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- QUATRO ANOS ATRÁS -

Segui Lundist rumo ao dia. "Espere." Ele bloqueou meu tórax com seu bastão. "Não compensa andarmos às cegas. Especialmente aqui, no seu próprio castelo, onde a familiaridade esconde tanto - até mesmo quando temos olhos para enxergar."

Paramos por um momento na escada, nossas pálpebras se acostumaram à claridade do sol, deixamos o calor nos encharcar. Deixar a escuridão da sala de aula não foi uma grande surpresa. Por quatro dias, a cada sete, meus estudos me mantinham ao lado de Lundist, às vezes na sala de aula, no observatório ou na biblioteca, mas quase sempre as horas passavam como uma caça ao tesouro. Quer fossem os mecanismos de uma catapulta guardada no Salão Arnheim ou o mistério da luz dos Construtores que brilhava sem chamas no saleiro, cada parte do Castelo Alto continha uma lição que Lundist poderia desenterrar. "Escute", ele disse.

Conhecia esse jogo. Lundist defendia que um homem observador é um homem de destaque. Tal homem pode ver oportunidades enquanto os outros apenas enxergam obstáculos na superfície de cada situação.

"Escuto madeira batendo na madeira. Espadas de treinamento. Os escudeiros brincando", eu disse.

"Alguns não considerariam uma brincadeira. Mais além! Algo mais?"

"Escuto canto de pássaros. Cotovias." Lá estava ele, um fiapo prateado de som, escondido, tão doce e suave que não percebi a princípio.

"Mais além."

Fechei os olhos. O que mais? O verde lutava contra o vermelho dentro de minha cabeça. O estalido das espadas, os grunhidos, respirações ofegantes, a briga abafada entre o sapato e a pedra, a canção das cotovias. O que mais?

"Um farfalhar." No limiar de minha audição - eu estava provavelmente imaginando coisas.

"Bom", disse Lundist. "Do que se trata?"

"Não são asas. É mais profundo do que isso. Algo no vento", eu disse.

"Não venta no pátio", disse Lundist.

"Mais alto então." Eu saquei. "Uma bandeira!"

"Que bandeira? Não olhe. Apenas me diga." Lundist pressionou o bastão com mais força.

"Não é a bandeira do festival. Não é a bandeira do rei. Ela tremula no muro norte. Não é o brasão, não estamos em guerra." Não, não era o brasão. Qualquer curiosidade que havia em mim morreu ao me lembrar da compra feita pelo Conde Renar. Algo me veio à cabeça: se eles tivessem me assassinado também, o preço pelo perdão teria sido mais alto? Quem sabe um cavalo a mais?

"Então?", perguntou Lundist.

"A bandeira de execução, preto sobre escarlate", eu disse.

Sempre foi assim comigo. As respostas surgem quando paro de pensar e começo a falar. O melhor plano que consigo bolar é aquele que aparece quando entro em ação.

"Bom."

Abri meus olhos. A luz já não me incomodava mais. Bem acima do pátio, a bandeira de execução fluía sob a brisa ocidental.

"Seu pai ordenou que os calabouços fossem limpos", disse Lundist. "Uma multidão considerável estará presente no dia de São Crispim."

Eu sabia que aquilo era um eufemismo. "Enforcamentos, decapitações, empalações, meu Deus!"

Fiquei pensando se Lundist tentaria me proteger desses procedimentos. Senti o canto da minha boca repuxar, convencido de que ele jamais imaginara que eu tivesse visto tais horrores. Du-rante as execuções em massa do ano anterior, minha mãe nos fez visitar Lorde Nassar nas suas terras em Elm. William e eu tivemos o forte de Elm quase que inteiro à nossa disposição. Depois eu soube que quase toda a Ancrath convergiu para o Castelo Alto a fim de assistir aos jogos.

Prince of ThornsWhere stories live. Discover now