Capítulo 27 - Stranger

401 36 26
                                    

Anne

Infelizmente ou felizmente, não sei bem o que seria preferível, estas sensações de indiferença, de força e de fome começaram a passar.

Quanto mais eu andava afastando-me do sítio onde matara aquela mulher, mais culpada me sentia.

Os remorsos atingiam-me como facas no coração, fortes dores que me faziam ter de parar para recuperar o fôlego.

Por muito que aquela sensação de indiferença me deixasse desconfortável, isto não era melhor. Era como se a antiga Anne estivesse a tentar emergir para a superfície.

Estava a escurecer, o número de pessoas que andavam pelas ruas tinha diminuído e eu sentia-me cada vez pior. A minha visão estava turva, os meus passos já não eram certos, o meu estômago socavasse a si próprio como se quisesse saltar-me pela boca.

Eu suava por todos os lados, a noite estava fria mas aquelas dores faziam-me suores frios. Tirei o capuz, deixei o meu cabelo ser fustigado pelo vento.

Eu não conseguia mais.

Precisava de parar.

Isto estava a matar-me.

Virei à esquerda num pequeno beco e deixei-me cair pela parede abaixo ficando sentada no chão. Encostei a cabeça à parede fria da casa e deixei que esse frio me acalmasse.

Respirei fundo para tentar acalmar o meu estômago, mas de nada serviu. Subiu por mim acima um calor descomunal que me queimava a garganta e apenas tive tempo de me debruçar para a frente e vomitar tudo o que me vinha à boca.

Saía apenas sangue. Sangue quente e espesso com uma cor muito diferente de quando eu o tinha ingerido.

Limpei a boca com a bainha do meu vestido e voltei-me a recostar na parede.

Então era esta a paga que Deus me dava por matar uma pessoa inocente.

Ou talvez fosse a paga que o Diabo me dava por estar a ter remorsos por ter morto aquela mulher.

Suspirei.

Fosse como fosse alguém sempre ficava ofendido.

Dracus ia pagar por isto. Eu não estaria aqui senão tivesse sido ele. Rangi os dentes enquanto imaginava as mil e uma formas de o poder fazer pagar.

Aquele calor invadiu-me novamente cortando-me a linha de pensamentos, tossi e mais sangue saiu. Tive de me debruçar o máximo que pude para o lado e agarrei-me à parede para me agarrar.

Respirei fundo tentando acalmar-me, mas de novo fui atacada por aquela sensação. Finalmente parou e pude descansar enquanto olhava para o céu. Podia ver um pedaço dele por entre os prédios, as estrelas pequenos pontos brilhantes e distantes. Como eu desejava estar longe e distante deste lugar.

- Isso é chato p'ra caraças, não é?

Sobressaltei-me ao ouvir estas palavras. Olhei para cima e vi um homem parado a poucos passos de mim, olhando-me.

- O quê? - Inquiri. A minha voz parecia um grunhido e as palavras ao saírem arranhavam-me a garganta como se fossem venenosas.

- Isso de ser recém transformada. - Disse ele. - Toda a gente acha que ser vampiro tem apenas as suas vantagens, nunca pensam na merda que tudo isso acarreta.

A Rainha do Drácula (Imortais #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora