a cabeça para trás claramente frustado e eu aproveitei o momento para me desvencilhar dos seus braços.

     — Eu te odeio Daniel. Não tente isso novamente, as coisas mudaram muito e eu não sou alguém que você possa ter.

      Saí ainda desnorteada e entrei no primeiro banheiro feminino que vi pela frente. Abri a torneira e joguei água no meu rosto repetindo, incansávelmente, a frase "larga de ser trouxa" para ver se surte efeito.

     Só de lembrar que amanhã eu vou almoçar com ele. Saí do banheiro e peguei minhas coisas na sala, já está quase na hora de irmos embora. O pessoal está super animado com os jogos, afinal, serão feitas várias viagens até as escolas que irão cediar os jogos, nós não temos fase municipal, vamos direto para a estadual já que somos a única escola da cidade.

     No portão, além dos animais que ficam gritando e batendo no ferro para criar tumulto há certos brutamontes que ficam empurrando as pessoas e foi um desses que me derrubou.

      Na queda acabei deixando o meu celular cair e ralando os joelhos. Ninguém se importou, apenas levantei e peguei meu celular que estava quebrado.

     — Quem foi o animal?

     Perguntei em meio a multidão e um menino loiro, dos olhos azuis bem claros disse:

      — Me desculpa, eu devo estar com sorte hoje. Esbarrei em um anjo.

     Ele piscou e ajeitou a mochila que está com apenas uma das alças em seu ombro.

      — Você quebrou o meu celular.

     Ele reparou na tela do pobre objeto que foi vítima de suas ações e simplesmente falou:

     — Quanto você quer?

     Sorri maliciosamente. Ele quer pagar? Meu celular novinho na loja não custa setecentos reais, usado há mais de três anos deve ser uns duzentos.

     — Eu quero sete mil reais.

     Ele não se assustou, apenas pegou no meu braço e me puxou para fora da multidão, outra péssima mania dos garotos desse lugar. Abriu a mochila de forma eficaz e pegou uma caneta e um bloco de folhas com algo escrito. Depois de escrever algumas coisas em um dos papéis estendeu e disse:

     — Aqui. Aproveite o troco para comprar alguma coisa linda, nos vemos por aí.

     Ele piscou e foi embora.

     — E-Espera.

     Falei inutilmente. Como assim? Quem deixa o filho levar cheque para a escola? Não era o Mateus que era rico? Quem é esse garoto?

     — BÚÚ!

     Me assustei mas logo fiquei calma quando vi as medeixas ruivas da Madu.

     — Você me deixou sozinha com o Daniel.

     Falei chateada.

     — Te deixei? Eu perguntei se podia ir e você apenas ficou em silêncio, quem cala consente. Além disso, o Felipe saiu me arrastando.

     — Não naquela situação, mas enfim... Você viu o menino que estava conversando comigo agora?

     Falei enquanto procurava o tal garoto.

     — Menino? Não...

     — Um loiro, olhos azuis, mais claros que os meus e que daria isso facilmente para alguém.

     Estendi o cheque e ela arregalou os olhos.

     — Benício Morais?

     — Não, eu vi o Benício hoje na mesa de inscrições e ele pintou o cabelo... Está moreno.

     O Benício não é da minha turma e nunca fiquei muito perto dele mas hoje eu o vi e tenho certeza que não é a pessoa que falou comigo há pouco tempo.

     — Ele continua loiro e lindo como sempre. Como você não reconheceu ele? Além disso está escrito aqui no cheque: Benício Júnior Morais Saraiva.

     — Oi?

     Ela pegou minha mão e virou quase esfregando o papel na minha cara. Guardei com cuidado o cheque dentro da minha mochila, não é todo dia que alguém te da dez mil reais e eu não vou ser modesta e devolver.

Valentine's DayOnde histórias criam vida. Descubra agora