Eu estou tentando não pensar muito nele, ignorar a reação frustante do meu corpo mas ele está sendo pior do que eu havia imaginado.
— Não preciso te dizer as consequências, eu quero que você me largue, não te dei o direito de me tocar.
Finalmente eu pude contemplar o Daniel que conheço. O sorriso malicioso surgiu em seus lábios e a postura dele mudou totalmente, está mostrando as garras.
— Esqueçam meninos. Ela está determinada, não adianta bancar o bonzinho.
Ele falou enquanto ainda olhava nos meus olhos. Puxei o meu braço com força mas ele não largou, apenas segurou mais forte, me dando medo.
— Eu te disse cara.
Mateus falou dando dois tapinhas no ombro dele e saindo após virar para a Madu e dar uma piscadela.
— Se resolvam logo, isso nem tem graça... As pessoas não lembram da aposta, então podem fingir que nunca aconteceu e se ignorarem.
Felipe sugeriu com descaso. O meu braço vai ficar rocho se ele continuar apertando.
— Você pode largar a Ellen por favor?
Madu pediu entre dentes.
— É, larga o osso Dan.
Essa voz eu reconheço. Flora Muniz, a libertinagem em pessoa. Irmã do Murilo e a outra beldade louca pelo Daniel. Agora sim, o circo está completo.
Daniel soltou e me puxou para um abraço, Madu teve a mesma reação que eu mas Felipe agiu como se já esperasse por isso.
— Me larga menino... O que você...
Comecei a me contorcer e tentar sair dos braços dele mas, infelizmente, eu falhei.
— O que você quer Flora?
Daniel perguntou sorrindo com suas adoráveis covinhas. O que ela fez para ter ele na palma das mãos?
— Estão procurando vocês para assinar as atas.
— Ah, droga. Me esqueci desse detalhe, faz o seguinte, eu vou conversar com a Ellen e vocês vão indo na frente.
— Acho melhor você vir com a gente Dan.
— Vazem daqui.
Ele disse ocilando mais uma vez sua feição. Como ele consegue mudar de postura tão fácil? Nunca fiquei tanto tempo abraçada a ele, o seu corpo definido e o cheiro único que ele exala é indiscutívelmente bom e alucinante.
— ... Ellen.
Despertei dos meus devaneios e agora só estávamos os dois no refeitório.
— O-oi.
O que está acontecendo comigo? Pensei que ele fosse me largar mas apenas deixou o abraço frouxo o suficiente para que eu olhasse em seus olhos, duas esmeraldas enfeitiçantes.
— Vou te beijar.
Oi? A frase dita com a voz rouca do Daniel me levou ao êxtase, o meu corpo reagiu positivamente mas a minha razão dizia "não". Ele foi aos poucos aproximando nossos lábios mas com muito esforço consegui resistir aos meus anseios carnais e dizer:
— Não.
Por mais trêmula e fraca que a palavra tenha saído da minha boca eu me senti vitoriosa. Daniel jogou a cabeça para trás claramente frustado e eu aproveitei o momento para me desvencilhar dos seus braços.
— Eu te odeio Daniel. Não tente isso novamente, as coisas mudaram muito e eu não sou alguém que você possa ter.
Saí ainda desnorteada e entrei no primeiro banheiro feminino que vi pela frente. Abri a torneira e joguei água no meu rosto repetindo, incansávelmente, a frase "larga de ser trouxa" para ver se surte efeito.
Só de lembrar que amanhã eu vou almoçar com ele. Saí do banheiro e peguei minhas coisas na sala, já está quase na hora de irmos embora. O pessoal está super animado com os jogos, afinal, serão feitas várias viagens até as escolas que irão cediar os jogos, nós não temos fase municipal, vamos direto para a estadual já que somos a única escola da cidade.
No portão, além dos animais que ficam gritando e batendo no ferro para criar tumulto há certos brutamontes que ficam empurrando as pessoas e foi um desses que me derrubou.
Na queda acabei deixando o meu celular cair e ralando os joelhos. Ninguém se importou, apenas levantei e peguei meu celular que estava quebrado.
— Quem foi o animal?
Perguntei em meio a multidão e um menino loiro, dos olhos azuis bem claros disse:
— Me desculpa, eu devo estar com sorte hoje. Esbarrei em um anjo.
Ele piscou e ajeitou a mochila que está com apenas uma das alças em seu ombro.
— Você quebrou o meu celular.
Ele reparou na tela do pobre objeto que foi vítima de suas ações e simplesmente falou:
— Quanto você quer?
Sorri maliciosamente. Ele quer pagar? Meu celular novinho na loja não custa setecentos reais, usado há mais de três anos deve ser uns duzentos.
— Eu quero sete mil reais.
Ele não se assustou, apenas pegou no meu braço e me puxou para fora da multidão, outra péssima mania dos garotos desse lugar. Abriu a mochila de forma eficaz e pegou uma caneta e um bloco de folhas com algo escrito. Depois de escrever algumas coisas em um dos papéis estendeu e disse:
— Aqui. Aproveite o troco para comprar alguma coisa linda, nos vemos por aí.
Ele piscou e foi embora.
— E-Espera.
Falei inutilmente. Como assim? Quem deixa o filho levar cheque para a escola? Não era o Mateus que era rico? Quem é esse garoto?
— BÚÚ!
Me assustei mas logo fiquei calma quando vi as medeixas ruivas da Madu.
— Você me deixou sozinha com o Daniel.
Falei chateada.
— Te deixei? Eu perguntei se podia ir e você apenas ficou em silêncio, quem cala consente. Além disso, o Felipe saiu me arrastando.
— Não naquela situação, mas enfim... Você viu o menino que estava conversando comigo agora?
Falei enquanto procurava o tal garoto.
— Menino? Não...
— Um loiro, olhos azuis, mais claros que os meus e que daria isso facilmente para alguém.
Estendi o cheque e ela arregalou os olhos.
— Benício Morais?
— Não, eu vi o Benício hoje na mesa de inscrições e ele pintou o cabelo... Está moreno.
O Benício não é da minha turma e nunca fiquei muito perto dele mas hoje eu o vi e tenho certeza que não é a pessoa que falou comigo há pouco tempo.
— Ele continua loiro e lindo como sempre. Como você não reconheceu ele? Além disso está escrito aqui no cheque: Benício Júnior Morais Saraiva.
— Oi?
Ela pegou minha mão e virou quase esfregando o papel na minha cara. Guardei com cuidado o cheque dentro da minha mochila, não é todo dia que alguém te da dez mil reais e eu não vou ser modesta e devolver.
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Valentine's Day
Novela JuvenilLei 9.610- Plágio é crime, 12/06/2018 (dia dos namorados). "Pisquei atônita por mais tempo que o charme permite e a sensação quente no meu rosto declarou que eu estava corando vergonhosamente. Mas ele riu, riu como um anjo e então percebi que r...