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Tínhamos um prisioneiro. Um dos cavaleiros de Márcios provou não estar tão morto quanto se esperava. Uma péssima notícia para ele, no fim das contas. Makin fez com que Burlow e Rike trouxessem o homem a mim, nos degraus da casa do burgomestre.

"Disse que se chama Renton. 'Sir' Renton, se você não se importa", disse Makin.

Olhei o sujeito de cima a baixo. Um belo hematoma embrulhava sua testa e um abraço repentino com a terra-mãe deixou seu nariz um tanto mais achatado do que ele gostaria. Barba e bigode podem ter sido aparados cuidadosamente, mas viraram uma bagunça só, cobertos de sangue.

"Caiu de seu cavalo, não foi, Renton?", perguntei.

"Você apunhalou o filho do Conde Renar enquanto empunhava uma bandeira branca", ele disse. Sua voz soou um tanto cômica quando ele falou "empunhava" e "filho". Um nariz quebrado faz dessas com você.

"Apunhalei sim", eu disse. "Não consigo imaginar nenhuma situação em que eu não o apunhalasse." Capturei o olhar de Renton; ele tinha pequeninos olhos vesgos.

Não deve ter sido grande coisa na corte. Na escadaria, coberto de lama e sangue, ele se parecia mais com as fezes de um rato. "Se eu fosse você estaria mais preocupado com meu próprio destino do que em saber se Marclos foi ou não apunhalado seguindo o que mandam as etiquetas sociais."

E claro que aquilo era uma mentira. Se estivesse no lugar dele eu estaria procurando uma oportunidade para enfiar uma faca em mim. Mas eu sei o suficiente para entender que a maioria dos homens não compartilha de minhas prioridades.

Como diria Makin, algo dentro de mim se rompera, mas não estava tão quebrado a ponto de eu não me lembrar do que se tratava.

"Minha família é rica, eles pagarão meu resgate", disse Renton. Falou rapidamente, nervoso, como se finalmente entendesse a situação em que se encontrava.

Eu bocejei. "Não, eles não pagarão. Se eles fossem ricos você não estaria cavalgando em cota de malha como um dos soldados de Marclos." Bocejei novamente, escancarando minha boca até que meu maxilar estalasse. "Maical, traga-me um copo da cerveja do festival, por favor."

"Maical morreu", disse Rike, atrás de Sir Renton.

"Não!", eu disse. "Maical, o Idiota? Eu pensei que Deus o havia abençoado com a mesma sorte dos bêbados e dos loucos."

"Bem, ele está praticamente morto", disse Rike. "Um dos homens de Renar o presenteou com uma bela porção de ferro oxidado nas tripas. Nós o deixamos agonizando à sombra."

"Comovente", eu disse. "Agora traga minha cerveja."

Rike rosnou e esbofeteou Jobe para que ele se encarregasse da incumbência.

Voltei a Sir Renton. Ele não parecia feliz, mas também não parecia tão triste quanto era de se esperar de um homem naquelas condições. Seus olhos seguiam procurando o padre Gomst. Aí está um homem com fé numa força superior, pensei.

"Então, Sir Renton", comecei. "O que trouxe o jovem Marclos aos protetorados de Ancrath? O que o conde acha que está fazendo por aqui?"

Alguns dos irmãos juntaram-se ao redor da escadaria para assistir ao show, mas a maioria ainda pilhava os mortos. Dinheiro é ótimo, portátil, mas os irmãos não se dariam por satisfeitos. Eu esperava ver o baú das cabeças amontoado de armas e armaduras quando partíssemos. Botas também; há três tiras de cobre num par de botas bem-feito.

Renton tossiu e limpou o nariz, espalhando coágulos negros pelo seu rosto. "Não conheço os planos do conde. Não faço parte do seu conselho particular." Levantou o olhar para o padre Gomst. "Deus é testemunha."

Prince of ThornsWhere stories live. Discover now