Capítulo 13

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Aproximadamente 120 anos atrás...

O Rei de Hybern olhava o objeto mágico que havia acabado de ressurgir à sua frente. Enfim poderia levar a cabo o plano que demorou 500 anos para ele conseguir realizar. Mas agora, com aquela fonte de poder inestimável ele teria toda Prythian e além.
- Tio, o senhor tem certeza? Ainda acho que nós poderíamos fazer isso sozinhos. - Brannagh disse.
Hybern riu baixa e friamente, e meneou a cabeça.
- Tenho certeza que sim, minha cara. Porém até o mais forte caçador tem um cão feroz para usar. Eu estou apenas obtendo o meu.
A princesa bufou e deu de ombros, se afastando.
- Tragam-me o crânio. - O rei pediu.
Um servo se aproximou com uma caixa de madeira entalhada, adornada com ouro e pedras preciosas. Com uma reverência se curvou perante seu mestre e a depositou numa mesa à sua frente.
- O gosto de Amarantha pela morbidez nunca me foi mais útil. Manter esses restos depois de quinhentos anos... - Ele balançou a cabeça, entre divertido e enojado.
Abriu a caixa e dalí de dentro tirou um crânio.
- Você sabe qual é o pior tipo de ódio que alguém pode ter? - Ele peeguntou, mas obviamente era uma pergunta retórica, então os gêmeos apenas esperaram que o tio continuasse. - O ódio que um dia já foi amor.
Disse a última palavra em tom de escárnio, enquanto carregava o crânio para perto do caldeirão.
- Eu me pergunto como Clythia se sentirá ao voltar a vida trazendo consigo a mágoa de ter sido traída e assassinada pelo homem que ela amava. - Disse então pensativamente. - Mas o que eu realmente quero saber é o qje ela estará disposta a fazer com aqueles de sua própria espécie que mataram a única criatura que a amou verdadeiramente. E que fizeram isso por causa de uma humana. Humana assim como seu traidor.
O macho começou a rir, como se tivesse acabado de ouvir a melhor das piadas. E então simplesmente jogou o crânio dentro do caldeirão. Os gêmeos deram vários passos para trás quando este começou a borbulhar e transbordar, mas o rei permaneceu onde estava, apenas observando.
Como se movido por mãos invisíveis, o objeto então começou a se inclinar, e despejou parte de seu líquido. E também despejou uma belíssima mukher nua. Seus cabelos ruivis ondulados iam até a cintura, os olhos castanhos olhavam em volta querendo entender onde estava. Até que se fixou em Hybern. Um lento sorriso então repuxou as feições dela enquanto se esforçava para ficar de pé. Sem parecer se importar com sua nudez, ela se curvou numa reverência e disse num tom rouco.
- Alteza. Obrigado por me despertar.
- É bom vê-la, Clythia. - Ele respondeu, com um sorriso frio. Então tirou a capa negra que estava usando a colocou sobre os ombros da fêmeas, que se enrolou com ela, cobrindo-se. - Você ainda é leal a mim? - Hybern perguntou então.
Novamente se curvando, Clythia respondeu.
- É claro, mestre.
O sorriso do macho se alargou e tornou-se selvagem.

Alguns dias haviam se passado desde que Clythia havia sido ressucitada. Ela agora caminhava por um longo corredor repleto de janelas, enquanto olhava lá para fora, o céu noturno sem estrelas. Parou de frente para uma das janelas e suspirou. Estava entediada. Mais do que isso: estava decepcionada. Ainda não havia concordado se lutaria nas linhas de frente do rei, e já que seu verdadeiro inimigo e sua verdadeira amiga estavam ambos mortos, também se sentia muito solitária.
O odio em seu peito queimava forte, assim como o desejo de vingança. Porém essa lhe parecia um tanto vazia. Ela queria uma verdadeira motivação. Queria se divertir, queria sangue e sofrimento. E por melhores que os planos do rei fossem, não eram seus próprios planos. Nem seus próprios meios.
Foi pensando nisso que a mais cruel das ideias surgiu em sua mente distorcida. Dirigiu-se então para o salão onde Hybern atendia seus suplicantes, prestes a dar o passo mais ousado que qualquer um poderia dar.

- Você quer que eu traga Jurian de volta. - O rei afirmou, confirmando o que acabara de ouvir. Estava com o queixo apoiado pensativamente numa mão, enquanto olhava para longe, como se estivesse imaginando o que a fêmea havia lhe pedido. Ergueu uma sobrancelha ao olhar para ela.
- E você me garante que quando chegar o momento certo você lidara com ele? - Perguntou então. Não seria nenhum problema para o governante dar cabo de ambos, mas desejava a lealdade e cooperação de Clythia. Havia percebido sua apatia, e refletido sobre o que fazer para engajá-la em sua causa. Era promissor que a própria lhe houvesse trazido a solução.
- Sim, meu senhor. E será tão gratificante vê-lo sendo usado para o justo propósito que o fez me trair. - Sua voz saiu aguda, deixando transparecer sua empolgação. Ela pousou as mãos no peito e andou meio sem rumo pelo aposento enquanto falava. - E então quando tudo pelo qual ele lutou no passado houver sido destruído por suas próprias mãos, ele saberá que é sua vez de cair perante a mim. - Jogando a cabeça para trás ela riu com gosto, e então voltou a olhar para Hybern, que a observava calado. - Eu desejo isso. Quero Jurian de volta. Então serei toda sua, para agir de acordo com sua vontade, como uma arma.
Os dois ficaram se encarando por um tempo, até que ele voltou a falar.
- E o que me garante que ele não vai enlouquecer quando vê-la e simplesmente desertar? Eu não preciso de mais um forte general contra mim.
- Ah, mas ele não me verá. - Clythian respondeu, sorrindo. E então respondeu à pergu ta muda de seu mestre. - Eu pretendo trabalhar em segredo. Ninguém saberá da minha existência. Eu não serei sua espada, ele fará isso. Eu serei o seu venêno, colocado secretamente no copo de seu inimigo, para matá-lo sem que este sequer perceba.
Hybern ergueu a sobrancelha de novo, mas um sorriso satisfeito começou a se espalhar em seu rosto. - Eu concordo. Essa noite Jurian será trazido de volta. E em troca eu tenho um bom serviço pra você.
- Tudo que o senhor quiser. - A fêmea respondeu, se curvando com um sorriso largo nos lábios.
- Como curandeira, eu sei que você sabe do que estou falando. Eu preciso de algo que deixe os inimigos incapacitados. Que seus poderes lhes faltem e que cada mero arranhão lhe seja penoso.
Clythia riu deliciada e então disse uma única palavra:
- Faebane.

Algum tempo depois...

Caminhando com um longo manto para lhe ocultar as feições, que estavam modificadas, Clythia andava pelo acampamento de Hybern, rindo de leve quando escutava os gritos de uma humana ue havia sidi capturada mais cedo.
Foi quando ouviu um som de cerâmica quebrando numa tenda ali perto e se aproximou para ver do que se tratava. Um guarda ferido saiu de lá, praguejando. Ela entrou no local e viu um macho loiro com uma beleza viril parecendo muito bêbado e infeliz, sentado numa cadeira meio torta. Fora o tapete largo no chão, um baú, uma tina e o catre largo de dormir, o aposento improvisado estava vazio.
Ela se ajoelhou em frente ao macho. Seus olhos verdes eram impressionantes. Sabia de quem se tratava. Cresceu vendo sua irmã falar sobre como havia sido prometida a ele. Ele a matara. Ele havia escolhido uma humana no lugar dela.
- Vá embora. - Ele disse numa voz pastosa. O sorriso dela cresceu.
Colocando de leve as mãos dos dois lados de seu rosto, ela o fez olhá-la, e então mudou sua aparência, tomando à da fêmea que Tamlin tanto ansiava.
O Grão Senhor da Corte Primaveril tocou seu rosto com reverência.
- Perdoe-me. Perdoe-me. - Ele balbuciou, e uniu os lábios dos dois.
Passando os braços por seu pescoço, ela o puxou para frente, e os dois praticamente rastejaram pelo chão enquanto iam para o catre.
Logo Tamlin se movia com força dentro dela, enquanto pronunciava o nome daquela que Clythia já odiava mesmo sem conhecer.
Quando sua liberaçào veio, ele rugiu alto, de olhos fechados. Olhou então para baixo e arregalou os olhos. - Amarantha! - Ele arfou, saindo de dentro dela e se afastando às pressas.
A fêmea riu.
- Sempre nos disseram que era os muito parecidas. - Ela havia voltado à sua verdadeira forma propositalmente. - Durma, Tamlin. E que a lembrança do que acabou se torne um pesadelo recorrente em todas as noites pelo resto de sua vida. - Ela riu e voltando a se ocultar, saiu da tenda, deixando para trás um Tamlin bêbado e perturbado, que dormiu achando que havia acabado de ter um pesadelo.

Corte de Gelo e Escuridão - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora