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— QUATRO ANOS ATRÁS —

O nubano foi rápido. O mais impressionante, no entanto, não era sua velocidade, mas a sua falta de hesitação. Ele alcançou o pulso de Berrec. Um puxão repentino fez com que o carcereiro se estatelasse sobre ele. O atiçador na mão esgarçada de Berrec perfurou Grebbin entre as costelas, fundo o suficiente para fazer Berrec soltá-lo enquanto Grebbin se contorcia.

Sem interrupções, o nubano levantou seu torso até quase ficar sentado, o mais ereto que seu pulso acorrentado lhe permitia. Berrec deslizou do peito do nubano, escorregando em suor e sangue, até o seu colo. Ele tentou se levantar. O cotovelo descendente do nubano pôs um fim à tentativa de fuga. Acertou a nuca de Berrec e os ossos rangeram.

Grebbin gritou, é claro, mas os gritos eram muito comuns nas masmorras. Ele tentou escapar, mas havia perdido seu senso de direção e acabou golpeando a porta de uma cela com força suficiente para que a ponta do atiçador atravessasse sua omoplata. O impacto o derrubou e ele não se levantou mais. Revirou-se por um momento, balbuciando algo, mas apenas baforadas de fumaça e vapor escapavam de seus lábios.

Gritos de euforia vieram das celas, cheias de ocupantes estúpidos demais para saber a hora de ficar calados.

Lundist poderia ter escapado. Ele teve tempo de sobra. Eu esperava que fosse buscar ajuda, mas ele estava logo ao meu lado na hora que Grebbin atingiu o chão. O nubano empurrou Berrec para um canto e liberou seu outro pulso. 

"Corra!", gritei a Lundist, caso a ideia ainda não lhe tivesse ocorrido.

Sim, ele estava correndo, só que na direção errada. Eu sabia que o tempo fora generoso com ele, mas não imaginava que ainda fosse tão rápido.

Mudei de lugar para colocar a mesa e o nubano entre mim e Lundist.

O nubano soltou os pinos dos dois tornozelos enquanto Lundist se aproximava.

"Leva o garoto, velhote, e se manda." Ele tinha a voz mais profunda que eu jamais ouvira.

Lundist fitou o nubano com seus olhos azuis desconcertantes. Seu manto sossegou, esquecendo-se da correria. Lundist levou as mãos ao peito, uma sobre a outra. "Se você partir agora, homem de Nuba, eu não irei impedi-lo."

Isso gerou uma gargalhada geral vinda das celas.

O nubano olhava Lundist com a mesma intensidade que eu havia visto anteriormente. Ele tinha alguns centímetros a mais do que meu tutor, mas era a diferença de volume que fazia daquele um confronto entre Davi e Golias. Enquanto Lundist era esguio como uma lança, o nubano tinha muito mais peso, sustentado por grossas placas de músculos sobre ossos pesados.

O nubano não riu de Lundist. Talvez ele enxergasse algo além do que os prisioneiros conseguiriam. "Vou levar meus irmãos comigo."

Lundist ponderou a respeito e deu um passo atrás. "Jorg, aqui." Ele continuou encarando o nubano.

"Irmãos?", perguntei. Não via nenhum outro rosto negro nas barras.

O nubano abriu um sorriso. "Uma vez, eu tive irmãos de cabana. Eles estão muito longe, talvez estejam mortos." Ele abriu seus braços, o sorriso se tornou uma meia careta enquanto ele sentia as queimaduras. "Mas os deuses me deram novos irmãos, irmãos da estrada."

"Irmãos da estrada." Eu rolei as palavras em minha língua. Uma visão de Will reluziu em minha cabeça - sangue e madeixas. Havia uma força aqui. Podia sentir.

"Mate os dois e me tire daqui." Uma porta à minha esquerda tremeu como se um touro se inquietasse atrás dela. Se o corpo combinasse com a voz haveria um ogro naquela cela.

Prince of ThornsWhere stories live. Discover now