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Os velhos corredores me envolviam e quatro anos se transformaram num sonho.

Curvas familiares, os mesmos vasos, as mesmas armaduras, as mesmas pinturas, até os mesmos guardas. Quatro anos e tudo continuava o mesmo. Menos eu.

Nos nichos, pequenas lâmpadas de prata queimavam óleo extraído de baleias de mares distantes. Caminhei de um poço de luz até o próximo, atrás de um guarda cuja armadura empobrecia a minha. Makin e Gomst foram levados a destinos diferentes e eu segui sozinho para uma recepção qualquer. O lugar ainda me fazia sentir pequeno. Portas construídas para gigantes, tetos tão altos que um homem mal poderia tocá-los com a ponta de uma lança. Nós chegamos à ala oeste, os aposentos reais. Será que meu pai me encontraria aqui? Homem a homem no arboreto? Almas desnudadas sob o domo do planetário? Eu o imaginara sentado nas garras negras do

seu trono, meditando sobre a corte, e eu me aproximando dele, passando entre os homens da guarda imperial.

Segui o guarda solitário e me senti vagamente passado para trás. Será que preferia estar cercado por homens armados? Eu teria me tornado tão perigoso assim?

A ponto de ser acorrentado? Eu queria que ele sentisse medo de mim? Tinha quatorze anos e o Rei de Ancrath amarelando atrás de seus soldados?

Eu me senti um tolo, por um momento. Rocei o punho de minha espada. Eles forjaram a lâmina com o metal das colunas do castelo. Uma herança de verdade, uma herança do Castelo Alto, pelo menos uns mil anos mais velha do que eu. Eu ansiava por um confronto. Vozes emergiram dos porões de minha mente, clamando, lutando umas com as outras. Minhas costas formigavam, os músculos se contraíram antecipando a ação.

"Um banho, Príncipe Jorg?"

Era um dos guardas. Por pouco não puxo minha espada.

"Não", eu disse. Eu fiz força para me acalmar. "Verei o rei agora."

"O Rei Olidan já se retirou, príncipe", disse o guarda. Estaria zombando de mim?

Seus olhos aparentavam uma inteligência que eu não associaria à guarda do palácio.

"Foi dormir?" Daria um ano de minha vida para retirar o tom de surpresa daquelas palavras. Eu me sentia como o capitão Coddin deve ter se sentido: o alvo de uma piada que ele ainda não compreendera.

"Sageous espera pelo senhor na biblioteca, meu príncipe", disse o homem. Ele se virou para sair, mas eu o agarrei pelo pescoço.

Dormindo? Eles estavam brincando comigo, meu pai e seu mago de estimação.

"Esse jogo", eu disse, "imagino que alguém possa achá-lo divertido, mas se você... me aborrecer... mais uma vez... eu o mato. Pense nisso. Você é um peão no jogo de outra pessoa e tudo o que vai ganhar é uma espada atravessada na barriga, a não ser que decida se redimir nos próximos vinte segundos."

Aquilo era uma derrota, recorrer a ameaças brutais num jogo de sutilezas, mas às vezes é preciso sacrificar a batalha para vencer a guerra.

"Príncipe, eu... Sageous está esperando pelo senhor..." Eu podia ver que eu transformara sua pretensa superioridade em puro horror. Eu pisara fora das regras do jogo. Apertei a garganta dele mais um pouco. "Por que eu iria querer conversar com esse... Sageous? Quem é ele?"

"E-ele representa a vontade do rei. Por favor, por favor, Príncipe Jorg."

As palavras dele passaram pelos meus dedos. Não é preciso muita força para estrangular um homem se você sabe onde agarrar.

Eu o larguei e ele caiu, ofegante. "Na biblioteca, não é? Qual o seu nome, soldado?"

"Sim, meu príncipe, na biblioteca." Ele esfregou seu pescoço. "Robart. Meu nome é Robart Hool."

Prince of ThornsWhere stories live. Discover now