Capítulo 14

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O tempo passou e as coisas pareceram voltar à sua tranquilidade anterior. Três meses já haviam se passado desde que Roran e Bronagh haviam sido atacados, e apenas as mães dos dois continuavam realmente preocupadas. Nenhuma notícia de alarme das outras fortes foi ouvida.
Agora Velaris toda estava em festa por causa da união do primogênitos do Grão Senhor e da Grã Senhora com a princesa da Corte Invernal. Seria uma grande festa dali há duas semanas, e todos os moradores da cidade pareciam empolgados por algum aspecto do evento. Pelo que se sabia um grande banquete seria servido para todos, e os artistas apresentariam sua arte.
- Esta perfeito, meu bem. Você estará deslumbrante no seu casamento. - Viviane disse, de onde estava sentada. Sua gravidez corria bem, e a barriga já começava a arredondar. Embora estivesse longe de estar tão grande quanto a de Feyre, que havia abertamente deitado na cama de Bron para observar os ajustes no vestido de noiva.
Era prateado. Sem mangas e jusro no busto até a cintura, onde se agarrava ao quadris até a altura dos joelhos e então ia se abrindo numa calda que arrastava no chão na parte de trás. Em combinação com os olhos, cabelo e pele da jovem, faziam-na parecer a personificação da lua. Ela estava ansiosa para ver a reação de seu filho.
- Eu gosto da forma como ele se molda. - Bron comentou distraída, enquanto deslizava as mãos pela cintura bem marcada e se virava um pouco ao se olhar no espelho.
- Esta perfeito. Combina com você. - A Grã Senhora da Corte Noturna concordou.
Com um sorriso amplo a noiva acentiu para a costureira, que aguardava quieta.
Depois de se livrar do vestido e retornar às suas roupas costumeiras, a moça foi se sentar na beira da cama.
Ficou em silêncio por um momento, o que captou a atenção das duas mulheres. Estas aguardaram em silêncio até que a mais jovem dissesse o que a incomodava.
- Estou com um mau pressentimento. - Franziu a testa e olhou primeiro para a mãe e eepois para Feyre. - Eu sinto que algo de ruim esta prestes a acontecer. Mas não sei por qual motivo sinto isso, nem faço ideia do que seja, ou como impedir.
As três ficaram em silêncio. Um silêncio pesado, agourento.
Com um esforço Feyre sentou-se na cama, com ambas as mãos na barriga, como se para acalmar os bebês que estavam ali.
- Meu bem, você esta segura. Todos estamos. Não vamos deixar que nada de ruim arruíne o dia de seu casamento. - Ela disse, segurando a mão da futura nora.
- A guarda da Corte Invernal virá em peso para cá, além dos Illyrianos e a guarda de Velaris. Não tem como dar errado. - Viviane concordou.
Bronagh respirou fundo e concordou com a cabeça, embora ainda parecesse perturbada.
Bem nesse momento houve uma batida na porta e então Roran entrou, com uma Skylar sonolenta no colo.
- Esta tudo bem? Eu senti algo estranho um momento atrás... - Ele perguntou, olhando para cada uma das mulheres de cada vez.
A ligação entre os dois parecia crescer e se fortificar cada dia mais, e não se sabia se era por causa dela ou por Roran ser um deamati muito poderoso, mas agora eles passaram a ter vislumbres dos sentimentos e sensações um do outro.
- Esta sim. Só preocupada que o vestido esteja perfeito para a cerimônia. - Bronagh disse, sorrindo com leveza. Era uma mentira, tanto ela quanto seu parceiro sabiam disso. Ainda assim ele não insistiu, balançando a cabeça e com mais um olhar de preocupação carinhosa, saiu para levar irmãzinha para o quarto. Ela havia simplesmente pousado a cabeça em seu ombro e dormido ali mesmo.
- Ele sabe dessa sua preocupação? - Viviane perguntou com suavidade.
A filha limitou-se a concordar com a cabeça novamente.
Parecia que nenhuma delas tinha mais nada a dizer naquele momento.

Roran respirou fundo, inflando as bochechas e liberando lentamente o ar pela boca. A angústia que sua Bronagh sentia o estava enlouquecendo. Tinha que haver uma forma de se assegurar que tudo correria bem. Ora, os outros Grã Senhores haviam sido convidados, e a maioria deles havia confirmado a presença. Haveria guardas e encantamentos para manter todos seguros. Eles tinham que estar seguros.
- Não adianta ficar todo tenso desse jeito. As fêmeas preocupam-se. Faz parte da natureza delas. - Seu pai havia se aproximado em silêncio, e o jovem só percebeu sua presença ao ouvir suas palavras.
- Você parece Bronagh falando que fazia parte da função das mães se preocupar, quando nós eramos pequenos.
Rhys riu.
- Ela realmente disse isso?
- Sim. Foi seu argumento para me convencer a montar um urso polar junto com ela. - Roran lançou um sorriso maroto para seu pai ao dizer isso, que ergueu sua sobrancelha.
- Acho que eu gostaria de saber mais sobre isso.
- Eu acho que 'gostaria' não é o termo correto. - O filho respondeu com uma risada. E então narrou todo o evento ao Grão Senhor da Corte Noturna.
Os dois haviam se sentado no mesmo banco em que tantos anos atrás Roran e Bronagh haviam feito seu primeiro acordo.
- Diga de novo exatamente o que aconteceu quando o urso desapareceu. - Rhysand pediu, mais sério do que o jovem esperava.
- Eu havia gritado que ele se afastasse, e então uma névoa estranha surgiu onde ele estava, e depois nada. - Fez uma pausa, sem entender a expressão de deleite no rosto do mais velho. - Que foi, pai?
Este então ergueu uma mão e apontando-a para uma árvore proxima. Roran sentiu seu queixo cair quando esta, exatamente da mesma forma que o urso, se tornou névoa e depois nada.
- Fui eu. - O rapaz disse, num tom baixo e rouco, enquanto movia os olhos admirados para o pai. Este fez que sim
- Eu nunca lhe falei desse poder porque ele é bem raro. Nem todos os membros de nossanfamília nascem com ele. O meu pai tinha. Eu tenho e agora sabemos que você tem. - Rhys fez uma pausa então, escolhendo suas palavras com cuidado. Continuou então. - Isso é algo muito útil, mas terrivelmente perigoso. Eu treinarei você, para que nenhum acidente aconteça. - Ao ver seu filho concordar, ele então sorriu e colocou a mão em seu ombro, o puxando para um abraço de um braço só e lhe dando algumas palmadas nas costas. - Estou orgulhoso de você, filho. - Disse, numa voz calorosa. Roran sorriu largamente ao retribuir o abraço.

Os dias foram passando, até que a noite da véspera do casamento chegou. Velaris estava trabsbordando de atividade com todos os visitantes presentes. Comitivas das cortes Estival, Diurna e Crepuscular haviam chegado no dia anterior, e as tropas e cortesãos da Corte Invernal já estavam ali desde a semana anterior.
Clythia sorria serenamente enquanto observava a cidade de longe. A Cidade da Luz Estelar. Riu um pouquinho mais alto quando uma imagem de Velaris imersa em escuridão lhe veio à mente. Se tudo corresse de acordo com seus planos, na próxima noite a sua festa enfim começaria.
Remexeu nas mãos a longa faca de freixo entalhado, refletindo sobre todos os preparativos que havia feito. Seus espiões iriam colocar faebane nas bebidas dos Grão Senhores, e suas aliadascuidariam dos grão feericos e a ralé feerica, enquanto ela ia cumprimentar os noivos.
E lhes entregar seu presentinho especial.

O dia amanheceu ensolarado, porém Feyre estava um pouco inquieta e indispostas. Rhys colocou as mãos sobre a barriga dela, curvando-se então e lhe plantando um beijo ruidoso no local. Isso arrancou uma risada de sua parceira, que pareceu relaxar.
- Você vai acordá-los assim. - Ela brincou.
Mas Rhys negou com a cabeça.
- Eles já acordaram. Sinta. - Um sorriso bobo estava espalhado em seu lindo rosto. Feyre ficou quieta e acabou por sorrir também ao sentir os bebês se mexendo. Por serem dois, era mais dificil para ela sentir esse tipo de coisa. Já ele vivia apalpando sua barriga para 'interagir' com as crianças, como gostava de dizer.
- Quatro. Quatro filhos. - Ela disse, uma expressão de pânico um tanto quanto cômica surgiu em seu rosto, que o fez rir.
- Ah, mas o Roran nunca deu trabalho. Ele sempre foi muito tranquilo.
- Mas Skylar em comparação.
Os dois riram e balançaram a cabeça.
- Cassian disse que ela será a maior guerreira illyriana que já existiu. E Azriel esta embevecido com a habilidade de voo que ela já demonstra. - O orgulho era uma camada expessa na voz de Rhys. Feyre sorriu e correu de leve os dedos pelos cabelos preto azulados dele.
- Babe menos, papai. - Ela disse com carinho.
Ele beijou sua barriga novamente.
- Espero que eles se pareçam com você. Que tenham seu cabelo, e sua expressão. - Rhys disse, ao aproximar o rosto do dela. Mas não a beijou, apenas acariciou sua bochecha. - Espero que eles tenham sua determinação, sua força e sua bondade.
Os olhos dela ficaram marejados quando se curvou e tocou os lábios dele com os seus.
- Amo você. Esse mais de um século tem sido perfeito ao seu lado. - As palavras saíram espontaneamente, como se tivessem vontade própria. - Eu nunca imaginei que eu poderia ser tão feliz. Você e nossos filhos, tanto os que já temos quanto os que estão chegando, são tudo para mim. São minha alegria e minha razão de me levantar todas as manhãs. - Ela sorriu e afagou uma lágrima que escapara dos olhos violetas brilhantes demais de seu parceiro. - Amo você. - Repetiu.
- Isso ainda é muito pouco para todo amor e toda a felicidade que você merece. - Ele respondeu, ao abraçá-la. - Nós ainda teremos muitos e muitos séculos para nos amar e amar nossos filhos. Esses quatro e todos os outros que ainda teremos.
Ela se afastou e olhou para ele com uma sobrancelha erguida, o fazendo rir.
- Ah sim, teremos muitos bebês. Hoje é apenas o começo de uma nova fase na vida do primeiro deles. - Rhys retrucou.
Os dois riram e brincaram mais um pouco, sem se dar conta de que enquanto viviam sua pequena bolha de felicidade, Clythia acabava de atravessar a fronteira de Velaris, ultrapassando todas as barreiras que haviam sido erguidas sem ninguém perceber.
Mas sabiam eles que suas vidas estavam prestes a ser destroçadas da forma como a conheciam.

Corte de Gelo e Escuridão - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora