Capítulo 8

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         Rebeca se vestiu e conferiu se estava tudo certo com a mala antes de entregar para o rapaz que ia levar para o carro. O grupo da noite anterior havia chegado pela manhã e Miguel havia decidido  não esperar para almoçar com eles visto que poderiam acordar a qualquer hora, por isso naquele momento estava descendo para encontra-lo na sala de estar.

         Haviam se falado brevemente pela manhã e ele estava muito sério, o que não fazia com que ficasse especialmente animada. Durante toda a viagem Rebeca tentou em vão começar uma conversa, mas Miguel respondia vagamente parecendo muito distante até ela desistiu e concentrou-se apenas em cantarolar a música que tocava no som. O celular dele não parava de tocar, entretanto suas instruções eram sempre breves e contidas, talvez até mesmo um pouco ríspidas, apesar da educação impecável.

        Foi realmente um alívio chegar na casa em que iam ficar. Era plana e tinha uma praia particular descendo um pequeno declive e sua paixão pelo mar era a única coisa que faria aquela viagem ser mais suportável se ele continuasse a agir daquela forma. 

- O mar aqui é lindo não é? – ele disse parando ao lado dela, admirando os coqueiros e a água verde em contraste com a areia branca. Rebeca fez que sim com um movimento de cabeça sem saber como responder já que era basicamente a primeira vez que ele falava espontaneamente com ela naquele dia. - Desculpe por ontem...E por hoje – disse meio sem jeito – É que estão acontecendo umas coisas que eu não entendo... – continuou. – Com o meu corpo e com a minha cabeça. – disse finalmente olhando para ela – Não é culpa sua... – Rebeca sorriu em resposta. Não tinha muita coisa a dizer e não ia forçar a barra perguntando o que eram essas coisas mesmo porque poderia não gostar do que ia ouvir. – Eu me diverti muito ontem, de verdade. – completou.

- Que bom – ela respondeu com um certo desanimo – O mar realmente é lindo – disse e virou-se para entrar, sendo impedida pela mão dele segurando seu braço.

- Me perdoe... De verdade. – disse muito sério.

- Eu não tenho o que perdoar, você é tão atencioso e tão gentil comigo. – respondeu com um gesto vago – É que não sei o que pensar... Menos ainda o que dizer – disse cansada.

         Miguel ia dizer alguma coisa quando o celular tocou, era importante, alguma coisa sobre um acidente. Tudo então ficou repentinamente muito estranho. Os dois entraram rapidamente no carro e aceleraram pelas ruas da cidade até chegarem a um antigo sobrado onde parecia haver muita gente aglomerada em uma pequena sala, entretanto eram apenas quatro pessoas que conversavam baixinho, parecendo profundamente abatidos e preocupados, Miguel se juntou ao grupo sem cerimônias.

- O que aconteceu com ele? – perguntou com certa urgência na voz. 

- Uma flecha negra. – o mais velho respondeu. Usava uma roupa toda preta e a barba estava por fazer.

- Mas como? – insistiu – Vocês não perceberam? Ninguém viu nada? - perguntou levemente exasperado.

- Ele era real como eu e você. Não tinha forma espectral... Não sei como fizeram isso. Estávamos com o garoto, o que Enge encontrou nos Estados Unidos. Nós o protegemos, mas Rafael foi atingido...

- E porque não me avisaram antes! Precisamos da Ariel aqui, ou um outro anjo de cura – disse sem pensar muito.

- Nós já tentamos de tudo...Pensamos que conseguiríamos...Só agora percebemos...Sei que ele é o terceiro guardião, mas não acho que sua alma vá resistir ao ferimento. – disse o outro muito pesaroso.

- Onde ele está? – perguntou depois de uma pausa seguida de um suspiro profundo. 

- Lá em cima... Não vai adiantar Miguel, eles estão ficando mais poderosos... Nosso tempo está acabando.

A Última Lágrima do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora