Capítulo 18

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             O ar era úmido e frio e chovia fino... Uma névoa espessa praticamente cobria o chão de terra preta e molhada, Rebeca conhecia este cenário... Era o mesmo cenário que visitava quase todas as noites em seus sonhos... Mas não estava sonhando. Ou estava?

           Ela conhecia aquelas lápides, os anjos de mármore olhando piedosamente para baixo... O alto portão duplo de ferro...

         Rebeca se sentou custando para perceber que estivera dormindo em uma espécie de ninho repleto de penas pretas e macias. Sua roupa havia sido trocada e ela agora vestia um vestido longo, vermelho. E havia o cheiro... Ah o cheio pesado de terra molhada e alguma outra coisa que não era possível distinguir.

- Aí está minha rainha – disse Lucien aproximando-se com cautela. – Finalmente despertou.

- Isso é um sonho? – perguntou confusa. Sentia-se entorpecida como se sua mente estivesse se desprendendo de seu corpo.

- Claro que não é um sonho minha rainha. Isso tudo é real, e esperei por esse dia durante muito tempo...

      Ela olhou para os túmulos ao seu redor. Não era como se aquele local fosse estranho... Ela o via em seus sonhos quase todas as noites e agora sabia que era real. Mais que isso, aquele era o lugar ao qual estava destinada e se até mesmo Miguel, que nunca havia duvidado antes, acreditava nisso era neste lugar que devia estar.

- Eu estou morta? – perguntou depois de longos minutos de reflexão.

- Claro que não, não seja ridícula – Lucien riu – Está tão viva quanto antes... Pelo menos por enquanto...

- O que quer dizer? Que lugar é esse? – perguntou calmamente.

- Esse é o limbo. O lugar onde tudo começou. – explicou – O lugar das almas atormentadas que ainda não sabem que caminho seguir. Um meio termo ainda muito ligado a terra, onde os médiuns procuram seus mortos, e onde os mortos conseguem se comunicar, de onde você pode ouvir seus lamentos. – disse com um sorrisinho - Um lugar sem dono, perdido... Até que eu me tornei seu senhor. Senhor de todas as almas atormentadas e para onde vou trazer Lucifer. Juntos vamos levar as almas de volta a terra. – pausou – Mas aqui não é um lugar para vivos... Eu não estou tecnicamente morto, mas também não estou vivo então graças a um tipo de "avatar" que você me ajudou criar tenho conseguido transitar entre os dois mundos... Já você minha pequena e perfeita Rebeca, seu coração bate, seu corpo é incompatível com este lugar então ele vai definhar lentamente até que seu coração pare e neste momento ficaremos juntos para sempre. – concluiu. - Mas não importa. Esta noite teremos o eclipse, e você meu amor, vai me doar um pouco do seu sangue para que nós dois possamos nos salvar. E assim, ninguém precisa morrer. Serei seu rei, e você minha rainha! Ninguém nunca mais vai nos humilhar, magoar ou pisar. Seremos só nos dois e uma legião de súditos ao nosso redor! 

         Rebeca levou alguns segundos para absorver a informação, mas não importava, se aquele era o seu lugar não ligava de ter que morrer ou seja lá o que fosse acontecer. Ela era o próprio mal, era seu sangue que terminaria com tudo aquilo e finalmente teria paz. Não conseguia pensar, sua mente estava turva, mas as vozes haviam se calado. Sentia-se vazia, nada importava e cada segundo naquele lugar sugava sua vitalidade e a pureza de seu coração.  Lucien acariciou seus cabelos e a beijou ternamente, Rebeca não relutou. Não era capaz de reagir a nada, mas aquele toque, aquele toque era a única coisa que ainda mantinha seu coração aquecido. Sabia que o amava e isso era ainda mais assustador. 

- Tenho muitas coisas para você ver, muitas coisas que vai adorar participar. Teremos a eternidade juntos, precisamos completar o ritual. É uma questão de algumas horas para tê-la ao meu lado para sempre e assim terei triunfado contra Miguel e todos aqueles que me renegaram.

A Última Lágrima do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora